Tocantins registra aumento de 48% nos focos de queimadas

Desde o início de 2024, o Cerrado brasileiro contabilizou 10.647 focos de queimadas, um aumento de 31% em comparação ao mesmo período do ano passado. Neste contexto, o Tocantins se destaca negativamente com 2.707 focos, uma alta de 48% em relação aos 1.823 registrados entre 1º de janeiro e 17 de junho de 2023.

Os estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), responsáveis por 52,3% das queimadas detectadas no Cerrado, também apresentaram crescimento nos focos de incêndio em comparação à média dos últimos quatro anos: Maranhão (+47%, com 1.615 focos), Piauí (+43%, com 483 focos) e Bahia (+16%, com 771 focos).

Desmatamento e expansão agrícola como principais causas

Segundo Bianca Nakamato, especialista de Conservação da organização Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil), as queimadas no Matopiba estão diretamente ligadas ao desmatamento para a expansão agrícola. Nakamato explica que o uso do fogo é uma prática comum para limpar áreas desmatadas, preparando-as para o cultivo de pastagens ou soja.

A especialista alerta que o desmatamento e as queimadas contribuem para a emissão de CO2, agravando o aquecimento global, além de provocar perda de habitat, morte de animais e degradação da qualidade do solo e da água. “Essa dinâmica afeta o ciclo de chuvas, impactando tanto o bioma amazônico quanto o Cerrado. Os impactos são ambientais e sociais, afetando diretamente as comunidades locais que perdem seus territórios e um ambiente saudável”, destaca Nakamato.

Ela ressalta a necessidade de sistemas eficazes de proteção e rastreabilidade nas áreas do Matopiba. “Embora existam ferramentas para monitorar a origem de produtos de áreas desmatadas, é crucial aprimorar os controles para atender às demandas dos mercados internos e externos”, afirma.

Daniel Silva, também especialista em Conservação do WWF-Brasil, reforça a importância de fortalecer as ferramentas de proteção do Cerrado. “Sem proteção adequada, todos os brasileiros perdem. Os povos tradicionais e os agricultores que dependem de ciclos de chuva são os mais afetados, mas os grandes centros urbanos também sofrem com a irregularidade das chuvas, que impacta os reservatórios urbanos”, alerta Silva.

Recordes

Pela primeira vez nas últimas décadas, o Cerrado teve, em 2023, uma área desmatada superior à da Amazônia. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), as atividades humanas no bioma emitem hoje entre 400 milhões e 500 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera por ano.

O valor é essencialmente o mesmo de três décadas atrás, a diferença é que, nos últimos anos, a produção agrícola tem gerado mais gases de efeito estufa do que o desmatamento em si, afirmam pesquisadores.

 

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