Em uma movimentação política estratégica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou, neste mês de abril, a nomeação do deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil–MA) como novo ministro das Comunicações. Ele substitui Juscelino Filho, que pediu exoneração após investigações da Polícia Federal apontarem indícios de desvio de emendas parlamentares destinadas a obras públicas no Maranhão.
A mudança ocorre em meio a articulações para consolidar o apoio do União Brasil — partido com 59 deputados federais e presença relevante no Centrão — à base do governo federal na Câmara. Segundo apuração do Diário de Aparecida, Lula acertou pessoalmente a indicação com as principais lideranças do União, prevendo não apenas reforço na articulação política, mas também avanços concretos em áreas tecnológicas sensíveis, como conectividade digital e modernização dos Correios.
Dados e desafios: o peso da conectividade no Brasil
Um dos principais eixos da nova gestão será a ampliação do programa de conectividade digital em escolas públicas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que, em 2023, 28% das escolas públicas brasileiras não tinham acesso regular à internet de banda larga, sendo que esse número chega a 48% nas áreas rurais.
De acordo com o Censo Escolar, mais de 6,7 milhões de estudantes estão em escolas sem infraestrutura digital mínima para ensino híbrido. O novo ministro pretende acelerar a execução do programa “Wi-Fi Brasil”, que tem R$ 2,4 bilhões em orçamento previsto para 2025 e já conectou 17.200 escolas até março deste ano — a meta é alcançar 35 mil unidades até o fim do ano, segundo técnicos da pasta.
União Brasil e o pragmatismo do Centrão
Pedro Lucas Fernandes, engenheiro civil de formação, tem 35 anos e construiu sua trajetória política no Maranhão, estado governado pelo PSB, aliado do Planalto. Na Câmara, destacou-se como líder do União Brasil entre 2023 e 2025, ganhando espaço ao adotar postura conciliadora em temas econômicos e sociais.
A entrada de Fernandes tem forte carga simbólica: o União Brasil vinha pressionando por mais espaço no governo federal e ameaçava rebelar-se em votações estratégicas, como a taxação de fundos exclusivos e a reforma tributária. A nomeação deve ampliar o apoio formal do partido à coalizão governista, hoje composta por PT, MDB, PSD, PSB e setores do próprio União.
Segundo levantamento da consultoria Arko Advice, o governo Lula passou a contar com uma base de 313 votos na Câmara dos Deputados, o que garante maioria para aprovar projetos ordinários. Com a chegada de Fernandes, essa base pode chegar a 330 votos, dependendo do comportamento dos parlamentares dissidentes.
Modernização dos Correios e parcerias com o setor privado
Outro eixo de atuação do novo ministro será a modernização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). A estatal, que enfrentou sucessivos prejuízos entre 2015 e 2020, voltou a registrar superávit em 2023 (R$ 540 milhões, segundo o TCU), mas ainda enfrenta desafios relacionados à competitividade, digitalização e expansão logística.
Entre as metas da nova gestão está a criação de hubs logísticos regionais, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Norte, além da expansão dos serviços de entrega em áreas periféricas, com apoio de startups e cooperativas locais. A pasta estuda um novo modelo de parceria público-privada (PPP) para modernizar centros de distribuição e incluir novas tecnologias de rastreamento e entrega inteligente.
Especialistas ouvidos pela reportagem avaliam que, sem modernização estrutural, os Correios correm risco de perder ainda mais espaço para gigantes como Mercado Livre, Amazon e Shopee, que já operam com logística própria em 88% dos municípios brasileiros.
Juscelino Filho: desgaste e saída antecipada
A exoneração de Juscelino Filho (União Brasil–MA), embora negociada, ocorreu sob pressão. Investigado por supostos desvios de R$ 5,9 milhões em emendas parlamentares quando ainda era deputado federal, ele foi alvo de denúncia do Ministério Público Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). O Palácio do Planalto já monitorava sua situação desde janeiro.
Apesar de ter resistido a sair, a permanência de Juscelino se tornou insustentável após revelações de contratos com empresas de familiares e obras paralisadas em municípios maranhenses. Segundo fontes do Congresso, a cúpula do União Brasil foi consultada previamente sobre sua substituição e aceitou indicar Pedro Lucas como alternativa mais “limpa” e alinhada com os interesses da legenda.
Quem é Pedro Lucas Fernandes?
Filho do ex-deputado Pedro Fernandes, Pedro Lucas é visto como uma liderança emergente no Maranhão. Em seu segundo mandato na Câmara, é conhecido pela habilidade de transitar entre diferentes campos ideológicos, o que o tornou peça-chave nas negociações da reforma administrativa e da lei geral de licitações.
Nos bastidores, o novo ministro é descrito como habilidoso, discreto e pragmático, qualidades que agradam tanto ao núcleo político do Planalto quanto ao mercado, especialmente em temas ligados à digitalização da economia e atração de investimentos.
Além disso, Pedro Lucas é defensor da retomada dos investimentos em radiodifusão pública, como a reestruturação da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que deverá ganhar nova diretoria e ampliar a produção de conteúdo educacional e informativo em redes públicas de rádio e TV.
O que esperar dos próximos meses
A expectativa é que Pedro Lucas assuma oficialmente após o feriado de Tiradentes, com cerimônia marcada para a semana seguinte. Até lá, a pasta segue sob comando interino da secretária-executiva Sônia Faustino Mendes.
Na prática, a nova gestão deverá priorizar:
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Implantação de infraestrutura digital em 18 mil novas escolas;
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Lançamento de novo edital de PPPs voltado à logística dos Correios;
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Reestruturação da EBC com foco em educação e cidadania;
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Aumento de 20% no orçamento da pasta para projetos digitais até 2026;
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Conclusão de linhas de fibra ótica em 1.500 localidades remotas.
Especialistas analisam a mudança
Para analistas ouvidos pelo Diário de Aparecida, a nomeação de Pedro Lucas atende a dois objetivos simultâneos: ampliar a eficiência de gestão no Ministério das Comunicações e consolidar apoio político em um Congresso fragmentado.
“É uma movimentação típica do presidencialismo de coalizão, onde a governabilidade exige acomodação de interesses partidários. O diferencial é que Pedro Lucas traz também preparo técnico e visão de longo prazo, especialmente no setor de conectividade educacional”, analisa um especialista em governança pública.
“Os desafios são muitos, especialmente na modernização dos Correios e no combate à exclusão digital. Mas com orçamento robusto e capital político, Pedro Lucas tem chances reais de entregar resultados ainda em 2025”, afirma outro consultor do setor.
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