Na última semana de abril, grandes cidades europeias como Paris, Berlim, Milão e Roma foram palco de manifestações de rua que evoluíram para confrontos violentos, marcando uma nova fase de instabilidade no continente. O estopim, segundo analistas, está na combinação entre inflação persistente, crise migratória mal resolvida e a perda de confiança em governos enfraquecidos.
Em Paris, manifestantes incendiaram veículos, bloquearam vias e enfrentaram a polícia durante os protestos contra a reforma previdenciária e cortes em programas sociais. Em Berlim, movimentos antinazistas e sindicatos voltaram às ruas contra a extrema-direita, que cresceu nas eleições regionais. Na Itália, greves no setor de transportes e protestos estudantis desafiam o governo de Giorgia Meloni.
“Vivemos um colapso de representatividade”, diz cientista político
O cientista político Lucas Fraga, especialista em relações internacionais, avalia que a atual onda de protestos representa mais que insatisfação pontual.
“O que se vê é o colapso da confiança democrática em governos centristas ou conservadores que, na prática, não conseguem responder às pressões sociais do pós-pandemia e da guerra na Ucrânia.”
Segundo ele, o fenômeno é comparável à crise dos coletes amarelos (2018) na França, mas agora de alcance regional e com efeitos políticos mais profundos, como a queda iminente de ministros e primeiros-ministros.
Impacto no Brasil: economia, diplomacia e comércio exterior
Para o Brasil, o cenário europeu acende sinais de alerta em pelo menos três frentes:
1. Economia e exportações
A economista Paula Mendes, da consultoria internacional fictícia EuroData, lembra que a União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.
“Qualquer desaceleração no bloco compromete diretamente nossas exportações de commodities, especialmente soja, café e carne.”
Ela aponta que a instabilidade já provocou queda de 1,8% na cotação do euro frente ao real nas últimas semanas, afetando as receitas de exportadores brasileiros.
2. Relações diplomáticas e acordos comerciais
O Brasil também depende de negociações estratégicas com o bloco europeu, como o Acordo Mercosul-União Europeia. A instabilidade nos parlamentos nacionais — especialmente na França e na Áustria, onde há forte oposição ambiental — pode atrasar ainda mais a ratificação.
Segundo o diplomata aposentado Carlos Peixoto,
“O momento não é favorável a consensos multilaterais. Com parlamentos divididos, os países europeus tendem a se voltar para dentro, postergando negociações externas.”
3. Imigração e pressão humanitária
O Brasil já é destino de migrantes africanos e sírios em trânsito por países europeus. Com a crise migratória se agravando na Itália e na Grécia, especialistas em geopolítica alertam para novas rotas migratórias que podem impactar o Cone Sul, além de provocar pressão diplomática por parte da ONU e da OIM.
Vozes direto da Europa
Mariana Lopes, brasileira residente em Paris há 8 anos, relata que a tensão nas ruas da capital francesa é visível:
“Os protestos estão mais violentos. Há gás lacrimogêneo, barricadas, e muita insegurança. Tenho evitado sair à noite.”
Já Bruno Rizzi, goiano que vive em Milão, destaca o impacto nas universidades e no transporte público:
“O governo está tentando se manter firme, mas a juventude italiana está revoltada. E há um medo crescente do autoritarismo.”
Crise europeia ainda sem fim à vista
O cenário europeu exige atenção de autoridades e analistas brasileiros. O impacto será sentido não só nas trocas comerciais, mas também na política externa, no comportamento do mercado internacional e nas relações entre blocos. O agravamento da instabilidade pode empurrar a Europa para uma recessão técnica e gerar ondas de repercussão global.
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