Com visual deslumbrante, mas roteiro raso, Feios entrega uma crítica superficial à obsessão pela aparência e desperdiça o potencial de sua premissa distópica.
Baseado na série de livros de Scott Westerfeld, Feios (Uglies, no original) tenta transportar para as telas um mundo distópico onde, aos 16 anos, todos são submetidos a cirurgias estéticas obrigatórias para se encaixar em um padrão de beleza idealizado. A protagonista, Tally Youngblood, inicialmente ansiosa para se submeter ao procedimento e ingressar no mundo dos “Perfeitos”, descobre um lado sombrio dessa prática ao conhecer um grupo de rebeldes que questionam o sistema.
A premissa, carregada de críticas sociais e éticas sobre a valorização da estética em detrimento da individualidade, é intrigante. No entanto, ao passar das páginas para as telas, a profundidade da discussão parece se perder em um roteiro que prioriza mais o visual do que o conteúdo.
Produção e elenco: um brilho estético que não salva o enredo
Visualmente, o filme não decepciona. A direção de arte faz um bom trabalho em diferenciar o mundo dos “Feios”, caracterizado por tons neutros e urbanos, e a sociedade dos “Perfeitos”, vibrante e tecnológica. Os efeitos visuais reforçam a disparidade entre os dois mundos e ajudam a transmitir a magnitude da transformação estética.
No entanto, o brilho visual não se estende ao elenco. Apesar de esforços da protagonista (interpretada por um jovem talento promissor), as atuações são muitas vezes engessadas, prejudicadas por diálogos expositivos e um desenvolvimento raso de personagens secundários. A química entre os personagens também deixa a desejar, tornando difícil se conectar emocionalmente com a trama.
Enredo: de promissor a previsível
O maior problema de Feios é a forma como sua narrativa se desenrola. A adaptação parece querer abordar muitos tópicos — críticas à obsessão pela aparência, desigualdade social, controle estatal — mas acaba tocando cada um de maneira superficial.
A construção do mundo distópico é promissora no início, mas falta profundidade no desenrolar da história. A motivação do governo para impor a cirurgia obrigatória é pouco explorada, assim como o funcionamento da resistência, que poderia ser uma parte fascinante da trama. Quando o clímax chega, ele carece de peso emocional, e o final deixa a sensação de que muito foi prometido, mas pouco entregue.
A crítica social: um potencial não realizado
O filme tenta abordar questões contemporâneas, como a pressão por padrões estéticos inatingíveis e o impacto psicológico dessa obsessão. No entanto, a crítica social se torna diluída em meio a cenas de ação genéricas e diálogos que muitas vezes parecem subestimar a inteligência do público.
Ao contrário de obras distópicas bem-sucedidas, como Jogos Vorazes ou 1984, que conseguem equilibrar entretenimento e reflexão, Feios entrega uma abordagem quase superficial dos temas que poderiam ser seu ponto forte.
Direção e roteiro: escolhas que comprometem
A direção, apesar de eficiente nas cenas de ação, falha em criar momentos de impacto emocional. O roteiro, por sua vez, parece mais interessado em seguir fórmulas de sucesso do gênero do que em explorar a essência da obra original. Isso é particularmente frustrante para os fãs dos livros, que esperavam uma adaptação mais fiel e impactante.
Pontos positivos: estética e potencial da ideia
Apesar dos problemas, Feios tem seus méritos. A ideia central continua relevante, especialmente em uma era onde redes sociais e filtros digitais perpetuam a obsessão pela perfeição estética. Além disso, os visuais atraentes e algumas sequências de ação bem coreografadas podem agradar ao público mais jovem e menos exigente.
Veredito: uma oportunidade perdida
Feios tinha potencial para ser uma adaptação memorável, mas acaba sendo uma produção genérica que não faz jus à profundidade do material original. Apesar de um visual impressionante e uma premissa intrigante, o filme falha em entregar a carga emocional e a crítica social que o tornariam marcante.
Nota: 2,5/5 estrelas
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