Rotas de Integração Nacional: Uma década de histórias de transformação

Cleusa Gonçalves da Silva casou-se aos 29 anos em sua cidade natal, Taiobeiras, Minas Gerais. Muito tímida e sem qualquer tipo de formação, resolveu apostar na carreira de costureira, mesma ocupação de sua mãe. Atualmente, aos 48 anos, tornou-se proprietária da marca de lingerie Luiza Gabriele, graças à sua força de vontade, com o apoio do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio do Programa Rotas de Integração Nacional, que completa dez anos nesta quarta-feira (24).

"Comecei a fabricar lingerie com a minha prima, trabalhei um tempo com ela, mas aí veio minha filha e já não estava mais conseguindo ser mãe e atuar na fábrica dela. Aí decidi montar minha própria marca", explica Cleusa.

A empresária é uma das 95 mulheres da AMIP – Associação Moda Íntima e Praia de Taiobeiras, que fazem parte do Polo de Modas de Taiobeiras e Região, composto pela Rota da Moda. "Fomos para um espaço onde conseguíamos morar nos fundos e trabalhar na frente. Aí eu já conseguia ser mãe e também a empresária que queria ser. O negócio foi crescendo, e hoje, já temos 15 meninas trabalhando na fábrica, com oito facções, onde elas fabricam e entregam para nós só etiquetarmos e despacharmos", afirma Cleusa Gonçalves. Cerca de 400 empregos diretos são gerados pelas pequenas fábricas da região.

Estímulo à cooperação

Criado em 2014, o Programa Rotas de Integração Nacional estimula a criação de redes de cooperação entre órgãos federais, estaduais e municipais, investidores e pequenos produtores de uma determinada atividade produtiva, denominados polos que juntos formam uma Rota.

Por meio das Rotas de Integração Nacional, o MIDR investiu, em 2023, cerca de R$ 30 milhões em 68 ações de certificação, assistência técnica, aquisição de insumos e equipamentos, e implantação de agroindústrias, entre outros, beneficiando cerca de 64 mil famílias produtoras de todas as atividades que fazem parte da iniciativa.

Atualmente, a Pasta trabalha com 13 Rotas: do Açaí; da Avicultura Caipira; da Biodiversidade; do Cacau; do Cordeiro; da Economia Circular; da Fruticultura; do Leite; da Mandioca; do Mel; Rota da Moda; do Pescado; e da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

O enfoque do programa é identificar as necessidades de cada polo trabalhado no local específico. Com isso, o Ministério trabalha com os parceiros públicos e privados no suporte à produção, ofertas de crédito, infraestrutura e inovação, formação e capacitação profissional para os pequenos produtores e comercialização dos produtos.

Por meio desse apoio do MIDR, desde o início de 2021, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF), vinculada à Pasta, investiu mais de R$ 500 mil reais na realização da FERARP Moda, coordenada pelo Polo de Taiobeiras e Região. A feira acontece no município e chega ao seu quarto ano consecutivo. “A CODEVASF é parceira do projeto ajudando no fomento da cadeia produtiva da confecção. Neste período ajudou a criar a FERARP MODA, além de promover capacitações, como Audaces, Designer de Moda e mecânico de máquinas, doação de equipamentos e máquinas para a Escola da Moda e a realização de missões técnicas”, diz o Secretário de Desenvolvimento Econômico de Taiobeiras, Kênnedy Corrêa.

Em agosto de 2023, a iniciativa foi atualizada com a proposta de dar foco na produção sustentável, inovação e na inserção de mulheres e jovens nos processos de produção. Além disso, o incentivo à criação de startups e a busca por parcerias com universidades e institutos de ensino e pesquisa, de forma a encontrar soluções mais eficientes para as necessidades de cada arranjo produtivo local.
 

Outro bom exemplo ocorre com a Rota do Mel. Desde 2019, o MIDR investiu R$ 13,7 milhões. No Ceará, foram investidos R$ 380 mil para a estruturação de unidades de extração de produtos derivados da apicultura em 20 municípios. Os recursos contemplaram a compra de equipamentos como desoperculadoras elétricas e mesas desoperculadoras, que servem para remover os opérculos que cobrem os alvéolos dos favos de mel maduros, além de centrífugas manuais e decantadores, entre outros.

Kelvin Barbosa, de Minas: peixes com melhor qualidade.

