A investigação que levou ao afastamento do cargo de governador de Mauro Carlesse (PSL), pelo Superior Tribunal de Justiça, apontou que o até então chefe do Palácio Araguaia, tinha interesse em comprar terrenos no entorno da região jalapoeira com o objetivo de lavar dinheiro, adquirido proveniente de esquemas de corrupção envolvendo agentes públicos e privados. A matéria foi divulgada pelo jornal O Globo, da constelação de empresas da família Marinho.
Segundo a Polícia Federal o terreno, com 1.399 hectares (equivalente a 1.399 campos de futebol), fica no município de Mateiros, onde se encontra o Parque Estadual do Jalapão, fica a aproximadamente 300 km de Palmas. O imóvel foi adquirido em 20 de julho do ano passado por R$ 2 milhões, conforme escritura lavrada em cartório, pelo próprio governador afastado, Mauro Carlesse.
“A operação foi realizada por meio da empresa Maximuss Participações SA, na pessoa do seu diretor presidente, Erick de Oliveira Araújo, que possui renda de R$ 13.000,00 mensais e ingressou no quadro societário da empresa Maximuss Participações S/A, no mesmo dia em que Mauro Carlesse deixou de fazer parte”, diz trecho da investigação, divulgada pelo O Globo.
A PF informou após diligências feitas na região, soube que outra pessoa ligada ao governador, pai de um secretário de sua gestão, também esteve prospectando terrenos. “A informação mais relevante e que chamou a atenção dos policiais foi que todos entrevistados foram uníssonos em afirmar que Luiz de Souza Barbosa estava comprando terras a ‘rodo’ (expressão utilizada para indicar grande quantidade) naquele município e no seu entorno para o governador do estado do Tocantins, Mauro Carlesse”, observa o relatório da PF. O inquérito agora tenta rastrear que outras propriedades foram adquiridas.
Conforme ainda Polícia Federal, essa linha de apuração séria de grande importância porque Carlesse, no cargo de governador, atuou diretamente para alterar a estrutura do Parque do Jalapão e foi duramente contestado por representantes de populações tradicionais e ambientalistas. Entre outras medidas, Carlesse propôs uma lei para privatizar a gestão do parque e assinou um contrato para a construção de um aeroporto no município de São Félix do Tocantins, na região.
Defesa de Carlesse nega aquisições de terrenos
O contrato para construção do aeroporto foi assinado em 28 de julho de 2021, uma semana após a compra do terreno. A concessão da gestão do parque foi sancionada no mês seguinte. Essas ações aumentariam o valor comercial dos terrenos adquiridos na região, o que geraria lucros para o governador na hipótese de ele ter adquirido imóveis. Ao mesmo tempo em que aumentariam a degradação da área protegida.
Esses fatos foram considerados pelo ministro do STJ Mauro Campbell para determinar o afastamento de Carlesse do cargo por 180 dias. A investigação tramita sob sigilo.
A concessão já estava na mira do Ministério Público Federal no Tocantins, que propôs uma ação civil pública em agosto de 2021 para barrar o procedimento. O argumento do MPF foi de que não houve consulta prévia nem diálogo com as sete comunidades quilombolas locais.
Segundo Railane Ribeiro da Silva, presidente da Associação de Moradores da Comunidade Mumbuca, território quilombola no Jalapão, o fluxo de turistas já estava danificando as dunas. “Com a privatização, o fluxo de pessoas aqui seria dez vezes maior. Ia acabar com tudo” afirma.
A defesa de Carlesse nega irregularidades e afirma que o responsável pela compra do terreno no Jalapão foi Erick de Oliveira Araújo. Diz ainda que a concessão do parque à iniciativa privada “faz parte do plano nacional de expansão e incentivo ao turismo”, cujo planejamento e implantação eram divulgados há anos pelo BNDES e pela imprensa. Sobre a construção do aeroporto, alega que o projeto estava previsto desde 2001. O advogado Nabor Bulhões afirma que “a defesa desmontou o amontoado de especulações da PF e do MPF” contra seu cliente.
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