Nos últimos dias, moradores de Palmas, capital do Tocantins, têm relatado uma série de problemas com a qualidade da água fornecida pela concessionária BRK. Cheiro forte, cor turva e sabor alterado tornaram-se frequentes nas torneiras, o que gerou indignação entre os consumidores e exigiu uma ação urgente do governo estadual.
O caso ganhou ainda mais repercussão com a criação de um grupo de trabalho intersecretarial por parte do governador Wanderlei Barbosa, instituído para cobrar medidas da concessionária e garantir a qualidade do abastecimento. A resposta veio após uma série de reclamações sobre as condições da água, em um cenário de estiagem prolongada que comprometeu o manancial responsável por abastecer Palmas, o Ribeirão Taquarussu Grande.
Reclamações dos moradores: cheiro, cor e sabor alterados
A crise de abastecimento de água em Palmas tem como principal motivo o impacto ambiental causado pela seca na região. A estiagem prolongada reduziu drasticamente o volume do Ribeirão Taquarussu Grande, manancial que abastece a capital, aumentando a captação de vegetação nas águas que chegam à estação de tratamento da BRK. Segundo a concessionária, a presença dessa vegetação alterou as características físicas da água, causando o odor, a turbidez e a alteração no sabor percebidos pelos consumidores.
Nas redes sociais, os moradores manifestaram preocupação e relataram desconforto ao utilizar a água para consumo doméstico. Muitos descrevem a água como “imprópria para o uso”, citando o forte odor que exala das torneiras e a cor amarelada, o que compromete não apenas o uso para beber, mas também para cozinhar e realizar tarefas diárias, como lavar roupas e louça. A situação gerou um aumento na demanda por água mineral e fez com que algumas famílias recorressem a métodos alternativos de filtragem.
A BRK, por sua vez, admitiu a situação, mas garantiu que a potabilidade da água não foi comprometida, afirmando que, apesar das alterações sensoriais, não há risco à saúde pública. No entanto, a justificativa não foi suficiente para acalmar os ânimos da população, que exige uma solução rápida e definitiva.
Ação do governo estadual e criação do grupo de trabalho pra verificar a qualidade da água
Diante das constantes reclamações e da pressão popular, o governador Wanderlei Barbosa tomou medidas imediatas, criando um grupo de trabalho intersecretarial com o objetivo de fiscalizar e cobrar soluções da BRK. A força-tarefa é composta por representantes da Agência Tocantinense de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (ATR), o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), o Procon Tocantins, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-TO) e a Diretoria de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO).
O grupo de trabalho realizou, no dia 3 de outubro, uma visita técnica à estação de tratamento da BRK para verificar de perto as condições do abastecimento e acompanhar o processo de tratamento da água. O secretário de Meio Ambiente, Marcello Lelis, afirmou que a prioridade do governo é encontrar soluções que garantam a segurança da população no consumo da água. Ele destacou que a situação do abastecimento é crítica e que a força-tarefa seguirá acompanhando de perto os trabalhos da concessionária para que medidas urgentes sejam tomadas.
Durante a visita, os técnicos do governo puderam observar todo o processo de tratamento realizado pela BRK e ouvir as justificativas da concessionária sobre a origem dos problemas. Segundo a empresa, a redução do volume de água no manancial e a captação de vegetação foram os principais fatores que provocaram as alterações na água. A concessionária assegurou que está trabalhando para minimizar os impactos e restabelecer a qualidade normal do abastecimento o quanto antes.
O papel das agências reguladoras e a atuação do Procon
Entre as entidades envolvidas no grupo de trabalho, a Agência Tocantinense de Regulação (ATR) tem papel fundamental na fiscalização e no controle da qualidade dos serviços prestados pela BRK. Segundo o presidente da ATR, Matheus Pereira Martins, a agência está comprometida com a busca por soluções para a crise hídrica em Palmas. Ele ressaltou que o abastecimento de água é uma questão prioritária e que a ATR está monitorando de perto as ações da concessionária para garantir que o serviço volte à normalidade.
O Procon Tocantins também está ativo na questão, tendo notificado a BRK sobre a qualidade inadequada da água fornecida à população. Magno da Silva, superintendente interino do Procon, afirmou que a entidade está empenhada em garantir que os direitos dos consumidores sejam respeitados, e que não hesitará em aplicar sanções à concessionária caso a situação não seja resolvida rapidamente.
Em paralelo, a 1ª Delegacia Especializada de Atendimento à Vulneráveis (DAV), responsável pela defesa dos direitos do consumidor, instaurou um procedimento para apurar possíveis denúncias de contaminação na rede de abastecimento. O objetivo é investigar se, além das alterações sensoriais, houve algum comprometimento da saúde pública devido à qualidade da água distribuída.
