As Eleições Municipais de 2024 no Brasil trouxeram um cenário político marcado por transformações no comportamento do eleitorado, com destaque para a crescente influência da Geração Z e das mulheres. Estes grupos têm redefinido as estratégias adotadas pelos candidatos no 2º turno, impondo novas prioridades e valores às campanhas. Em meio à polarização política, a busca por pautas mais conectadas com questões globais, como sustentabilidade, igualdade de gênero e ética na política, passou a dominar o debate eleitoral, principalmente nas grandes cidades.
O impacto da Geração Z nas campanhas eleitorais
A Geração Z, formada por jovens nascidos entre o final dos anos 1990 e a década de 2010, tem sido apontada como uma força emergente no cenário eleitoral brasileiro. Estes jovens, com forte presença nas redes sociais e conectados às causas globais, exigem dos candidatos uma abordagem mais direta, autêntica e conectada com os desafios do século XXI. A presença desse eleitorado nas urnas é cada vez mais expressiva: de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a emissão de títulos de eleitor para jovens de 16 a 24 anos aumentou 78% em relação às últimas eleições municipais de 2020.
André Felipe Rosa, professor de Ciências Políticas do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), destaca que a Geração Z tem uma visão de mundo que difere significativamente das gerações anteriores. “Enquanto os eleitores mais velhos estão mais focados em questões de macroeconomia e segurança, os jovens da Geração Z estão mais conectados a pautas globais, como o meio ambiente, desenvolvimento sustentável e transparência política”, afirma o especialista. Esse público, segundo Rosa, busca renovação e uma ruptura com o status quo, colocando na mesa a exigência de mudanças estruturais.
Redes sociais: o campo de batalha político do século XXI
Com a expansão das redes sociais, plataformas como Instagram, TikTok e Twitter tornaram-se essenciais para a comunicação entre candidatos e eleitores jovens. As campanhas de 2024 mostram um esforço contínuo dos candidatos para se adaptarem a esse novo ambiente, utilizando memes, vídeos curtos e cortes humorísticos para conquistar a atenção desse público.
A estratégia, no entanto, vai além do mero uso das redes. Para André Felipe Rosa, a autenticidade na comunicação é essencial. “A Geração Z valoriza discursos e posturas autênticas, e os candidatos que tentam forçar uma aproximação superficial com esse público podem acabar enfrentando rejeição. O uso de memes e conteúdos virais deve estar em sintonia com os valores éticos e transparentes que esses jovens defendem”, explica o professor.
Contudo, o uso intenso das redes sociais também levanta desafios éticos e técnicos, como a criação de bolhas de opinião. Um estudo recente realizado pelo UDF aponta que mais de 75% dos jovens utilizam as redes sociais como principal fonte de informação política, o que, apesar de ser positivo no sentido de ampliar o acesso ao debate, também tende a reforçar pontos de vista já estabelecidos. O algoritmo das redes favorece conteúdos que se alinham com as preferências do usuário, limitando o acesso a opiniões divergentes e criando ambientes informacionais isolados.
Mulheres e política: demandas por mais inclusão e igualdade
Além da Geração Z, as mulheres também estão desempenhando um papel central na redefinição das campanhas eleitorais em 2024. O eleitorado feminino representa uma fatia significativa dos votos, e sua crescente participação ativa nas discussões políticas vem impulsionando os candidatos a adotarem pautas mais inclusivas e voltadas para a igualdade de gênero.
Segundo o IBGE, as mulheres representam 52% da população brasileira e, historicamente, têm se mostrado mais engajadas em pautas como educação, saúde e direitos sociais. As campanhas que ignoram essas questões tendem a perder terreno com esse público. “As mulheres, especialmente as mais jovens, estão buscando candidatos que não apenas falem sobre igualdade de gênero, mas que demonstrem, em suas ações e histórico, um compromisso real com essas causas”, pontua Rosa.
O debate sobre equidade de gênero, porém, vai além de meras promessas de campanha. Mulheres jovens, em especial, têm exigido posturas concretas sobre a ampliação de políticas públicas voltadas à educação, proteção social e combate à violência doméstica, temas que têm ressonado fortemente nas discussões políticas deste ano. Em São Paulo, por exemplo, a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), que abraça pautas progressistas, tem conquistado uma parcela significativa do eleitorado feminino, ao passo que candidaturas conservadoras lutam para ajustar suas mensagens e evitar a alienação desse público.
A ética na política e o novo eleitor
Um ponto comum entre a Geração Z e as mulheres no cenário político de 2024 é a forte exigência por ética e transparência. Esses eleitores, cansados de escândalos e corrupção, estão votando com base em um desejo de transformação real, o que desafia os candidatos a abandonarem velhas práticas políticas.
Nesse contexto, campanhas que apostam em ataques pessoais e em fake news para desestabilizar os adversários estão sendo vistas com mais desconfiança por esses eleitores. “O eleitorado jovem e feminino tem demonstrado uma forte rejeição a práticas políticas que recorrem à desinformação ou a acusações infundadas”, afirma Rosa. A busca por uma comunicação política mais ética e responsável, portanto, tem forçado os candidatos a reverem suas estratégias e a optarem por um discurso mais coerente e transparente.
Essa exigência por ética é vista não apenas nas redes sociais, mas também nas ruas, onde movimentos liderados por jovens e mulheres têm pressionado por maior responsabilidade e transparência nas gestões públicas. Durante as manifestações que antecederam as eleições, temas como a defesa do meio ambiente, o combate à corrupção e a reforma do sistema político ganharam força entre os manifestantes.
A disputa pelo 2º turno: como atrair o novo eleitorado?
Com o 2º turno das eleições municipais se aproximando, os candidatos enfrentam o desafio de conquistar o voto dessa nova configuração de eleitores, composta em grande parte por jovens e mulheres. Estratégias tradicionais, focadas apenas em debates televisivos e promessas vagas, já não têm o mesmo apelo para esse público. O uso de dados, propostas concretas e uma comunicação mais próxima e direta é visto como essencial para garantir o sucesso nas urnas.
Nas grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, a competição entre candidatos de centro-direita e de esquerda tem sido acirrada, com fragmentações políticas que abrem espaço para novos atores, como Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB). Mesmo sem vencer, Marçal está construindo um capital político significativo, especialmente entre o eleitorado jovem, ao apostar em um discurso de renovação e ética na política.
Para os especialistas, as campanhas que conseguirem se conectar de maneira autêntica com a Geração Z e as mulheres terão uma vantagem significativa no 2º turno. “Aqueles que souberem equilibrar propostas consistentes com uma comunicação eficiente nas redes sociais terão mais chances de influenciar o resultado final nas urnas”, destaca Rosa.
O futuro da política brasileira
As mudanças observadas nas campanhas eleitorais de 2024 indicam uma tendência de longo prazo. A Geração Z e as mulheres, com suas pautas progressistas e demandas por mais inclusão, ética e transparência, estão moldando o futuro da política brasileira. A participação crescente desses grupos no processo eleitoral sugere que as eleições futuras continuarão a ser influenciadas por essa nova realidade.
Como conclui André Felipe Rosa, “os políticos que desejam ser bem-sucedidos no cenário atual e nos próximos anos precisam estar atentos às transformações no comportamento eleitoral. A capacidade de adaptação às novas demandas será crucial para a sobrevivência e relevância das candidaturas”. O Brasil está passando por uma renovação política, e a Geração Z e as mulheres são protagonistas nesse processo.
Relacionado
Link para compartilhar: