Descoberta do rombo bilionário e pronunciamento do trio de acionistas; entenda como surgiu um dos maiores escândalos contábeis do país

O trio de sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira precisou de 12 dias para se pronunciar pela primeira vez sobre o escândalo da Americanas (AMER3), que entrou em recuperação judicial, após a descoberta de um rombo de R$ 43 bilhões, em dívidas. 

Considerados como o trio de acionistas de referência, emitiram uma nota pública sobre o assunto, no último domingo, 22. O texto, escrito em primeira pessoa e assinado pelos três, pontua oito vezes sobre desconhecerem qualquer tipo de manobra contábil na companhia. 

“Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país”, diz trecho da nota. (Veja a nota na íntegra no final desta matéria)

Entenda 

No dia 11 deste mês, após o encerramento do pregão da Bolsa de Valores e assinado pelo presidente da empresa, Sérgio Rial, a Americanas informou que havia detectado “inconsistências contábeis” ligadas às contas de fornecedores. Essas inconsistências contábeis se referiam a um rombo de R$ 20 bilhões nas contas da Americanas, uma das maiores redes do comércio varejista do país. 

O presidente executivo da Americanas, Sérgio Rial – que estava no cargo havia cerca de 09 dias – decidiu renunciar à presidência executiva da companhia. 

Descoberta

Após sua renúncia, ele contou em  um depoimento na sua página no LinkedIn como conseguiu descobrir o rombo, que já está sendo conhecido como um dos maiores escândalos contábeis do país.

Rial explicou que, após aceitar o cargo de presidente, começou a realizar entrevistas com os executivos da varejista para descobrir quais seriam as novas perspectivas da empresa. Nelas, Rial conta que “informações e dúvidas foram compartilhadas e com o natural aprofundamento para entendê-las e dar-lhes direcionamentos conjuntamente com o novo CFO, Andre Covre, chegamos ao quadro do fato relevante com transparência e fidedignidade”, contou.

Nos últimos dias, surgiram especulações de que Rial talvez já soubesse das falhas. O que deu margem a isso foi que elas vieram à tona apenas nove dias do início da gestão do executivo.

Segundo ele e outras fontes, porém, foram conversas com diretores que já estavam na varejistas que levaram à descoberta. Também teria ajudado Rial o fato de conhecer a Americanas sob o ponto de vista de um credor. O executivo era presidente do Santander Brasil até o ano passado e ainda é presidente do conselho de administração da instituição financeira.

No post, Rial afirma que foi para a Americanas motivado por “um projeto de crescimento onde consumidor, tecnologia, marketing, entre outras competências se entrelaçavam”, enquanto a varejista enfrentava os desafios inerentes a uma empresa quase centenária. “Foi esse o meu propósito, a minha motivação ao aceitar a posição que os acionistas me confiaram: agregar minha experiência profissional e reoxigenar o legado em prol do desenvolvimento da companhia”, disse. “Portanto, com a conclusão do diagnóstico inicial, surgiu a necessidade premente de correção de rota.”

Veja a nota do trio de acionistas da Americanas na íntegra: 
 

No dia 11 de janeiro de 2023, por meio de “fato relevante”, a Americanas S.A. tornou pública a existência de significativas inconsistências em sua contabilidade. Desde então, sempre com transparência e imediatismo, vários esforços vêm sendo feitos para o correto tratamento dos desafios que hoje se colocam à empresa.

Usamos dessa mesma clareza para esclarecer de modo categórico e a bem da verdade que:

1) Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país.

2) A Americanas é uma empresa centenária e nos últimos 20 anos foi administrada por executivos considerados qualificados e de reputação ilibada.

3) Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.

4) Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto.

5) O comitê independente da companhia terá todas as condições de apurar os fatos que redundaram nas inconsistências contábeis, bem como de avaliar a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras.

6) Manifestamos mais uma vez nosso compromisso de integral transparência e de total colaboração em tudo que estiver ao nosso alcance para esclarecer todos os fatos e suas circunstâncias.

7) Lamentamos profundamente as perdas sofridas pelos investidores e credores, lembrando que, como acionistas, fomos alcançados por prejuízos.

8) Reafirmamos o nosso empenho em trabalhar pela recuperação da empresa, com a maior brevidade possível, focados em garantir um futuro promissor para a empresa, seus milhares de empregados, parceiros e investidores e em chegar a um bom entendimento com os credores.

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira

 

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