Impactos no cotidiano da população
Os impactos da crise de abastecimento de água em Palmas têm sido sentidos de maneira intensa no cotidiano dos moradores. Além da preocupação com a qualidade da água para consumo, muitos relataram dificuldades em manter a rotina diária devido às alterações na água. Restaurantes, bares e comércios que dependem diretamente da água tratada para suas atividades também foram prejudicados, com alguns estabelecimentos precisando suspender temporariamente o atendimento ou recorrer a fornecedores alternativos.
O aumento na demanda por água mineral gerou uma corrida aos mercados e distribuidoras da cidade, que enfrentaram dificuldades em suprir o consumo elevado. Famílias que não dispõem de recursos para adquirir água mineral estão improvisando com filtros caseiros ou recorrendo a parentes em outras regiões da cidade.
Medidas urgentes e próximos passos para a retomada da qualidade da água
A criação do grupo de trabalho e a visita técnica à BRK são os primeiros passos em busca de uma solução definitiva para os problemas enfrentados pela população de Palmas em relação à qualidade da água. As ações emergenciais tomadas pelo governo estadual visam garantir que a concessionária atenda os padrões exigidos, enquanto se busca restaurar a confiança dos consumidores. O secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Marcello Lelis, reforçou o compromisso com a segurança da população:
“Por determinação do governador Wanderlei Barbosa, estamos atuando de forma imediata e incansável. Sabemos que o problema afeta diretamente a vida da população e estamos aqui para garantir que isso seja resolvido o mais rápido possível. Seguiremos com o monitoramento constante, até que tenhamos uma solução permanente.”
Marcello Lelis destacou ainda que a BRK foi cobrada diretamente sobre as medidas necessárias para que a água retorne às condições adequadas de consumo. Segundo o secretário, o governo não medirá esforços para assegurar a qualidade no abastecimento, dada a essencialidade do serviço.
O governador Wanderlei Barbosa também enfatizou a importância de uma ação conjunta entre as esferas municipal e estadual, salientando que, embora a fiscalização seja de responsabilidade do município, o governo estadual está comprometido com a proteção dos consumidores.
“Nosso papel é garantir que a população tenha acesso a um serviço de qualidade, que é básico e essencial. Não podemos deixar que essa situação continue sem respostas e medidas concretas,” afirmou o governador.
Magno da Silva, superintendente interino do Procon Tocantins, também se pronunciou sobre a atuação da entidade na crise.
“Já notificamos a BRK sobre as falhas no fornecimento de água e estamos acompanhando de perto as respostas e ações da concessionária. A nossa prioridade é garantir que os direitos dos consumidores sejam respeitados, e não descartamos a aplicação de penalidades caso a solução não seja encontrada rapidamente,”declarou Silva.
O presidente da Agência Tocantinense de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (ATR), Matheus Pereira Martins, ressaltou que o compromisso da agência é assegurar que a água fornecida à população esteja dentro dos padrões de qualidade estabelecidos. Ele afirmou que a ATR intensificará a fiscalização e manterá diálogos constantes com a BRK para que as soluções sejam implementadas o mais rápido possível.
“Estamos trabalhando em conjunto com a concessionária, mas isso não nos exime de exigir que a situação seja resolvida rapidamente. Água potável é um direito de todos e não há espaço para falhas nesse serviço,”pontuou Martins.
A BRK, por sua vez, reconheceu os desafios enfrentados e afirmou que está realizando ajustes em seu sistema de captação e tratamento para minimizar os impactos causados pela seca prolongada e a captação de vegetação no manancial Ribeirão Taquarussu Grande. Apesar das alterações sensoriais que geraram o desconforto nos moradores, a concessionária reafirmou que a potabilidade da água não foi comprometida e que o abastecimento continuará sendo feito de forma segura. No entanto, a empresa ainda não apresentou um prazo definitivo para que a situação seja completamente normalizada.
Próximos passos
O grupo de trabalho formado pelo governo do Tocantins continuará atuando de forma integrada para acompanhar as ações da BRK e garantir que as medidas emergenciais sejam tomadas com celeridade. A força-tarefa também está discutindo a implementação de um plano de ação mais abrangente para prevenir que problemas semelhantes voltem a ocorrer, especialmente em períodos de estiagem prolongada, como o que afeta atualmente o manancial que abastece Palmas.
O secretário Marcello Lelis reforçou a importância de um planejamento contínuo e de investimentos na infraestrutura de saneamento para que a cidade esteja preparada para enfrentar crises hídricas no futuro.
“Precisamos pensar em soluções de longo prazo. A seca é um fator que está fora do nosso controle, mas a forma como gerimos nossos recursos hídricos pode e deve ser melhorada. O governo do Estado está comprometido com esse objetivo,”concluiu Lelis.
A crise hídrica em Palmas evidenciou não apenas a necessidade de melhorias no sistema de captação e tratamento de água, mas também a urgência de políticas públicas mais eficientes para garantir que os recursos naturais sejam preservados e utilizados de forma sustentável. O acompanhamento da situação pela população e pelas entidades reguladoras é fundamental para assegurar que o direito ao acesso à água de qualidade seja respeitado.
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