Cinco anos após a pandemia, exames preventivos de câncer ainda não retomam níveis pré-Covid

Cinco anos após o início da pandemia de Covid-19, o Brasil ainda não recuperou as taxas de realização de exames preventivos para detecção precoce de câncer, permanecendo abaixo dos níveis registrados antes da crise sanitária. Essa realidade preocupa especialistas, que enfatizam a importância de retomar os cuidados preventivos para evitar diagnósticos tardios e reduzir a mortalidade associada à doença.​

Queda significativa nos exames preventivos

Durante a pandemia, medidas de isolamento social e a priorização do atendimento a casos de Covid-19 levaram a uma redução drástica na realização de exames preventivos. Em 2020, por exemplo, houve uma diminuição de 44,6% nos exames citopatológicos do colo do útero e de 42,6% nas mamografias, em comparação a 2019. ​

Embora tenha havido uma recuperação parcial nos anos subsequentes, os índices atuais ainda não atingiram os patamares pré-pandêmicos. Dados do Observatório da Saúde Pública indicam que, em 2023, apenas 59,8% das mulheres com 18 anos ou mais nas capitais brasileiras haviam realizado mamografias, uma queda em relação aos 66,7% registrados em 2017.

Especialistas alertam para riscos de diagnósticos tardios

A redução na realização de exames preventivos tem consequências diretas na detecção precoce do câncer, fundamental para o sucesso do tratamento. A oncologista Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), destaca:​

“A conscientização populacional para prevenção e rastreio não é adequada, há problemas de acesso e a pandemia não ajudou. As pessoas não voltaram à rotina que conseguíamos anteriormente.” ​InfoMoney

O médico geneticista David Schlesinger também expressa preocupação:​

“Em 2020, os exames de diagnóstico de alguns tipos de câncer caíram 75%. Por isso, estima-se que ao menos 50 mil casos de câncer deixaram de ser diagnosticados.” ​Revista Visão Hospitalar

Desafios na retomada dos cuidados preventivos

A retomada dos exames preventivos enfrenta desafios como o medo persistente da população em frequentar unidades de saúde e a necessidade de reorganização dos serviços de atenção primária. Estudo publicado na revista Escola Anna Neryrevela que, durante a pandemia, houve suspensão da coleta de exames preventivos e, após o período crítico, a baixa adesão das mulheres e a falta de estratégias para o retorno das práticas em saúde dificultaram a retomada dos serviços. ​

Importância da conscientização e acesso equitativo

Evelyn Santos, gerente de investimento social da Umane, enfatiza a necessidade de esforços públicos para conscientizar a população e garantir o acesso equitativo aos exames preventivos:​

“Os cuidados preventivos contra o câncer no país ainda não registraram, de maneira generalizada, nem diminuição de fatores de risco para seu desenvolvimento […] nem ampliação das coberturas de triagem e rastreamento […], o que demanda um esforço público de conscientização da população e, também, garantia de atendimento equitativo para que todos tenham acesso ao exame no tempo adequado.” ​CNN Brasil

A retomada dos exames preventivos de câncer é essencial para evitar diagnósticos tardios e reduzir a mortalidade associada à doença. É fundamental que governos, profissionais de saúde e sociedade civil trabalhem conjuntamente para promover a conscientização sobre a importância dos cuidados preventivos e assegurar que toda a população tenha acesso aos serviços de saúde necessários.​