Apoio fundamental

Luís Gonzaga de Sousa Neto, apicultor residente no município de Madalena (CE), diz que o apoio do MIDR tem feito diferença para os produtores da região. “Essa parceria possibilitou a abertura de portas e gerou novas oportunidades. Aqui, nós tivemos acesso a kits de produção, a equipamentos de proteção individual e ganhamos muito conhecimento também. Porque muitos entram na apicultura, alguns por necessidade, outros por curiosidade, e muitas vezes têm essa falta de conhecimento mesmo. E a Rota do Mel veio favorecer nesse sentido, assim como o Centro de Inovações e Tecnologia do IFCE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará), que nos deu vários cursos”, afirma.

No Paraná, R$ 575 mil foram investidos em um programa-piloto de melhoramento genético, que vai atender todos os polos da Rota do Mel. Denominado Polo do Sudoeste do Paraná, o polo será implementado em março de 2024. As discussões foram feitas com as instituições e apicultores em oficina realizada em outubro na cidade de Capanema (PR), no Apiguassu.

O objetivo do projeto paranaense é ampliar discussões e estratégias que possibilitem o estabelecimento de um Programa de Melhoramento Genético Animal (PMGA) nacional duradouro e eficiente sob o ponto de vista da produção animal. Serão elaboradas metas de curto, médio e longo prazos, junto a apicultores, pesquisadores, técnicos extensionistas e autoridades governamentais, para que o Brasil possa ter um plano claro de execução para o estabelecimento do PMGA.

Um projeto-piloto, com duração média de dois anos, será realizado na região Sudoeste do Paraná, com o objetivo de modelar todo o processo de coleta de dados, treinamento de apicultores, avaliação genética, seleção dos melhores materiais, reprodução, estabelecimento do material selecionado a campo e monitoramento de resultados.

Em outubro de 2023, o MIDR apoiou a criação do Polo do Pescado das Gerais, sediado em Pirapora, Minas Gerais, abrangendo 25 municípios mineiros. Sob a coordenação geral de Neide Aparecida Santos, a criação do Polo irá ajudar a desenvolver a atividade no estado, que atualmente é o terceiro maior produtor de pescado no Brasil. “A importância da Rota é mapear a produção de Pescado em Minas Gerais, pois até o momento, não temos uma informação precisa sobre quantas pessoas, produtores, piscicultores, pescadores artesanais. Ainda não consolidamos essas informações. A Rota do Pescado pode elevar a posição de Minas Gerais na produção de pescado e, consequentemente, podemos subir no ranking”, ressalta Neide Aparecida.

Kelvin de Jesus Barbosa, 32 anos, é produtor rural em Buritizeiro, Minas Gerais. Com a abundância de peixes na região, resolveu investir na criação. “Começamos com um tanque. Vimos os peixes se desenvolvendo e construímos outro tanque. Ficamos muito entusiasmados. Em seguida, abrimos o terceiro e o quarto, ambos de boas dimensões e estrutura. Mas como não tínhamos assistência técnica nem conhecimento suficiente, não sabíamos como lidar com as variações de temperatura, chuva e frio. Sofremos grandes perdas e o que deveria ter sido algo excelente acabou se tornando uma frustração”, relembra.

Com a criação do Polo do Pescado, a situação da produção de Kelvin melhorou. “O Polo do Pescado chegou e trouxe assistência técnica. Eles me procuraram para oferecer esse suporte técnico, incentivando os pequenos produtores. Meus peixes se desenvolveram em um tempo muito melhor, com excelente qualidade, e o manejo ficou muito mais prático e fácil”, comemora o produtor.

Com o processo de formação em andamento e a busca por parcerias, o MIDR trabalha para o desenvolvimento do Polo por meio da Rota do Pescado. Para Kelvin, a expectativa é de que o programa traga melhoria na renda da população local. “Nossas expectativas são sempre elevadas. Queremos aumentar o cultivo, atrair novos colaboradores e estabelecer novas parcerias. Com as Rotas, é possível desenvolver e acreditar que um sonho pode se tornar realidade, porque acho que todos que criam peixes têm amor por isso. Nós, da região ribeirinha, desde pequenos lidamos com peixes, amamos manuseá-los, pescá-los e nos alimentar deles. Assim, isso se torna cada dia mais do que apenas um programa, mas sim uma família em desenvolvimento”, pontua.

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