O presidente Luis Arce celebrou o fracasso da tentativa de golpe de Estado na Bolívia com o punho erguido, mas o episódio intensificou a crise política no país, já abalado pela escassez de dólares e combustível.
Na última quinta-feira (27), a segurança em torno do palácio presidencial foi reforçada pela tropa de choque, após uma tentativa de invasão por militares e tanques na véspera. A ação foi liderada pelo ex-comandante do Exército, general Juan José Zúñiga, que ordenou o cerco à sede da Presidência.
O general Zúñiga, após ameaçar prender o ex-presidente Evo Morales caso este insistisse em concorrer à presidência em 2025, foi demitido e preso. Segundo o Ministério Público, ele pode enfrentar até 20 anos de prisão por terrorismo e insurreição armada.
Em El Alto, cidade próxima e reduto do governo, pequenos grupos de manifestantes queimaram pneus em apoio a Arce, que completará seu mandato em pouco mais de um ano. “Nunca mais El Alto permitirá que aconteça um golpe de Estado. El Alto está se mobilizando para fazer barricadas”, declarou Justino Apaza, um dos manifestantes, à imprensa.
Na quarta-feira, durante o momento de maior tensão, um tanque tentou derrubar a porta do palácio presidencial, onde Arce se reunia com seu gabinete. O presidente confrontou o general Zúñiga, ordenando que ele e suas tropas retornassem aos quartéis. Zúñiga recusou a ordem, mas deixou o local minutos depois.
Após mais de três horas de tensão, as tropas recuaram quando Arce empossou um novo comando militar. O general Zúñiga e o comandante geral da Marinha da Bolívia, vice-almirante Juan Arnez Salvador, foram presos e destituídos de seus cargos.
Motivos da tensão
A tensão política é exacerbada pela disputa entre Arce e Morales, ambos do Movimento ao Socialismo (MAS). Morales, que governou por quase 14 anos até 2019, anunciou sua candidatura para as eleições de 2025, desafiando Arce e dividindo o partido. Essa divisão enfraqueceu o controle de Arce no Congresso, onde aliados de Morales fazem acordos com a oposição.
Além da crise política, a Bolívia enfrenta dificuldades econômicas significativas. O país, que já foi um exemplo de crescimento econômico na América Latina, agora lida com escassez de dólares e combustíveis. Desde 2014, a queda na produção de gás natural, uma importante fonte de receita, levou à diminuição das reservas internacionais e ao aumento da dívida. Esse cenário resultou em bloqueios de estradas, manifestações e escassez de produtos básicos, afetando a popularidade de Arce.
O governo implementou medidas para enfrentar a crise, mas os desafios persistem. Com as eleições de 2025 se aproximando, a capacidade de Arce de resolver esses problemas será crucial para sua reeleição.
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