Evento reuniu Jair Bolsonaro, lideranças religiosas, parlamentares e governadores; senador tocantinense defende diálogo institucional sobre demandas da sociedade
Em meio ao acirramento das tensões entre setores conservadores e o Supremo Tribunal Federal, o senador Eduardo Gomes (PL-TO) participou neste domingo, 6 de abril, de um ato público na Avenida Paulista em defesa da anistia a investigados e condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O evento, convocado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, contou com a presença de lideranças religiosas, parlamentares federais e estaduais, além de governadores de ao menos sete estados.
Em um dos trechos mais simbólicos da mobilização, cartazes e faixas criticavam as decisões do Supremo Tribunal Federal, com destaque para a pena de 14 anos de prisão aplicada à manifestante Débora Rodrigues dos Santos — usada como exemplo pelos organizadores para reforçar a ideia de que as punições seriam “desproporcionais”. A manifestação ocorre três semanas após evento semelhante no Rio de Janeiro, também com presença de Bolsonaro e de Eduardo Gomes.
🗳️ Eduardo Gomes: “O Parlamento é o espaço do debate democrático”
Vice-presidente do Senado Federal e presidente regional do PL no Tocantins, Eduardo Gomes tem mantido atuação discreta, porém estratégica, na interlocução entre a ala bolsonarista do Congresso e a cúpula do Legislativo. Durante a manifestação em São Paulo, o senador defendeu o papel do Congresso como mediador entre demandas populares e a ordem institucional:
“O Parlamento é o espaço natural para o debate democrático e a busca por soluções equilibradas”, afirmou.
Embora não tenha citado diretamente o Supremo Tribunal Federal ou defendido textualmente a anistia durante o ato, a presença do senador no palanque ao lado de Bolsonaro, Silas Malafaia e do deputado federal Nikolas Ferreira foi lida como um sinal de alinhamento institucional à pauta que ganha força entre parlamentares da oposição.
🧭 Ato reforça estratégia de pressão política por anistia no Congresso
O evento faz parte de uma série de mobilizações nacionais organizadas por aliados de Jair Bolsonaro, cujo objetivo é aumentar a pressão popular pela tramitação de projetos de lei que concedam anistia a manifestantes, influenciadores e militares envolvidos direta ou indiretamente nas ações de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas.
Os organizadores do ato na Paulista evitam usar o termo “golpismo”, preferindo se referir aos detidos e condenados como “manifestantes injustiçados” ou “presos políticos”. Segundo levantamento do portal Congresso em Foco, mais de 1.200 pessoas ainda respondem a processos ou cumprem penas relacionadas aos atos.
No Congresso, pelo menos três propostas de anistia tramitam com apoio de parlamentares do PL, PP, Republicanos e setores do PSD. Até o momento, porém, não há consenso entre os líderes partidários, e o projeto mais avançado ainda não alcançou número suficiente de assinaturas para urgência no plenário.
📉 Repercussão política e reações institucionais
A presença de governadores, deputados e senadores em manifestações pró-anistia tem gerado reações tanto dentro quanto fora do Parlamento. Integrantes da base governista afirmam que a proposta representa um retrocesso democráticoe alertam para o risco de impunidade institucionalizada.
Juristas, entidades de direitos humanos e ministros do Supremo Tribunal Federal vêm se manifestando de forma contrária à anistia, classificando-a como inconstitucional e perigosa. Para o professor de Direito Constitucional Juliano Ferreira, da Universidade de Brasília (UnB), o movimento político atual busca “reescrever os limites do aceitável no Estado Democrático de Direito”:
“Quando representantes eleitos defendem a anistia para ações que atacaram os próprios pilares da democracia, há um risco real de se abrir um precedente que normaliza a violência institucional”, afirma.
🧩 O papel de Eduardo Gomes e o cenário no Tocantins
Como figura de proa do PL no Tocantins, Eduardo Gomes tem equilibrado a representação de uma base eleitoral conservadora com a atuação institucional em Brasília. Conhecido por seu trânsito entre diferentes correntes políticas, o senador foi relator do orçamento de 2020 e é tido como articulador habilidoso nas negociações de bastidores.
No estado, sua liderança se consolidou após as eleições de 2022, quando o PL obteve crescimento expressivo em número de prefeituras e cadeiras na Assembleia Legislativa. A presença no ato da Paulista deve fortalecer ainda mais sua imagem entre o eleitorado bolsonarista, que permanece majoritário no interior tocantinense.
🔍 Conclusão: Congresso dividido, pressão crescente
A manifestação na Avenida Paulista expôs mais uma vez a divisão interna do Congresso Nacional em torno da proposta de anistia e a dificuldade de construção de consensos em meio à polarização política. Com o Senado ainda silencioso sobre o tema e a Câmara enfrentando resistência de lideranças do centro, o avanço da pauta dependerá da capacidade de articulação das bancadas bolsonaristas e do grau de mobilização nas ruas.
Enquanto isso, senadores como Eduardo Gomes reforçam o discurso de que o Congresso é o espaço legítimo para resolver impasses complexos da vida nacional, mesmo diante da pressão popular e dos desafios institucionais.
Link para compartilhar: