Na madrugada de sexta-feira (2), a capital síria foi palco de um novo ataque aéreo que, segundo autoridades locais e fontes militares, teve como alvos instalações militares utilizadas por forças iranianas. O bombardeio foi amplamente atribuído a Israel, embora o governo israelense não tenha confirmado oficialmente a autoria.
O ataque ocorreu na região de Sayyida Zeinab, ao sul de Damasco, considerada estratégica por abrigar membros da Guarda Revolucionária Iraniana e milícias aliadas, como o Hezbollah libanês. Fontes sírias confirmaram ao jornal Al-Watan que pelo menos sete pessoas morreram, incluindo dois iranianos.
O Irã prometeu “resposta proporcional”, enquanto o Hezbollah afirmou estar em “alerta total” em suas bases no sul do Líbano.
Especialistas apontam risco de envolvimento dos EUA
Analistas geopolíticos ouvidos pela reportagem avaliam que o cenário é de risco elevado para uma escalada militar direta entre potências regionais — com impacto imediato sobre a diplomacia internacional.
“O ataque amplia a tensão entre Irã e Israel em um momento de alta sensibilidade global. Caso o Irã opte por uma retaliação direta, os Estados Unidos, aliados históricos de Israel, podem ser forçados a reagir, mesmo sem envolvimento direto no ataque”, explica o professor de Relações Internacionais da UFRJ, Carlos Freitas.
O Departamento de Estado norte-americano emitiu nota expressando “preocupação com a escalada de violência na região” e reforçando que Israel “tem direito à autodefesa”, mas sem comentar a autoria do bombardeio.
Hezbollah ameaça resposta e acende fronteira com Israel
O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, declarou que o grupo “não ficará em silêncio” caso ataques similares se repitam, e alertou para a possibilidade de uma frente de conflito simultânea entre Líbano, Síria e Israel.
Desde o início do conflito entre Israel e Hamas, em outubro de 2023, o Hezbollah tem realizado ataques esporádicos contra posições israelenses no norte, mas ainda evita confronto aberto. O bombardeio em Damasco, no entanto, pode alterar essa dinâmica.
“Estamos à beira de um conflito multilateral. Um movimento equivocado pode acionar uma cadeia de reações que incluem não apenas o Hezbollah, mas também milícias iraquianas e grupos no Iêmen, como os Houthis”, analisa a pesquisadora do IISS (International Institute for Strategic Studies), Farah Al-Khatib.
Reação internacional: ONU convoca reunião de emergência
O Conselho de Segurança das Nações Unidas foi convocado nesta sexta-feira para uma reunião extraordinária após pedido formal do Irã e da Síria. O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo para que “todas as partes envolvidas exerçam contenção máxima” e alertou para o risco de uma “catástrofe regional”.
A Liga Árabe também se manifestou, classificando o ataque como “violação da soberania síria” e responsabilizando Israel por agravar o conflito no Oriente Médio. Arábia Saudita, Catar e Egito emitiram comunicados em tom crítico.
Mercado reage: petróleo sobe e bolsas caem
O impacto do ataque se refletiu rapidamente nos mercados internacionais. O barril do petróleo tipo Brent ultrapassou a marca de US$ 90 pela primeira vez desde outubro de 2023, com alta de 4,2% em poucas horas.
Investidores temem que o conflito comprometa rotas estratégicas de exportação, como o Estreito de Hormuz, por onde passa cerca de 30% do petróleo mundial.
Bolsas asiáticas e europeias registraram queda, enquanto o ouro voltou a subir, reflexo da busca por ativos considerados mais seguros em tempos de crise.
Brasil acompanha cenário com atenção
O Itamaraty divulgou nota oficial em que “lamenta profundamente os atos de violência em Damasco” e defende uma solução pacífica para os conflitos na região. O governo brasileiro reforçou o compromisso com o multilateralismo e o papel das Nações Unidas na mediação.
No Congresso, parlamentares do PSOL e do PT cobraram posicionamento mais incisivo do governo Lula contra a escalada israelense, enquanto representantes da bancada evangélica manifestaram apoio a Israel.
Histórico de tensão entre Irã e Israel
A rivalidade entre Israel e Irã não é recente. Desde 2011, com o início da guerra civil na Síria, Israel tem realizado centenas de ataques aéreos em território sírio com o objetivo declarado de impedir o fortalecimento da presença iraniana na região.
O recente ataque ocorre em um momento de fragilidade política interna em Israel e de fortalecimento das alianças militares do Irã, especialmente após os recentes acordos de cooperação com a Rússia e a China.
Cenários possíveis e próximos passos
A grande incógnita no atual momento é a intensidade da resposta iraniana. Caso ocorra uma retaliação direta contra território israelense, o risco de guerra aberta aumenta substancialmente.
“Estamos diante de uma encruzilhada. A diplomacia global precisa agir agora para evitar que o Oriente Médio entre em combustão total”, alerta o cientista político francês Jean-Marc Laurent, do Sciences Po.
Enquanto isso, as populações civis permanecem reféns de decisões militares, em meio à instabilidade geopolítica que ameaça se tornar mais um capítulo trágico na história da região.
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