O açaí, fruto nativo da Amazônia, transformou-se em um dos maiores produtos agrícolas do Brasil, gerando empregos e aquecendo economias locais e internacionais. Com um crescimento anual de 15% no consumo, o setor movimenta mais de R$ 40 milhões por ano, de acordo com dados da Embrapa. Por trás desse fenômeno, há uma cadeia produtiva complexa, marcada por desafios logísticos, avanços tecnológicos e oportunidades crescentes.
Produção e sustentabilidade do açaí: um alicerce na Amazônia
O Pará lidera a produção de açaí no Brasil, representando 87,3% do total nacional e exportando mais de 61 mil toneladas anuais. Este avanço significativo reflete a transição do extrativismo para o cultivo em lavouras permanentes, que em 2015 ultrapassaram a marca de 1 milhão de toneladas.
Segundo João Oliveira, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, a sustentabilidade é fundamental nesse processo. “Sem práticas sustentáveis, a pressão sobre os açaizais nativos pode comprometer os recursos naturais. Investimos em manejo integrado para equilibrar produção e preservação ambiental”, afirma.
Além disso, iniciativas para recuperar áreas degradadas e incentivar a diversificação agrícola têm garantido alternativas econômicas para comunidades locais, fortalecendo a preservação ambiental e reduzindo a necessidade de desmatamento.
Crescimento das exportações: o açaí no mercado internacional
Entre 1999 e 2023, o volume exportado de derivados de açaí saltou de menos de 1 tonelada para impressionantes 61 mil toneladas. O valor exportado também deu um salto expressivo, de US$ 1 mil para US$ 45 milhões, conforme aponta a Fapespa.
Esse crescimento está diretamente ligado ao apelo do açaí como superalimento, rico em antioxidantes e nutrientes. Países como Estados Unidos, Japão e nações europeias lideram a demanda, consolidando o fruto como um produto estratégico. Mariana Souza, economista especialista em mercados emergentes, destaca a importância desse mercado: “O açaí agrega valor por sua associação com saúde e sustentabilidade, mas exige que a cadeia produtiva atenda padrões de qualidade rigorosos, o que pode ampliar ainda mais a competitividade.”
Logística e processamento: gargalos e avanços
Após a colheita, o açaí passa por um processamento rigoroso que garante a retirada da polpa e a conservação do produto. Esse processo exige infraestrutura avançada, com câmaras frias e transporte refrigerado.
A logística, contudo, ainda é um desafio. Caminhões refrigerados e centros de distribuição são essenciais para preservar a qualidade do fruto durante o transporte, especialmente para mercados distantes. Rafael Duarte, economista especializado em agronegócio, aponta o alto custo logístico como um dos entraves: “O transporte para grandes mercados, como Estados Unidos e Europa, encarece o produto e reduz a competitividade. Investimentos em infraestrutura são cruciais para superar essas barreiras.”
Mercado interno do açaí: diversidade de consumo
O consumo doméstico de açaí cresce continuamente, impulsionado por açaiterias e supermercados em grandes centros urbanos. O fruto é comercializado em diferentes formas, desde tigelas personalizadas até sucos e sorvetes. Em regiões mais próximas dos centros de produção, como Tocantins, os preços são mais acessíveis. Já em estados como Goiás, os custos logísticos elevam os valores em até 30%.
As açaiterias, por sua vez, popularizam o consumo urbano, oferecendo produtos que combinam tradição e inovação gastronômica.
Desafios e oportunidades no setor
Apesar do crescimento expressivo, o mercado de açaí enfrenta desafios como sazonalidade, variação de preços e questões trabalhistas. O extrativismo tradicional ainda convive com a necessidade de modernização, enquanto o setor industrial busca maior eficiência logística e ampliação de mercados.
Por outro lado, a tendência global de consumo de alimentos naturais e saudáveis representa uma grande oportunidade. Iniciativas como certificações de origem e rastreabilidade agregam valor aos produtos derivados do açaí, consolidando sua posição no mercado global.
O futuro do açaí: potencial econômico e biodiversidade
O açaí, que há décadas era consumido apenas em comunidades amazônicas, tornou-se símbolo do potencial econômico e da riqueza biodiversa do Brasil. Seu crescimento demonstra como produtos tradicionais podem ser transformados em indústrias de alta relevância, gerando emprego, renda e contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
Com investimentos em tecnologia, logística e sustentabilidade, o mercado de açaí está preparado para conquistar novos patamares, levando a biodiversidade brasileira a consumidores em todo o mundo.
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