Ao completar três anos à frente do Governo do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos) enfrenta o desafio de transformar promessas de campanha em resultados concretos. Eleito com o discurso de promover estabilidade política e desenvolvimento regional, o governador tem apostado em obras de infraestrutura, ampliação da rede de saúde e reforço da segurança pública. No entanto, especialistas ouvidos pelo jornal avaliam que, embora os investimentos sejam expressivos, ainda há gargalos estruturais, sobretudo no interior do estado e nas áreas sociais.
Em balanço oficial divulgado em janeiro, o governo destacou mais de R$ 1,2 bilhão investidos em obras de pavimentação, construção de hospitais e ampliação do efetivo policial em 2024. Mas para analistas políticos, o impacto real dessas ações depende de maior planejamento estratégico, execução eficiente e articulação federativa.
Infraestrutura: obras em curso, mas ainda concentradas
De acordo com o governo estadual, 1.037 km de rodovias foram recuperados ou pavimentados nos últimos dois anos, com destaque para a TO-050 (Palmas–Porto Nacional) e a TO-134 (Colinas–Aparecida do Rio Negro). Há ainda obras em andamento nos acessos a municípios do Bico do Papagaio, como Augustinópolis e Araguatins.
Para o cientista político Pedro Fernandes, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), os investimentos são relevantes, mas concentram-se nas regiões de maior peso econômico. “O governo acerta ao investir em infraestrutura de integração, mas precisa avançar em corredores logísticos para escoamento da produção agrícola e em acessibilidade para municípios isolados do sudeste e do Jalapão”, avalia.
Além disso, especialistas chamam atenção para o ritmo das obras. Segundo levantamento do Portal da Transparência Estadual, cerca de 28% dos projetos contratados até dezembro de 2024 estão com execução abaixo de 50%, o que compromete a entrega dentro do cronograma.
Saúde: novos hospitais e atenção básica fragilizada
Na área da saúde, o governo destaca a ampliação de leitos e a reestruturação do Hospital Geral de Palmas (HGP), principal unidade de alta complexidade do estado. Em 2024, foram criados 64 novos leitos de UTI e entregues três unidades de pronto atendimento (UPAs) nos municípios de Gurupi, Araguaína e Paraíso do Tocantins.
Apesar disso, especialistas alertam que o foco na média e alta complexidade não resolve os problemas da atenção primária. “A população do interior continua enfrentando longas filas para exames simples e consultas com especialistas. Há um descompasso entre obras hospitalares e a prevenção nas comunidades rurais”, explica a professora e sanitarista Rafaela Moura, da UFT.
Segundo dados do DataSUS, 63% dos municípios tocantinenses encerraram 2024 com déficit de profissionais de saúde na rede básica, incluindo médicos generalistas e enfermeiros.
Segurança pública: reforço do efetivo, mas violência persiste
Em resposta ao crescimento da criminalidade em áreas urbanas, o governo estadual ampliou o efetivo das forças de segurança com a convocação de 500 novos policiais militares e 300 agentes civis entre 2023 e 2024. Também foram adquiridas 124 viaturas e implantadas bases móveis em cinco cidades com maior índice de violência.
Apesar do reforço, o Atlas da Violência 2024 revelou que o Tocantins registrou aumento de 9% nos homicídios em relação a 2023, com maior incidência nos municípios da região norte, como Araguaína, Xambioá e Colinas do Tocantins. O problema, segundo o especialista em segurança pública Paulo Henrique Dias, está na ausência de políticas sociais articuladas ao policiamento ostensivo. “Não basta aumentar o contingente. É preciso integrar ações com educação, cultura e geração de emprego.”
Estabilidade política e relação com prefeitos
Um dos principais trunfos da gestão Wanderlei Barbosa tem sido a estabilidade institucional e o relacionamento com os municípios. Com forte articulação junto à bancada federal e aos prefeitos, o governador conseguiu destravar repasses e emendas que viabilizaram obras locais, sobretudo em municípios de pequeno porte.
Para a analista política Mariana Costa, o estilo conciliador do governador tem sido eficaz para pacificar disputas internas e ampliar a base de apoio no Legislativo. “Mas a capacidade de articulação precisa se traduzir em reformas estruturantes. O Tocantins precisa de planejamento de longo prazo, e não apenas de repasses pontuais”, ressalta.
Balanço dos principais pontos:
Área | Ações do Governo | Avaliação dos Especialistas |
---|---|---|
Infraestrutura | 1.037 km de rodovias recuperadas | Obras concentradas e lentidão na execução |
Saúde | Novos leitos e UPAs entregues | Falhas na atenção básica e interior desassistido |
Segurança | Reforço no efetivo e novas viaturas | Violência em alta; falta de ações integradas |
Política | Boa relação com prefeitos e bancada | Faltam projetos estruturantes e visão de futuro |
Com pouco mais de um ano até as eleições municipais de 2026, a gestão Wanderlei Barbosa entra em uma fase decisiva. O desafio será consolidar as entregas e ampliar a presença do Estado em regiões mais vulneráveis, sob o risco de que os investimentos se tornem apenas vitrine de curto prazo.
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