Variação no preço do alho assusta consumidores e levanta alerta sobre inflação nos hortifrútis
O preço do alho tem sido motivo de preocupação para os consumidores tocantinenses. Nas últimas semanas, o produto apresentou uma grande variação de preços, sendo encontrado entre R$ 19,00 e R$ 35,00 o quilo no mercado atacadista. Essa alta reflete diretamente nas prateleiras dos supermercados e feiras livres de Palmas e demais cidades do estado, afetando o orçamento das famílias e pressionando os comerciantes.
A oscilação nos valores do alho tem sido influenciada por fatores como clima desfavorável, custos de importação e logística. Enquanto estados do Sul, como Santa Catarina, registram preços médios de R$ 19,00/kg, em Tocantins, a realidade é diferente. A escassez de oferta aliada ao encarecimento do transporte tem feito os valores dispararem.
Dona de casa muda hábitos para driblar aumento
“Ou compramos alho ou levamos carne”, diz consumidora
Nas feiras e mercados de Palmas, a alta do alho já afeta diretamente os hábitos de compra dos consumidores. Marlene Souza, dona de casa e mãe de três filhos, conta que precisou reduzir a quantidade do produto nas compras do mês e buscar alternativas mais baratas.
“Antes, eu comprava um quilo de alho por mês para cozinhar, agora, levo no máximo 300 gramas e vou economizando. Para temperar, uso mais cebola, cheiro-verde e outros condimentos. Do jeito que está, ou compramos alho ou levamos carne. Está tudo muito caro”, relata Marlene.
Essa realidade não é exclusiva dela. Segundo comerciantes do Mercado Municipal de Palmas, muitos clientes estão comprando dentes de alho avulsos ao invés da cabeça inteira, prática que antes era incomum.
“O cliente que antes levava uma bandeja de alho agora pede dois ou três dentes. A gente nunca viu isso acontecer nessa proporção”, afirma Carlos Oliveira, feirante há mais de 15 anos na capital tocantinense.
Por que o preço do alho disparou no Tocantins?
Especialistas apontam fatores climáticos, importação e transporte como causas principais
O economista Paulo Henrique Almeida, especialista em mercado agrícola, explica que a alta do alho no Tocantins não é um fenômeno isolado, mas sim o reflexo de vários fatores econômicos e produtivos.
“O Brasil importa cerca de 60% do alho consumido no país, principalmente da China e da Argentina. Com a valorização do dólar e os custos logísticos mais altos, os preços do produto dispararam. Além disso, a safra nacional teve redução devido às condições climáticas adversas, o que diminuiu a oferta e pressionou ainda mais os preços”, detalha Almeida.
Outro fator agravante é o custo do frete, que tem sido um grande vilão para estados mais afastados dos grandes centros de distribuição.
“O Tocantins sofre com o encarecimento da logística. O transporte do alho até a região demanda longas distâncias, e com o aumento do diesel e dos pedágios, os preços sobem ainda mais. Como o estado não é um grande polo produtor, a dependência de fornecedores de fora aumenta o impacto”, explica o economista.
Além disso, a demanda por alho é inelástica, ou seja, mesmo com preços altos, os consumidores continuam comprando, ainda que em menores quantidades. Isso faz com que o valor não recue de forma significativa no curto prazo.
Impacto no varejo: restaurantes e feirantes sofrem com preços elevados
Comerciantes buscam alternativas para não repassar custo ao consumidor
Para pequenos comerciantes e donos de restaurantes, o aumento no preço do alho tem sido um desafio. Ana Paula Ferreira, proprietária de um restaurante em Palmas, afirma que precisou reformular seus temperos para evitar repassar a alta de custos para os clientes.
“O alho é essencial em praticamente todos os pratos. Tivemos que reduzir a quantidade usada e buscar alternativas como alho desidratado e temperos prontos, que, embora não tenham o mesmo sabor, ajudam a equilibrar o custo. Não podemos simplesmente dobrar os preços dos pratos, senão perdemos a clientela”, explica Ana Paula.
Já no comércio atacadista, os feirantes também enfrentam dificuldades. Segundo José Luiz Lima, vendedor no Mercado da 304 Sul, os consumidores estão mais cautelosos.
“O movimento caiu. As pessoas estão mais seletivas na hora de comprar. Alguns clientes perguntam o preço do alho e desistem na hora. O impacto maior é para quem revende e precisa manter estoque. O produto encalhado significa prejuízo”, comenta Lima.
Previsão para os próximos meses: quando o preço do alho pode cair?
Especialistas preveem melhora apenas no segundo semestre
Apesar da forte alta nos preços, há perspectivas de que o valor do alho comece a se estabilizar nos próximos meses. De acordo com Paulo Henrique Almeida, economista agrícola, a expectativa é de um leve alívio no segundo semestre.
“Se tivermos uma safra nacional mais forte no meio do ano e um câmbio mais favorável, os preços podem começar a cair a partir de junho. No entanto, não há previsão de um retorno aos valores praticados no ano passado. O alho deve continuar mais caro do que o habitual devido aos custos estruturais da cadeia de abastecimento”, analisa.
Enquanto isso, consumidores e comerciantes seguem buscando alternativas para lidar com a alta do produto. Entre as estratégias recomendadas por especialistas estão:
- Substituição parcial: Utilizar temperos alternativos, como cebola, ervas frescas e especiarias.
- Compra fracionada: Adquirir menores quantidades para evitar desperdícios e acompanhar possíveis reduções nos preços semanais.
- Pesquisa de preços: Comparar valores entre diferentes pontos de venda, já que a variação entre mercados pode ser significativa.
Com a inflação dos alimentos pressionando os orçamentos familiares, a alta do alho se torna mais um desafio para os consumidores tocantinenses, que precisam adaptar suas rotinas de compras e consumo diante da nova realidade de preços.
Leia também:
Preço da alface e hortaliças dispara e preocupa consumidores de Palmas
Link para compartilhar: