A oficialização da federação entre União Brasil e Progressistas, nesta terça-feira (29), formou o maior bloco legislativo da atual legislatura: 109 deputados federais e 14 senadores. Batizada de Federação União Progressista, a aliança nasce com uma mensagem política clara: ocupar o vácuo da direita institucional, apostando em uma candidatura competitiva ao Planalto em 2026 — projeto capitaneado por Ronaldo Caiado, governador de Goiás.
Em carta aberta, Caiado classificou o movimento como “uma virada na política do País”, assumindo o tom oposicionista ao governo Lula e se distanciando do bolsonarismo. “É chegada a hora de colocarmos mãos à obra. Pensar numa postura de afastamento do Governo Federal, que não consegue atender aos anseios do nosso povo”, escreveu.
Direita institucional busca romper com polarização entre Lula e Bolsonaro
A federação está prevista na Emenda Constitucional nº 97/2017 e, embora tecnicamente seja um arranjo partidário, carrega profundos significados eleitorais. Analistas interpretam a aliança como tentativa de construir uma nova direita institucional, menos dependente de personalismos e com foco na governabilidade.
Segundo o cientista político Mauro Bittencourt, a articulação de Caiado mira diretamente a Presidência da República. “Ele tenta se consolidar como nome palatável para o eleitor conservador que não se vê mais representado pelo bolsonarismo clássico”, avalia. A perda de tração de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no Sudeste abriu caminho para que o governador goiano ganhe protagonismo.
Cálculo da direita institucional envolve fundo eleitoral e tempo de TV
A estratégia também é pragmática. Ao unificar estrutura partidária e fundo eleitoral, a federação projeta orçamento bilionário e o maior tempo de TV na eleição de 2026. Entre 2024 e 2026, União e PP somam mais de R$ 1 bilhão em recursos públicos — superando a capacidade de campanha do próprio PT.
A socióloga Daniela Vasconcellos analisa o movimento como “uma manobra de sobrevivência”, diante da fragmentação do centro-direita. “Eles unem quadros com histórico de eleições bem-sucedidas e presença em municípios médios, especialmente no Norte e Centro-Oeste”, destaca.
Caiado tenta consolidar protagonismo na direita institucional
A carta publicada por Caiado reforça seu posicionamento como pré-candidato: “Com humildade, coloco-me à disposição para ser uma alternativa que represente a mudança que tanto desejamos”. Trata-se de um gesto duplo: sinaliza afastamento do bolsonarismo e crítica velada à condução econômica do governo Lula.
Nos bastidores, o movimento é visto como parte de uma articulação iniciada ainda em 2023, quando Caiado adotou discurso nacionalista e reforçou alianças com setores do agronegócio, forças de segurança e evangélicos. “A federação oferece um palanque partidário coeso e numeroso, coisa rara hoje no Brasil”, afirma o analista político Lucas Faria.
Disputas internas ameaçam coesão da nova direita institucional
Apesar do entusiasmo público, a federação ainda enfrenta fragilidades internas. Fontes ligadas aos dois partidos admitem que a heterogeneidade ideológica pode dificultar decisões estratégicas, como a escolha do candidato presidencial. Nomes como Arthur Lira e Ciro Nogueira são cotados por setores do PP, o que ameaça o projeto de unificação em torno de Caiado.
Para viabilizar sua candidatura, o governador de Goiás precisará se apresentar como uma síntese entre ruralistas, liberais e conservadores religiosos. Se conseguir sustentar essa convergência, a direita institucional poderá, enfim, voltar ao jogo com força eleitoral realista.
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