As relações entre Estados Unidos e Canadá entraram em um novo período de tensão após o presidente Donald Trump voltar a sugerir a anexação do território canadense aos EUA. Em um discurso durante um comício na Flórida, Trump declarou que “o Canadá faz parte da América de qualquer maneira” e que uma integração econômica e política entre os países seria “inevitável”.
A declaração rapidamente se espalhou pelas redes sociais e gerou reações imediatas do governo canadense. O primeiro-ministro Justin Trudeau afirmou que a soberania do Canadá “não está em discussão e jamais será negociada”, enquanto a ministra das Relações Exteriores, Mélanie Joly, classificou a fala de Trump como “uma afronta ao direito internacional”.
Essa não é a primeira vez que Trump faz declarações desse tipo. Em seu primeiro mandato, ele já havia ironizado a relação entre os dois países e sugerido que o Canadá deveria “agradecer” pelos acordos comerciais favoráveis que tem com os EUA. Agora, no entanto, a fala ocorre em um momento delicado, com negociações comerciais em andamento e novas tarifas americanas sobre produtos canadenses entrando em vigor.
Especialistas alertam para impactos diplomáticos e comerciais entre EUA e Canadá
Para analistas, as declarações de Trump não são apenas retórica política, mas podem impactar diretamente a relação bilateral entre os dois países. O especialista em Relações Internacionais Robert Thompson, da Universidade de Columbia, explica que a fala do presidente norte-americano pode desgastar a confiança do Canadá nos Estados Unidos como parceiro estratégico.
“Trump utiliza uma abordagem provocativa para desestabilizar adversários e até aliados. Essa estratégia pode afastar o Canadá e incentivar o país a buscar parcerias mais sólidas com a União Europeia e a China, minando a influência dos EUA na América do Norte.”
Já a economista Emily Carter, da Universidade de Toronto, aponta que a crise diplomática pode ter consequências no comércio bilateral, afetando empresas dos dois países.
“O Canadá depende dos Estados Unidos para escoar grande parte de sua produção agrícola e industrial. No entanto, declarações como essa aumentam a incerteza política e podem levar o governo canadense a diversificar suas parcerias comerciais.”
A tensão também pode prejudicar acordos econômicos já firmados, como o USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá), que substituiu o antigo NAFTA. A advogada especialista em comércio internacional Laura Gómez, do Instituto de Direito Global, explica que, se o Canadá se sentir ameaçado politicamente, pode endurecer sua posição nas negociações comerciais e criar barreiras tarifárias contra produtos norte-americanos.
“O Canadá tem o direito de retaliar comercialmente caso entenda que há hostilidade por parte dos EUA. O problema é que isso pode desencadear uma guerra comercial e prejudicar as economias dos dois países.”
O cientista político Michael Green, da Universidade de Harvard, ressalta que as falas de Trump também podem ter um efeito interno no Canadá, fortalecendo o nacionalismo e aumentando a rejeição à influência dos Estados Unidos.
“Ao invés de enfraquecer o governo canadense, Trump pode acabar fortalecendo lideranças que defendem uma política externa mais independente e menos alinhada aos EUA.”
Governo canadense responde com medidas comerciais
Em resposta às declarações de Trump, o governo canadense anunciou um pacote de tarifas retaliatórias contra produtos norte-americanos, incluindo aço, alumínio e bens de consumo. As tarifas devem entrar em vigor nos próximos dias, elevando as tensões comerciais entre os países.
Justin Trudeau foi categórico ao afirmar que o Canadá “não aceitará intimidações de nenhum governo” e que “a soberania nacional será defendida com todas as ferramentas possíveis”.
“Os canadenses não pediram para serem parte dos Estados Unidos, e não serão. O Canadá é um país independente e continuará assim.”
A medida recebeu apoio de parlamentares de diferentes espectros políticos no Canadá, que defenderam uma postura firme contra as declarações de Trump. Além disso, manifestações contrárias à anexação foram registradas em cidades como Toronto, Vancouver e Montreal, com cidadãos carregando cartazes com mensagens como “Nosso país, nossas regras” e “Não ao imperialismo americano”.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, as declarações de Trump dividiram opiniões. Aliados do presidente afirmam que a ideia de integração entre os dois países faz sentido economicamente, enquanto opositores classificam as falas como irresponsáveis e prejudiciais à diplomacia norte-americana.
EUA podem enfrentar resistência internacional por conta de problemas com Canadá
O discurso de Trump também repercutiu na comunidade internacional. A União Europeia e a ONU se manifestaram em apoio ao Canadá, reforçando que qualquer tentativa de anexação “violaria os princípios do direito internacional e da autodeterminação dos povos”.
A China e a Rússia também se posicionaram, alertando que o expansionismo norte-americano pode gerar instabilidade global. Em nota, o governo russo afirmou que “respeita a soberania canadense e se opõe a qualquer tentativa de violação territorial”.
No entanto, especialistas afirmam que, apesar da retórica agressiva, Trump não tem meios políticos ou legais para anexar o Canadá sem consentimento do país. A medida seria inconstitucional e enfrentaria forte resistência dentro do próprio governo norte-americano.
O próximo passo será observar se o presidente dos EUA continuará com esse discurso ou se recuará diante da pressão diplomática e econômica. Por enquanto, as relações entre os dois países seguem abaladas, e o impacto dessa nova crise ainda está por vir.
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