O descarte irregular de lixo é um dos principais problemas enfrentados por cidades brasileiras, e Colinas do Tocantins, no norte do estado, não é exceção. Apesar de contar com uma estrutura robusta de coleta de resíduos, a cidade enfrenta dificuldades relacionadas à falta de conscientização ambiental e ao aumento do volume de lixo em períodos chuvosos, problemas que impactam diretamente a saúde pública e o meio ambiente local. A questão evidencia um dilema nacional: como equilibrar infraestrutura adequada com uma cultura de responsabilidade cidadã?
Descarte irregular em Colinas ainda é um problema recorrente
Em áreas como o Setor Real, a presença de lixo descartado em terrenos baldios e áreas urbanas revela a complexidade do desafio. O diretor de limpeza urbana de Colinas, Cleiton Ribeiro, destacou que, mesmo com equipes trabalhando em turnos diários e um sistema de coleta estruturado, o descarte inadequado compromete a eficiência dos serviços. “Muitas vezes, moradores descartam lixo em locais indevidos, como lotes baldios. Isso não apenas dificulta o trabalho de limpeza, mas também prejudica a saúde pública, atraindo animais e acumulando água parada, um potencial criadouro de mosquitos”, afirmou.
O problema não é exclusivo de Colinas. Em todo o Brasil, o descarte irregular de resíduos sólidos é responsável por impactos que vão desde o entupimento de sistemas de drenagem urbana até a poluição de rios e mananciais. Estudos do IBGE mostram que, em 2020, apenas 60% dos municípios brasileiros destinavam seus resíduos a aterros sanitários adequados, enquanto o restante utilizava lixões ou métodos irregulares de descarte.
Períodos chuvosos e o peso do lixo orgânico
Com a chegada do período chuvoso, o volume de resíduos em Colinas aumenta significativamente, principalmente devido ao descarte de frutas e outros materiais orgânicos provenientes de árvores frutíferas nas residências. Segundo Ribeiro, esse aumento de peso dificulta o transporte, especialmente quando os moradores não utilizam recipientes adequados. “O lixo orgânico, como mangas e buriti, pesa muito mais nessa época. Pedimos que os moradores acondicionem esses resíduos em recipientes menores para facilitar o trabalho dos coletores e evitar que o lixo fique acumulado nas ruas”, explicou.
Além disso, o descarte de resíduos volumosos, como móveis e galhadas, é outro problema que demanda soluções específicas. Para atender a essa demanda, Colinas conta com uma equipe dedicada exclusivamente ao recolhimento desse tipo de material. No entanto, o esforço esbarra em uma comunicação insuficiente entre os moradores e os serviços públicos, resultando em acúmulos frequentes nas vias urbanas.
Impactos ambientais e culturais do descarte irregular
A má gestão do lixo urbano não afeta apenas a estética e a funcionalidade das cidades, mas também representa uma ameaça direta ao meio ambiente. Em Colinas, como em tantas outras cidades brasileiras, o descarte em áreas impróprias pode levar à contaminação do solo e de lençóis freáticos. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mais de 20 milhões de toneladas de lixo urbano por ano não recebem tratamento adequado no Brasil.
Para a ambientalista Maria Luísa Freitas, a solução para o problema vai além da infraestrutura e depende de uma mudança cultural. “Não adianta investir em caminhões novos e aterros sanitários modernos se a população não entender o papel dela nesse processo. A educação ambiental deve ser uma prioridade, principalmente em cidades menores, onde a interação entre comunidade e serviços públicos é mais direta”, afirmou.
Em Colinas, a solução começa pela conscientização
Embora o governo local tenha intensificado os esforços para limpar a cidade e manter um cronograma rigoroso de coleta, a conscientização ambiental ainda é o maior desafio. Campanhas educativas, como a instalação de placas de “Proibido Jogar Lixo” em áreas críticas, são medidas paliativas, mas ainda insuficientes. “É um trabalho conjunto. Precisamos que a população acondicione o lixo de forma correta e denuncie práticas de descarte irregular”, ressaltou Ribeiro.
A situação de Colinas é um reflexo da realidade nacional, onde, segundo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apenas 3% dos resíduos gerados são reciclados, enquanto o restante é descartado de forma inadequada. A implementação de políticas públicas que incentivem a coleta seletiva e a compostagem poderia transformar esse cenário, mas exige investimento e engajamento contínuo.
Educação e fiscalização como pilares da mudança
Especialistas apontam que a solução para o problema do lixo urbano depende de dois pilares fundamentais: educação ambiental e fiscalização rigorosa. Em Colinas, a fiscalização é limitada, com poucos recursos para monitorar práticas irregulares. No entanto, ações como a identificação de proprietários de lotes baldios e a aplicação de multas podem ajudar a coibir o descarte inadequado.
“É fundamental combinar campanhas educativas com penalidades para quem insiste em descartar lixo de forma irregular. Apenas assim será possível criar uma cultura de responsabilidade coletiva”, explicou o advogado e especialista em direito ambiental João Paulo Araújo.
O papel de Colinas na construção de um modelo sustentável
Apesar dos desafios, Colinas tem a oportunidade de se tornar um exemplo de gestão sustentável de resíduos sólidos no Tocantins. Com investimentos em infraestrutura, como os caminhões de coleta recentemente adquiridos, e iniciativas voltadas para a conscientização, a cidade pode reduzir os impactos ambientais e melhorar a qualidade de vida da população.
“Nosso objetivo é transformar Colinas em uma cidade mais limpa e organizada, mas isso só será possível com a colaboração de todos”, concluiu Ribeiro.
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