A Páscoa de 2025 chegou com um gosto amargo para muitos consumidores do Tocantins. O tradicional ovo de chocolate, antes símbolo da data comemorativa, ficou mais caro e menos acessível. Segundo levantamento da plataforma SoluCX, 18,2% dos brasileiros optaram por não comprar ovos industrializados neste ano. No Tocantins, o percentual foi ainda mais expressivo: 22,7% dos entrevistados em Palmas e Araguaína disseram ter buscado alternativas mais baratas, como trufas caseiras, bombons personalizados ou cestas afetivas.
O principal fator para essa mudança foi o aumento nos preços do cacau, que dispararam mais de 70% no acumulado dos últimos 12 meses. De acordo com dados do Cepea/Esalq, a tonelada da amêndoa de cacau ultrapassou a marca dos R$ 20 mil em março, em razão de quebras de safra em países produtores da África Ocidental e alta na demanda global. Esse cenário pressionou a indústria alimentícia e, consequentemente, o bolso do consumidor final.
Dados do mercado: preços e comportamento do consumidor
Em Palmas, uma caixa de bombons tradicionais de 300g que custava cerca de R$ 19,90 em 2023 chegou a ser vendida por R$ 34,90 este ano. Já os ovos de Páscoa de marcas conhecidas ultrapassaram os R$ 90, mesmo nos supermercados de atacado. A inflação dos produtos alimentícios acumula alta de 4,56% no ano, segundo o IBGE, com destaque para derivados do cacau, que subiram 11,3% no Tocantins no primeiro trimestre.
De acordo com o economista João Minucci, a lógica da escassez impulsionou os preços e afastou os consumidores do produto tradicional:
“Estamos vendo uma retração no consumo industrial e uma migração para o afeto. Em tempos de crise, a criatividade se torna o maior ativo do pequeno empreendedor,” afirma o especialista.
Artesanais em alta: trufas, caixas e oficinas ganham espaço
Com a alta dos preços, o cenário favoreceu pequenos produtores e microempreendedores que apostaram no artesanal para atrair clientes. Na feira da 304 Sul, em Palmas, foram instaladas 42 bancas com produtos de chocolate artesanal neste mês de abril. Os preços variavam entre R$ 6 (trufas simples) e R$ 120 (caixas gourmet personalizadas). Em Araguaína, a empresária Camila Borges, dona de uma confeitaria na região central, relata que as vendas aumentaram 38% em relação a 2024.
“As pessoas não querem abrir mão de presentear, mas buscam algo mais acessível e com um toque emocional. Nossas caixas com mensagens personalizadas e bombons de cupuaçu foram sucesso,” destaca Camila.
Outro ponto forte neste ano foi o crescimento de oficinas de Páscoa para crianças, promovidas por escolas, igrejas e coletivos de bairro. A pedagoga e empreendedora social Larissa Mendes conduziu quatro turmas em Gurupi e acredita que o movimento reforça o aspecto educativo e emocional da data:
“Além de aprenderem sobre o simbolismo da Páscoa, as crianças levam para casa chocolates feitos por elas mesmas. É afetivo e didático,” comenta.
Comércio e impacto no varejo tradicional
O varejo formal sentiu a mudança. Segundo estimativa da Fecomércio-TO, a expectativa de crescimento nas vendas de Páscoa ficou abaixo do esperado: apenas 1,2% em relação a 2024. Lojas de departamento e grandes supermercados registraram menor procura pelos produtos mais caros, enquanto cestas alternativas e kits personalizados dominaram os carrinhos de compra.
A empresária Mariana Lemos, gerente de uma grande rede em Paraíso do Tocantins, confirma o cenário:
“As vendas dos ovos de mais de 500g caíram drasticamente. Estamos tendo que remanejar os estoques para promoções pós-feriado,” afirma.
Empreendedorismo criativo como motor da economia local
O fenômeno observado no Tocantins é reflexo de uma tendência nacional: a personalização como diferencial competitivo. Segundo o Sebrae, as microempresas do setor de alimentação e confeitaria cresceram 9% no primeiro trimestre de 2025, e o Tocantins está entre os estados com maior número de novos MEIs cadastrados no segmento. Em Palmas, o número de microempreendedores que atuam com confeitaria artesanal cresceu 27% desde janeiro.
Para a consultora de negócios do Sebrae, Lívia Campos, o cenário é desafiador, mas promissor:
“Os microempreendedores têm vantagem na flexibilidade de produção, no vínculo com a clientela e na personalização. Esse momento pode ser uma virada para a consolidação de novos negócios,” explica.
Afeto como alternativa ao consumo em massa
A Páscoa de 2025 no Tocantins revelou mais do que a oscilação econômica: evidenciou uma mudança no comportamento social e no significado da data. Menos consumo em massa, mais afeto. Menos ovos caros nas prateleiras, mais caixas feitas à mão, recheadas de histórias, intenções e criatividade.
“A gente não vende só chocolate. A gente vende o que ele representa,” resume a confeiteira Ana Valéria Lopes, que atua no setor desde 2019 em Gurupi.
Enquanto os grandes players tentam se adaptar, o pequeno empreendedor encontra espaço e protagonismo, dando um novo sabor à celebração pascal — mais doce, mais próxima, mais consciente.
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