O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia 2025 sob pressão para destravar pautas prioritárias em meio a um ambiente político adverso no Congresso Nacional. Com uma base aliada ainda dispersa, marcada por divisões internas e dependência de partidos de centro e centro-direita, o governo terá que intensificar sua articulação para garantir a aprovação de reformas como a tributária e medidas econômicas consideradas vitais para o equilíbrio fiscal.
Entre os principais desafios está consolidar o apoio de siglas como União Brasil, PSD e MDB, que têm se posicionado de forma ambígua em votações estratégicas. A ausência de uma coalizão sólida expõe o Planalto ao risco de derrotas legislativas que podem comprometer o ritmo de execução das políticas públicas e a credibilidade do Executivo junto ao mercado e à sociedade.
Especialistas alertam para cenário de fragilidade institucional
Segundo o cientista político Cláudio Couto, da FGV, o cenário atual exige mais do que distribuição de cargos e emendas:
“A capacidade de articulação do governo está sendo colocada à prova. Não basta contar votos, é preciso costurar alianças duradouras, sobretudo com um Congresso marcado por fragmentação partidária e personalismo legislativo.”
Na Câmara, presidida por Arthur Lira (PP-AL), a relação com o governo oscilou em 2024 e tende a ser ainda mais tensa em ano pré-eleitoral. No Senado, liderado por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a resistência às pautas do Executivo tende a crescer à medida que o debate sucessório para 2026 ganha fôlego.
Reforma tributária é principal aposta, mas enfrenta resistências
Principal bandeira da equipe econômica, a regulamentação da reforma tributária será o maior teste de articulação do governo neste primeiro semestre. O objetivo é definir regras claras para a transição entre os tributos atuais e o novo sistema de Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
Contudo, a proposta enfrenta forte oposição de setores do comércio, do agronegócio e de governos estaduais que temem perda de arrecadação. Governadores do Centro-Oeste e do Sul têm se mobilizado contra o modelo de repartição proposto.
“Se o governo não atuar com habilidade técnica e política, a reforma corre o risco de ser desfigurada no Congresso”, alerta Ana Carla Abrão, economista e ex-secretária da Fazenda de Goiás.
Eleições municipais de 2024 ainda influenciam o jogo de forças
Embora o novo ano legislativo tenha começado, as feridas das eleições municipais de 2024 ainda influenciam a correlação de forças em Brasília. Muitos parlamentares seguem comprometidos com líderes locais e arranjos políticos que dificultam uma postura coesa no Parlamento.
Além disso, as disputas por influência regional, especialmente nas bancadas do Norte e do Nordeste, continuam afetando a fidelidade da base. A pressão por liberação de emendas e a busca por espaços no segundo e terceiro escalões também geram desgaste entre Planalto e aliados.
Mercado observa com cautela e cobra sinalizações
A dificuldade de aprovar pautas econômicas impacta diretamente a confiança do mercado. O desempenho da bolsa e o comportamento do dólar têm oscilado conforme a percepção de governabilidade. Investidores observam com atenção a tramitação da reforma tributária e de eventuais ajustes fiscais.
“A política continua sendo o principal risco para a economia em 2025. A volatilidade do Congresso é fator determinante para o sucesso ou fracasso das medidas econômicas”, avalia Juliana Inhasz, professora de economia do Insper.
Planos para rearticular a base e consolidar liderança
Diante desse quadro, o Palácio do Planalto articula uma nova rodada de reuniões com líderes partidários e governadores. A estratégia passa por reformular o núcleo político do governo, ampliar a presença de ministros em agendas com parlamentares e redistribuir cargos estratégicos para partidos-chave.
Internamente, auxiliares do presidente defendem uma aproximação mais direta de Lula com o Congresso. Há expectativa de que ele participe pessoalmente de reuniões com bancadas e intensifique agendas regionais, sobretudo em estados onde a base aliada perdeu força.
Governabilidade em xeque: cenário ainda é incerto
Mesmo com um histórico reconhecido de negociação política, o presidente Lula enfrenta um Congresso mais autônomo, fisiológico e ideologicamente diverso do que em seus mandatos anteriores. A governabilidade, neste cenário, depende da combinação entre concessões, reformas inteligentes e comunicação eficiente.
O segundo ano de mandato costuma ser o período mais propício à aprovação de reformas. Após isso, o clima pré-eleitoral se intensifica e o Legislativo tende a paralisar grandes votações.
“Se Lula não conseguir organizar sua base e aprovar as reformas até o fim de 2025, a janela se fecha. E ele corre o risco de terminar o governo com promessas pela metade”, conclui o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.
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