A noite do Oscar 2025 entrou para a história do cinema brasileiro com a consagração de ‘Ainda Estou Aqui’ como o vencedor da categoria Melhor Filme Internacional. A obra, dirigida por Walter Salles, emocionou o público e a crítica, garantindo ao Brasil sua primeira estatueta nessa categoria.
A vitória histórica do Brasil no Oscar
O filme, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, narra a luta de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, para encontrar justiça pelo sequestro e assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). Com uma narrativa poderosa sobre resistência e memória histórica, a produção conquistou reconhecimento mundial.
Ao receber a estatueta, Walter Salles fez um discurso emocionante: “Esse filme vai para uma mulher que, após uma perda enorme por um regime autoritário, decidiu não se render: Eunice Paiva”. O diretor dedicou o prêmio às atrizes que deram vida à protagonista e enfatizou a importância do cinema na preservação da memória e da luta por justiça.
O reconhecimento internacional e o impacto global
A vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar coroou uma trajetória vitoriosa do longa em festivais internacionais. Antes da premiação da Academia, o filme já havia sido premiado no Globo de Ouro, no Goya, no Festival de Veneza e no Festival Internacional de Roterdã. O longa foi exibido em mais de 700 salas nos Estados Unidos, consolidando-se como um dos filmes mais impactantes do ano.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a conquista em suas redes sociais, destacando o orgulho pelo cinema brasileiro: “Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia”.
Fernanda Torres indicada ao Oscar de Melhor Atriz
Além do prêmio de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui também rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Fernanda Torres, que entregou uma performance intensa no papel de Eunice Paiva. Apesar da forte campanha, a estatueta ficou com Mikey Madison, vencedora pelo filme Anora.
A importância de ‘Ainda Estou Aqui’ no debate sobre a ditadura militar
O impacto de Ainda Estou Aqui vai além do reconhecimento cinematográfico. O filme trouxe à tona o debate sobre a Lei da Anistia, promulgada em 1979, que perdoou crimes cometidos durante a ditadura militar. O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou discussões sobre a possibilidade de revisão da lei, impulsionado pelo sucesso da obra.
Para juristas e especialistas, a repercussão do filme reacendeu o interesse na responsabilização dos agentes do regime. O caso de Rubens Paiva, desaparecido nos anos 1970 e oficialmente reconhecido como morto pelo Estado brasileiro apenas quatro décadas depois, simboliza uma ferida ainda aberta na história nacional.
A filha do ex-deputado, Eliana Paiva, comentou a importância do longa: “Antes de qualquer coisa, é a denúncia de um assassinato brutal dentro de um quartel do Exército no Brasil. Do que estamos tratando é de um assassinato”.
Crítica e recepção do filme
Desde sua estreia em festivais internacionais, Ainda Estou Aqui foi amplamente elogiado. A produção alcançou 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, plataforma que reúne avaliações da crítica especializada. O The Times descreveu a obra como “um dos maiores filmes sobre maternidade”, comparando-o a clássicos como Mildred Pierce e Room. A BBCelegeu o longa como um dos melhores do ano.
No entanto, algumas análises apontaram que o filme poderia ter aprofundado ainda mais a indignação e o impacto político do caso. O crítico britânico Peter Bradshaw, do The Guardian, escreveu que “o filme – na sua lealdade ao autocontrole da própria Eunice – ignora o horror e a raiva que certamente também devem estar presentes em algum lugar dessa história”.
Já a crítica brasileira Isabela Boscov destacou que o longa representa “um novo fôlego para o cinema nacional”, comparando seu impacto ao de Central do Brasil (1998), também dirigido por Walter Salles.
O legado de ‘Ainda Estou Aqui’
A vitória no Oscar de 2025 não é apenas um marco para Walter Salles, mas para todo o cinema brasileiro. O longa trouxe visibilidade para a história de Eunice Paiva e para a luta dos familiares de vítimas da ditadura. Com uma narrativa sensível e impactante, o filme se consolida como uma das mais importantes produções nacionais da história.
A partir de agora, o legado de Ainda Estou Aqui seguirá vivo, tanto na memória do público quanto nos debates sobre justiça e democracia. O cinema brasileiro alcançou um novo patamar, e o mundo assistiu ao poder das histórias que nosso país tem para contar.
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