O ambiente escolar, tradicionalmente um espaço de aprendizado e desenvolvimento social, tem sido palco de episódios crescentes de violência no Brasil. Dados recentes apontam para um cenário preocupante: ataques a escolas, agressões físicas e psicológicas entre alunos e até mesmo violência contra professores tornaram-se questões recorrentes. Especialistas alertam que o fenômeno exige uma abordagem multidisciplinar para conter sua escalada.
O Crescimento da Violência Escolar
De acordo com levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 36 ataques a escolas entre 2002 e 2023, resultando em 164 vítimas, das quais 49 fatais e 115 feridas. Além dos ataques armados, outros tipos de violência, como agressões físicas e bullying, continuam impactando milhões de estudantes.
Um estudo realizado pelo Instituto DataSenado revelou que aproximadamente 6,7 milhões de alunos sofreram algum tipo de violência dentro das escolas nos últimos 12 meses. Entre os relatos mais frequentes estão agressões físicas, ameaças e intimidação sistemática, o chamado bullying.
Para o sociólogo e especialista em segurança pública José Carlos Batista, o fenômeno reflete uma série de problemas estruturais.
“A violência escolar não pode ser tratada isoladamente. Ela está diretamente ligada a questões sociais, como desigualdade econômica, desestruturação familiar e a falta de políticas de segurança eficazes nas escolas”, avalia Batista.
O Papel do Bullying na Cultura da Violência
O bullying continua sendo um dos principais desafios enfrentados por escolas brasileiras. Segundo um levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), cerca de 29% dos estudantes afirmam já ter sofrido bullying dentro das instituições de ensino.
A pedagoga e especialista em psicologia infantil Marta Soares destaca que o bullying não deve ser encarado como algo inofensivo.
“O bullying tem impactos profundos na autoestima e no desempenho escolar dos estudantes. Crianças e adolescentes que sofrem agressões constantes dentro do ambiente escolar podem desenvolver transtornos de ansiedade, depressão e até apresentar dificuldades de socialização na vida adulta”, explica.
A especialista reforça que o combate ao problema passa pelo fortalecimento de políticas educativas que ensinem o respeito e a empatia desde cedo.
O Que Diz a Legislação e as Políticas de Prevenção
Nos últimos anos, o governo federal e estados brasileiros têm buscado implementar medidas para mitigar a violência escolar. Em 2015, foi sancionada a Lei nº 13.185, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), estabelecendo diretrizes para ações preventivas dentro das escolas.
Em abril de 2024, o Ministério da Educação (MEC) anunciou a criação do Sistema Nacional de Acompanhamento e Combate à Violência nas Escolas (Snave), que busca ampliar a capacidade das instituições de ensino de promover ações de prevenção e resposta à violência no ambiente escolar.
Além das políticas nacionais, diversos estados e municípios têm implementado câmeras de monitoramento, programas de mediação de conflitos e capacitação de professores para lidarem com casos de violência.
O professor e especialista em educação Ricardo Lima acredita que a formação de professores é um fator essencial para a redução dos índices de violência.
“Os educadores estão na linha de frente do combate à violência escolar. Eles precisam de treinamento contínuo para identificar comportamentos agressivos, intervir de forma adequada e ajudar a construir uma cultura de respeito dentro da escola”, afirma Lima.
O Desafio da Segurança Escolar
Outra medida debatida nos últimos anos é a presença de profissionais de segurança dentro das escolas. Enquanto algumas iniciativas apostam na mediação de conflitos com psicólogos e assistentes sociais, outros setores defendem o aumento do policiamento em torno das instituições.
Para Guilherme Santos, especialista em políticas de segurança pública, é preciso encontrar um equilíbrio.
“O policiamento pode ter um efeito inibidor em casos extremos, mas ele não resolve o problema na raiz. Precisamos de estratégias que combinem segurança física com suporte emocional e social para os estudantes”, ressalta.
O aumento da violência nas escolas brasileiras exige respostas urgentes e coordenadas entre poder público, educadores e sociedade. Medidas como educação para a paz, combate ao bullying, investimentos em infraestrutura escolar e políticas de apoio psicológico são essenciais para reverter o atual cenário.
Enquanto as autoridades buscam soluções eficazes, especialistas reforçam que a escola deve ser um ambiente seguro para aprendizado e crescimento, onde o respeito e a convivência pacífica sejam valores centrais.
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