O Dia em que o Mundo Viu o Horror…. assim podemos chamar o dia 27 de janeiro de 1945, quando o Exército Vermelho soviético entrou no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia ocupada, libertando os últimos 7.000 sobreviventes que ainda estavam presos ali.
O local, que se tornou o maior símbolo do Holocausto, foi o epicentro de um dos maiores crimes da humanidade, onde mais de 1,1 milhão de pessoas foram brutalmente assassinadas, a maioria delas judeus. A cena encontrada pelos soldados soviéticos era de corpos empilhados, prisioneiros esqueléticos à beira da morte e um silêncio aterrador que marcaria para sempre a história mundial.
“Os soldados soviéticos, ao cruzarem os portões de Auschwitz, não estavam preparados para o que viram. Havia pilhas de cadáveres, crianças sem forças para chorar e adultos que pareciam sombras de si mesmos. Esse foi o dia em que o mundo viu o verdadeiro significado do Holocausto”, descreve Ian Kershaw, historiador britânico especializado na Segunda Guerra Mundial e no regime nazista.
Desde então, a data foi instituída pela ONU como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, um marco para lembrar os horrores cometidos pelo regime nazista e reforçar o compromisso da humanidade com o “nunca mais”.
O Perigo do Esquecimento e o Crescimento do Antissemitismo
Apesar dos esforços de preservação da memória, especialistas alertam para os riscos do esquecimento e do revisionismo histórico. Relatos sobre o aumento do antissemitismo e da negação do Holocausto têm se tornado frequentes em diversas partes do mundo.
“A cada ano que passa, há menos sobreviventes para contar suas histórias. O perigo é que, sem suas vozes, a negação do Holocausto e a disseminação de discursos de ódio ganhem espaço. A negação da história é uma forma moderna de antisemitismo e uma ameaça real à democracia”, alerta Deborah Lipstadt, historiadora e representante especial dos EUA para Monitoramento e Combate ao Antissemitismo.
De fato, de acordo com um estudo recente do Claims Conference, organização internacional dedicada à memória do Holocausto, 59% dos jovens adultos entrevistados nos EUA desconhecem o número exato de judeus mortos pelos nazistas, e cerca de 23% acreditam que o Holocausto é um mito ou foi exagerado.
Esses números reforçam a importância da educação e da preservação da memória de Auschwitz, um local que hoje recebe cerca de 2 milhões de visitantes por ano, mas que enfrenta desafios na conservação de suas instalações devido ao tempo e ao desgaste natural.
Auschwitz Hoje: Reflexões de Sobreviventes
Auschwitz-Birkenau foi transformado em um museu e memorial para lembrar os horrores do Holocausto. No entanto, os sobreviventes alertam que, para além da preservação física do local, é fundamental manter viva a consciência sobre os perigos do extremismo e da intolerância.
Roman Kent, sobrevivente do Holocausto e ativista pela memória da Shoá, já declarou em cerimônias passadas que a luta não terminou:
“Somos os últimos sobreviventes que ainda podem testemunhar. Mas quando nos formos, quem contará a verdade? A responsabilidade será da próxima geração. Se Auschwitz nos ensina algo, é que não devemos permanecer em silêncio diante do ódio e da injustiça.”
Essa preocupação é compartilhada por Marian Turski, outro sobrevivente de Auschwitz, que recentemente, em uma cerimônia no local, fez um alerta contundente:
“Auschwitz não caiu do céu. O Holocausto foi um processo. Primeiro, excluíram os judeus da sociedade. Depois, tiraram seus direitos. Mais tarde, seus bens. E então, suas vidas. Devemos estar atentos aos sinais da intolerância, pois os genocídios começam muito antes das câmaras de gás.”
O alerta de Turski ressoa com a realidade atual. Em tempos de polarização política, discursos de ódio e ascensão de grupos extremistas, a memória do Holocausto torna-se uma ferramenta fundamental para impedir que tragédias semelhantes aconteçam novamente.
O Compromisso com a Memória
Neste 80º aniversário da libertação de Auschwitz, diversas lideranças globais, historiadores e organizações reforçam a importância de lembrar as vítimas e de educar as futuras gerações sobre os horrores do nazismo.
Para Yehuda Bauer, um dos maiores estudiosos do Holocausto e assessor da Yad Vashem, o museu oficial da Shoá em Israel, Auschwitz deve ser lembrado como um alerta permanente:
“O Holocausto foi uma tragédia única, mas a capacidade humana de cometer genocídios não desapareceu. Se não aprendermos as lições do passado, o futuro estará em risco.”
Por isso, eventos como o Encontro Internacional de Sobreviventes em Auschwitz, realizado anualmente, são essenciais para garantir que essa memória continue viva. Durante a cerimônia deste ano, líderes de vários países prestaram homenagens e reforçaram compromissos com o combate ao extremismo e à intolerância.
Auschwitz não é apenas um símbolo do Holocausto, mas também um alerta contra os perigos do ódio, da intolerância e da indiferença. O mundo ainda enfrenta desafios com o crescimento do antissemitismo, da negação do Holocausto e do revisionismo histórico, tornando mais urgente do que nunca o compromisso com a educação e a memória.”Se Auschwitz nos ensina algo”, conclui Marian Turski, “é que a indiferença mata. Se não agirmos quando o ódio surge, permitimos que o pior aconteça novamente.”
Que esta data sirva não apenas para lembrar as vítimas, mas para reafirmar o compromisso com a justiça, a tolerância e a dignidade humana.
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