Pesquisa publicada em abril de 2024 identifica genes que protegem contra doenças como Alzheimer e Parkinson, utilizando organoides cerebrais desenvolvidos a partir de células de idosos acima de 80 anos
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), divulgada em abril de 2024, traz novas perspectivas sobre como o cérebro humano pode resistir ao envelhecimento e a doenças degenerativas. O estudo, conduzido por pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), utilizou organoides cerebrais — os chamados minicérebros — desenvolvidos a partir de células de idosos com mais de 80 anos que envelheceram com saúde acima da média.
A iniciativa integra o Projeto 80+, liderado pela geneticista Mayana Zatz, e investiga o genoma de idosos com performance cognitiva preservada, mesmo na idade avançada. O objetivo é descobrir quais genes contribuem para essa longevidade cerebral e como eles podem ser aplicados na prevenção e no tratamento de doenças como Alzheimer, Parkinson e sarcopenia.
O que são os minicérebros?
Os organoides cerebrais são estruturas tridimensionais criadas em laboratório a partir de células-tronco. Eles mimetizam o funcionamento de regiões específicas do cérebro humano e permitem que cientistas testem hipóteses de forma controlada. No caso do estudo da USP, os minicérebros foram desenvolvidos com células de pessoas idosas que se destacam por sua saúde neurológica.
Esses organoides mostraram uma surpreendente resistência à degeneração celular, o que levou os pesquisadores a identificar variantes genéticas associadas à proteção neuronal. “Esses genes parecem atuar como uma espécie de escudo biológico”, explica Zatz. “Eles nos ajudam a entender por que algumas pessoas chegam aos 90 anos com memória afiada e sem sinais de demência.”
Caminhos para novos tratamentos
As descobertas podem abrir uma nova era na medicina personalizada, com a criação de terapias baseadas no perfil genético individual de cada paciente. Em vez de tratar os sintomas após o aparecimento de doenças neurodegenerativas, os pesquisadores buscam entender como prevenir seu surgimento a partir do mapeamento genético e da modulação dos fatores de risco.
O foco agora é desenvolver compostos que imitem ou estimulem a ação dos genes protetores identificados nos minicérebros. Além disso, a equipe pretende ampliar a amostra da pesquisa com pessoas de diferentes regiões do Brasil, respeitando a diversidade genética da população.
O impacto global do estudo
Publicada com repercussão internacional, a pesquisa reforça o papel da ciência brasileira em um dos temas mais sensíveis da saúde pública global: o envelhecimento da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos irá dobrar, ultrapassando 2 bilhões no mundo. O Brasil, que já possui cerca de 32 milhões de idosos, enfrenta um desafio crescente nesse campo.
A pesquisa da USP oferece esperança concreta de que envelhecer com saúde e lucidez pode deixar de ser uma exceção genética e se tornar um objetivo acessível à maioria da população — desde que políticas públicas e investimentos científicos acompanhem esse avanço.
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