Mulheres ganham quase 20% a menos que homens no Estado; fator racial amplia ainda mais a defasagem, segundo relatório federal
Palmas (TO) – A diferença salarial entre homens e mulheres aumentou no Tocantins e ultrapassou a média nacional, segundo o 3º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em parceria com o Ministério das Mulheres. A pesquisa, realizada entre setembro de 2024 e março de 2025, revela que a desigualdade cresceu 1,02% no Estado durante o período, contra um avanço de 0,18% no Brasilcomo um todo.
Com base na análise de 200 estabelecimentos tocantinenses, o levantamento mostra que os homens recebem, em média, R$ 3.086,54, enquanto as mulheres têm rendimento de R$ 2.478,78 — uma diferença de 19,69%, contra os 18,67%registrados na edição anterior do relatório.
Tocantins vai na contramão da equidade
A economista Larissa Torres, especialista em mercado de trabalho e desigualdade de gênero, vê o dado com preocupação:
— A desigualdade salarial deveria estar em queda, ainda mais com uma legislação recente que obriga empresas a apresentarem relatórios de transparência. O aumento da defasagem no Tocantins mostra que as práticas discriminatórias persistem, especialmente fora dos grandes centros — avalia.
Mulheres negras enfrentam diferença de 32,4% nos salários
O relatório também expõe a disparidade racial nos rendimentos das trabalhadoras tocantinenses. Enquanto mulheres negras recebem, em média, R$ 2.250,66, as não negras ganham R$ 3.327,59 — uma diferença de 32,4%. Em âmbito nacional, essa diferença é ainda maior: 38%.
Apesar disso, o número de mulheres negras empregadas aumentou no país: passou de 3,2 milhões para 3,8 milhões, um avanço de 18,2% em participação no mercado formal.
Cargos de liderança ainda mantêm maior disparidade
A desigualdade entre homens e mulheres se acentua nos cargos mais altos. Segundo o relatório, diretoras e gerentes recebem apenas 73,2% do salário dos homens. Em ocupações que exigem nível superior, esse percentual é ainda menor: 68,5%. No setor administrativo, a média sobe para 79,8%.
— Mesmo quando ocupam cargos estratégicos, as mulheres continuam sendo remuneradas de forma inferior. Isso demonstra que o problema não é apenas de acesso, mas também de valorização — afirma Larissa Torres.
Avanços e desafios no mercado de trabalho
O relatório também indica avanços importantes. A massa salarial feminina cresceu de 35,7% para 37,4% entre 2015 e 2024. O número de mulheres ocupadas subiu de 38,8 milhões para 44,8 milhões nesse intervalo, enquanto o número de homens passou de 53,5 milhões para 59 milhões.
Outro dado positivo é a queda no número de empresas com menos de 10% de mulheres negras no quadro funcional: de 21.680 em 2023 para 20.452 em 2024. Também aumentou o número de estabelecimentos com diferença salarial inferior a 5% entre homens e mulheres.
Plano Nacional e movimento pela equidade
Durante a divulgação do relatório, o Governo Federal lançou o Guia para Negociação Coletiva da Lei da Igualdade Salarial (Lei nº 14.611/2023), que obriga empresas com mais de 100 funcionários a publicarem relatórios periódicos sobre critérios remuneratórios.
Também foi instituído o Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral entre Mulheres e Homens, com validade até 2027, coordenado por um comitê interministerial que reúne 11 pastas. A estratégia inclui metas para promoção da diversidade, apoio à ascensão profissional de mulheres e combate à discriminação institucional.
Além disso, foi criado o Movimento pela Igualdade no Trabalho, que reúne empresas e entidades de diferentes setores que aderiram a uma carta de compromisso em favor da equidade. A adesão pode ser feita online, por meio da plataforma oficial do movimento.
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