Flórida contabiliza bilhões em prejuízos econômicos causados pelo Furacão Milton

A passagem do furacão Milton pela Flórida nas últimas semanas expôs a vulnerabilidade de comunidades costeiras e a magnitude dos desastres climáticos amplificados pelo aquecimento global. Desde que se formou no Atlântico no final de setembro, o fenômeno deixou um rastro de destruição, enchentes e vidas em risco. O governo dos Estados Unidos anunciou que, até o momento, cerca de mil pessoas foram resgatadas na Flórida, muitas em situações extremas. Um dos resgates mais comentados envolveu um homem encontrado à deriva no mar em cima de uma geladeira. Em Tampa, equipes de emergência salvaram um cachorro preso a uma cerca submersa.

A tempestade, que atingiu ventos de até 240 km/h no seu auge, causou destruição significativa em cidades como Tampa, Fort Myers e outras áreas costeiras. Milton, que inicialmente era classificado como um furacão de categoria 4, transformou-se em um ciclone pós-tropical ao se deslocar para o norte, mas manteve ventos fortes e precipitações intensas, agravando a situação.

Furacão Milton: Impacto na infraestrutura e número de vítimas

A devastação foi notória. Milhares de residências foram destruídas ou danificadas, com telhados arrancados e alagamentos generalizados. O estádio Tropicana Field, em St. Petersburg, teve seu telhado seriamente comprometido, ilustrando a força dos ventos que assolaram a região. Ron DeSantis, governador da Flórida, afirmou que a reconstrução será complexa e disse que o estado vai adotar medidas rigorosas para punir abusos, como maus-tratos a animais durante a crise.

Até o momento, o número oficial de mortos em decorrência do furacão Milton ainda não foi confirmado. No entanto, autoridades locais estimam que centenas de pessoas possam estar desaparecidas em áreas de difícil acesso, e os trabalhos de busca continuam intensos.

Este é o segundo furacão devastador a atingir os Estados Unidos em menos de um mês. O furacão Helene, que causou destruição em estados como Carolina do Norte e Virgínia, deixou mais de 230 mortos e trouxe danos inesperados em regiões que costumavam ser consideradas seguras de eventos climáticos extremos.

Mudanças climáticas e furacões: uma nova realidade

Os cientistas do clima alertam que o aquecimento dos oceanos está tornando os furacões mais fortes e mais frequentes. “O furacão Milton é um exemplo claro de como as mudanças climáticas estão amplificando a intensidade dessas tempestades”, afirmou o meteorologista Peter Bergenda, da CNN. Segundo ele, o aquecimento das águas do Atlântico proporciona mais energia para a formação de tempestades tropicais e furacões, aumentando sua destrutividade.

Relatórios do Pentágono e de instituições ambientais apontam para a crescente ameaça que eventos climáticos extremos representam para a segurança nacional dos Estados Unidos. O secretário de Defesa, Lloyd Austin, classificou a crise climática como uma ameaça existencial, reforçando a necessidade de ações coordenadas para mitigar seus impactos. Bases militares como Norfolk, na Virgínia, estão entre as mais ameaçadas pelo aumento do nível do mar, o que evidencia o risco não apenas para a população civil, mas também para a infraestrutura de defesa do país.

Furacão Milton: Prejuízos econômicos e sociais de longo prazo

O furacão Milton não causou apenas destruição física. Os impactos sociais e econômicos desse tipo de evento se estendem por décadas. Pesquisadores da Universidade de Stanford apontam que ciclones tropicais nos Estados Unidos aumentam significativamente a taxa de mortalidade a longo prazo. O estudo recente, liderado pelos professores Solomon Hsiang e Rachel Young, sugere que desastres como furacões levam a uma “cascata de efeitos”, com o deslocamento de famílias, a perda de laços sociais e o colapso de redes de suporte, o que, por sua vez, afeta a saúde pública e a economia.

“Após o furacão Maria, em 2017, por exemplo, Porto Rico enfrentou um aumento expressivo no número de mortes até três meses depois da passagem da tempestade”, destacou Hsiang. “Vemos que esses impactos se prolongam por até 15 anos após o evento inicial.”

Os prejuízos econômicos também são devastadores. Especialistas estimam que a recuperação das áreas atingidas pelo furacão Milton na Flórida pode levar mais de uma década e custar bilhões de dólares em infraestrutura, além dos efeitos indiretos que se manifestarão em setores como turismo, agricultura e indústria pesqueira.

Resiliência e planejamento contra furacões:  uma nova abordagem

Com a crescente frequência e intensidade dos furacões, as autoridades americanas têm sido pressionadas a repensar políticas de planejamento urbano e gestão de desastres. As cidades costeiras, cada vez mais suscetíveis ao aumento do nível do mar e às tempestades intensas, necessitam de adaptações urgentes.

Entre as medidas discutidas está a restrição de construções em áreas de risco e a adoção de sistemas de drenagem mais eficientes. No entanto, a questão vai além da infraestrutura. O impacto desproporcional dos furacões sobre comunidades de baixa renda e minorias étnicas tem gerado debates sobre justiça climática. Estudos mostram que negros e latinos são mais afetados por furacões do que os brancos, devido à localização de suas moradias em áreas de maior vulnerabilidade e à menor capacidade de recuperação econômica.

Para enfrentar esses desafios, analistas como Peter Bergenda defendem uma abordagem mais ampla e integrada, que considere a mudança climática como parte da agenda de segurança nacional. “As mortes provocadas por furacões, pandemias e outros desastres naturais já superam as causadas por conflitos armados. É hora de revermos nosso conceito de segurança”, afirmou Bergenda.

O furacão Milton expôs, mais uma vez, os impactos devastadores das mudanças climáticas sobre a vida americana. Com milhares de pessoas desabrigadas, resgates em andamento e uma economia combalida, a Flórida e outros estados do sudeste dos EUA enfrentam um longo e árduo processo de recuperação. Mais do que nunca, há um consenso de que a preparação para desastres climáticos e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas devem ser prioridades não só ambientais, mas também políticas e de segurança.

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