O Papa Francisco faleceu na segunda-feira, 21 de abril de 2025, no Vaticano, aos 88 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) seguido de insuficiência cardíaca. Sua morte encerra 12 anos de pontificado marcados por reformas profundas, gestos de compaixão e um esforço constante para aproximar a Igreja Católica de realidades sociais contemporâneas.
O funeral, realizado neste sábado, 26 de abril, na Praça de São Pedro, reuniu cerca de 400 mil pessoas, incluindo chefes de Estado de 148 países, representantes de diferentes religiões e multidões de fiéis emocionados. Em gesto inédito, o corpo de Francisco não foi sepultado nas tradicionais grutas vaticanas, mas na Basílica de Santa Maria Maior, local por ele escolhido para simbolizar sua devoção a Maria e seu desejo de uma Igreja menos centrada no poder e mais próxima dos humildes.
O túmulo de Francisco é simples: uma laje nivelada ao chão com a inscrição “Franciscus”, sem ornamentos.
A liderança que rompeu tradições
Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, foi o primeiro papa latino-americano, primeiro jesuíta e o primeiro papa a escolher o nome Francisco — inspirado em São Francisco de Assis, símbolo de pobreza e reforma.
Desde o início, optou por gestos que romperam com o protocolo: recusou os luxuosos aposentos papais para viver em uma residência simples; lavou os pés de presidiários, incluindo mulheres e muçulmanos; e denunciou a “Igreja autorreferente”, que se preocupava mais com a própria estrutura do que com seus fiéis.
Sua maior marca foi a ênfase no conceito de Igreja em saída: voltada para os pobres, os refugiados, o meio ambiente e a justiça social.
As reformas internas: avanços e resistências
No âmbito interno, Francisco promoveu reformas significativas:
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Reformou a Cúria Romana, descentralizando o poder, incentivando transparência financeira e combatendo casos de corrupção histórica no Vaticano;
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Fortaleceu mecanismos contra abuso sexual dentro da Igreja, criando novas comissões de proteção às vítimas, embora tenha enfrentado críticas de sobreviventes que esperavam punições mais rápidas e duras;
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Reabriu debates morais sobre temas como acolhimento de homossexuais, famílias em segunda união e a participação das mulheres na Igreja.
Apesar dos avanços, encontrou forte resistência entre setores conservadores, especialmente dentro da própria hierarquia eclesiástica. Parte do episcopado europeu e norte-americano considerava suas posturas “ambiguamente progressistas” e seu estilo pastoral, “perigoso para a doutrina”.
Comoção e reações mundiais
O impacto da morte de Francisco foi imediato:
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, católico praticante, declarou que “o Papa Francisco deixou um mundo mais justo e mais consciente dos marginalizados”.
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que Francisco foi “um farol ético em tempos de crise humanitária e climática”.
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No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou homenagem ao “papa dos pobres”, destacando o carinho que Francisco sempre teve pela América Latina.
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Em Buenos Aires, sua cidade natal, milhares de pessoas se reuniram na Catedral Metropolitana para uma missa de despedida.
Líderes religiosos, como o patriarca ecumênico de Constantinopla e representantes do Islã e do Judaísmo, também enviaram mensagens de pesar.
A sede vacante e o desafio do próximo conclave
Com a morte de Francisco, a Igreja Católica entra no período de sede vacante, e o mundo volta seus olhos para o próximo Conclave, que deverá ocorrer em maio.
Atualmente, existem cerca de 130 cardeais eleitores com menos de 80 anos. Destes, a maioria foi nomeada por Francisco, o que indica uma provável continuidade de seu projeto pastoral.
Entre os nomes cotados para sucedê-lo estão:
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Cardeal Matteo Zuppi, de Bolonha, conhecido por seu trabalho social e diálogo inter-religioso;
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Cardeal Pedro Barreto, do Peru, representante da ala latino-americana ligada à defesa ambiental;
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Cardeal Jean-Marc Aveline, de Marselha, defensor da inclusão dos migrantes na Europa.
Entretanto, o conclave pode surpreender: a pressão de setores conservadores para “corrigir” o curso da Igreja também cresce.
O desafio será enorme: manter o espírito de reformas iniciado por Francisco ou reverter parte de seu legado?
O legado: mais do que palavras, uma transformação de mentalidade
O impacto do pontificado de Francisco não está apenas nas reformas institucionais, mas na mudança de mentalidade que promoveu. Ao afirmar que a Igreja deveria ser “um hospital de campanha”, aberta aos feridos da sociedade, ele devolveu à instituição uma capacidade de diálogo com o mundo contemporâneo.
Sua morte encerra uma era, mas seu legado — de misericórdia, simplicidade e compromisso com os mais vulneráveis — continuará a ser uma referência para católicos e não católicos.
Francisco deixa uma Igreja mais consciente de suas próprias falhas, mais aberta ao diálogo e, acima de tudo, mais humana.
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