Enquanto as passarelas da São Paulo Fashion Week N59 ditavam as apostas das próximas estações em tecidos fluidos, silhuetas arquitetônicas e transparências minimalistas, a plateia e os corredores do JK Iguatemi registravam um espetáculo paralelo: o embate simbólico de duas figuras públicas que, mesmo por caminhos opostos, dominam o imaginário da moda e da cultura pop nacional — Wanessa Camargo e Geisy Arruda.
Com estilos radicalmente distintos e legados midiáticos contrastantes, as duas marcaram presença em desfiles estratégicos do evento, roubando flashes e dividindo opiniões. Mais do que looks, o que ambas carregaram foi uma narrativa em torno do uso da moda como ferramenta de expressão e reinvenção pública.
Wanessa Camargo: minimalismo sofisticado com assinatura emocional
A cantora Wanessa Camargo, atualmente envolvida em projetos autorais com forte carga estética e emocional, surgiu com um look monocromático off-white, composto por alfaiataria oversized e transparência discreta em organza. A escolha não foi aleatória: segundo fontes próximas à artista, o visual representa uma fase de “limpeza simbólica” e reencontro com suas raízes criativas.
“Wanessa está em um momento de maturidade estética. Ela usa a moda para transmitir leveza, mas com força. É o oposto da ostentação: é poder silencioso”, analisa a estilista e professora de comunicação de moda Letícia Guimarães, da Escola São Paulo.
A cantora marcou presença no desfile da PatBo, marca comandada por Patrícia Bonaldi, cuja proposta combina feminilidade clássica com elementos modernos — um reflexo da própria trajetória de Wanessa, que já foi de diva pop a mulher da roça em reality rural.
Geisy Arruda: hiperfeminilidade provocadora como resistência
Já Geisy Arruda apareceu com um visual diametralmente oposto: vestido colado ao corpo, rosa metálico, salto agulha e maquiagem intensa. A ex-estudante de turismo, que ganhou projeção nacional após episódio de machismo acadêmico em 2009, construiu sua imagem pública a partir da reafirmação da sensualidade como forma de resistência e autonomia.
“Geisy representa a figura da mulher que não recua. Ela usa a hipersexualização como ferramenta de poder. É provocativa por definição, mas com estratégia”, diz o pesquisador de cultura digital Alan Duarte, autor do livro Corpo Público: Influência e Autonomia na Era da Superexposição.
Geisy marcou presença no desfile da marca Lilly Sarti, onde se posicionou na primeira fila, interagiu com influenciadores e gerou alto engajamento nas redes sociais — especialmente no TikTok e no Instagram, onde seu nome esteve entre os assuntos mais comentados durante o evento.
SPFW N59: mais plural, mais híbrida, mais performática
A SPFW59 tem consolidado sua presença como o evento de moda mais importante do Hemisfério Sul, com foco cada vez mais híbrido entre moda, comportamento e performance. A edição deste ano reuniu 45 desfiles, com destaque para colaborações entre estilistas autorais e marcas de grande alcance comercial.
Segundo a organização do evento, o público cresceu 12% em relação à edição anterior, e as transmissões digitais alcançaram 2,3 milhões de visualizações únicas, com pico nos dias em que celebridades estiveram presentes nos bastidores e front rows.
“A SPFW virou uma vitrine de comportamento. As passarelas importam, mas é na interação entre figuras públicas, redes sociais e estilistas que está o verdadeiro capital simbólico”, avalia Renata Bicalho, curadora de moda e fundadora do portal Moda Estruturada.
A moda como código público: o que comunicam Wanessa e Geisy?
A presença das duas figuras no mesmo ambiente ressalta o poder da moda como instrumento narrativo. Enquanto Wanessa projeta um discurso de renovação e maturidade — sutil, mas calculadamente simbólico —, Geisy representa o grito corporal da mulher popular que se impõe pelo desejo e pelo brilho.
Ambas incorporam estéticas distintas, mas convergem na autonomia sobre a própria imagem. Seus estilos não são apenas gosto pessoal: são manifestações de trajetória, de classe social, de pertencimento cultural e de estratégias de permanência na mídia.
“Elas representam polos opostos da feminilidade brasileira, mas também refletem a complexidade de uma sociedade que negocia entre o recato simbólico e a exuberância afirmativa”, sintetiza Bárbara Telles, doutora em sociologia da imagem pela USP.
O impacto das celebridades no ecossistema fashion
Levantamento da agência Moda Radar mostra que a presença de celebridades em eventos de moda gera, em média, 280% mais engajamento nas redes sociais em comparação com desfiles puramente técnicos. No caso da SPFW N59, os três vídeos mais viralizados no Instagram e no TikTok foram protagonizados por Wanessa, Geisy e Pabllo Vittar.
Isso reforça a leitura de que a moda hoje se articula cada vez menos em códigos fechados e mais em estéticas performáticas, comunicacionais e digitais. A passarela continua sendo importante, mas o que se viraliza é o bastidor — e, nele, a narrativa pessoal é tão importante quanto a roupa.
A SPFW N59 mostrou que os olhos da moda brasileira estão menos voltados para tendências de passarela e mais atentos aos símbolos performáticos da cultura pop. A presença de Wanessa Camargo e Geisy Arruda, em toda sua ambivalência e potência comunicacional, confirma que o palco principal da moda agora está na construção pública da imagem — e na capacidade de transformar estilo pessoal em linguagem política.
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