As investigações envolvendo o ex-governador do Tocantins, Mauro Carlesse (Agir), revelaram um esquema complexo de corrupção com articulações que iam além das fronteiras do estado. Segundo informações do Portal Metrópoles, a Operação Overclean, conduzida pela Polícia Federal e o Ministério Público Estadual (MPTO), detalhou como fraudes em licitações, desvios de recursos públicos e pagamento de propinas sustentaram um esquema criminoso operante em estados como Goiás, Tocantins, Bahia, Rio de Janeiro e Amapá.
Estrutura criminosa organizada
A organização criminosa era composta por três núcleos principais, que desempenhavam papéis complementares para manter o esquema em funcionamento:
Núcleo Central: o comando estratégico
O Núcleo Central era liderado por Alex Rezende Parente, principal articulador e financiador do esquema. Com apoio de Fábio Rezende Parente, executor financeiro, e outros aliados, o núcleo gerenciava as operações estratégicas, coordenando o pagamento de propinas e manipulando contratos públicos. Outros integrantes de destaque incluem:
- José Marcos de Moura (“Rei do Lixo”), que usava sua influência política para garantir contratos fraudulentos.
- Lucas Maciel Lobão Vieira, que gerenciava contratos da empresa Allpha Pavimentações, uma das beneficiadas pelo esquema.
Núcleo de Apoio: a engrenagem logística
O Núcleo de Apoio dava suporte logístico e operacional à organização criminosa. Entre os envolvidos estavam:
- Evandro Baldino do Nascimento, responsável por ações que fortaleciam a estrutura do grupo.
- Fábio Netto do Espírito Santo, que controlava empresas de fachada para movimentar recursos ilícitos.
- Clebson Cruz de Oliveira, que manipulava documentos e liderava fraudes em licitações.
- Geraldo Guedes de Santana Filho, encarregado de contabilidade e tratativas com agentes públicos.
Esse núcleo foi essencial para garantir o fluxo de dinheiro desviado e dificultar a identificação pelos órgãos fiscalizadores.
Núcleo Operacional: os executores regionais
O Núcleo Operacional atuava em diferentes estados e municípios, executando contratos fraudulentos e cooptando servidores públicos. Entre os operadores regionais identificados estavam:
- Claudinei Aparecido Quaresmin, sobrinho de Carlesse, que auxiliava na emissão de documentos falsos para o ex-governador.
- João Luiz Martins Machado Neto e Itallo Moreira de Almeida, envolvidos diretamente na manipulação de licitações e contratos.
Esses operadores desempenhavam funções de gerenciar contratos locais, garantir pagamentos ilícitos e assegurar a continuidade das atividades do esquema.
Práticas ilícitas detalhadas
A investigação revelou as principais características do esquema criminoso:
- Fraudes em licitações: Manipulação de editais para favorecer empresas específicas, como a Allpha Pavimentações.
- Desvios de recursos públicos: Contratos superfaturados e serviços não prestados permitiram o redirecionamento de recursos para interesses privados.
- Pagamento de propinas: Valores eram entregues a agentes públicos diretamente ou por meio de empresas fantasmas.
- Lavagem de dinheiro: Empresas de fachada e contas bancárias de terceiros eram usadas para ocultar a origem ilícita dos valores desviados.
- Atuação em múltiplos estados: Operadores regionais asseguravam a continuidade do esquema em diferentes localidades.
O caso Amon: roubo de propinas expõe fragilidade interna
Um episódio inusitado na Operação Overclean envolveu Amon, motorista de Alex Parente, que era encarregado de transportar dinheiro em espécie para pagamento de propinas. Em setembro de 2024, Amon desapareceu com R$ 30 mil, supostamente retirados do veículo enquanto alegava calibrar os pneus. Imagens de câmeras de segurança desmentiram sua versão e confirmaram o desvio.
Diálogos interceptados entre Alex e outro membro do esquema detalham as suspeitas sobre Amon:
- Alex: “Ele estava mexendo na mala com uma chave de fenda. Fiquei cismado, mas segui o jogo.”
- Bolo: “Roubou e ainda nega. Que doideira!”
Prisão de Mauro Carlesse e novos desdobramentos
O ex-governador Mauro Carlesse foi preso em 15 de dezembro de 2024, enquanto se dirigia a uma fazenda em São Valério, Tocantins. Segundo as investigações, ele planejava fugir do país utilizando um passaporte italiano e uma identidade uruguaia, obtidos com a ajuda de seu sobrinho Claudinei Quaresmin. Durante sua prisão, pelo menos sete pedidos de habeas corpus foram negados pela Justiça.
A defesa de Carlesse alega que a prisão é ilegal, argumentando que não havia risco de fuga. No entanto, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) afirma que os documentos falsos reforçam a intenção de evasão.
Informações adicionais
De acordo com matéria especial divulgada pelo Portal Metrópoles, o esquema contou com uma logística bem definida para movimentar recursos ilícitos. Motoristas como Amon desempenhavam papéis fundamentais, transportando dinheiro em espécie entre estados, garantindo o pagamento de propinas e a sustentação do esquema.
A Operação Overclean segue como um marco no combate à corrupção, revelando não apenas a complexidade do esquema liderado por Mauro Carlesse, mas também as fragilidades internas que expuseram os envolvidos.
Veja os infográficos divulgados pelo Portal Metropoles:
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