A comunicação pública não é um favor. É um dever. E, como dever, não comporta escolhas baseadas em vaidades pessoais, simpatias ou antipatias. No entanto, o que se observa — e não é raro — é a gestão da comunicação institucional refém de egos, tanto de gestores quanto de assessores que confundem espaço público com território privado de influência.
A função de uma assessoria pública, seja no âmbito municipal, estadual ou federal, é garantir que a informação de interesse coletivo circule de forma isenta, democrática e republicana. Isso não é discurso. Está previsto na Constituição, nas normas que regem a administração pública e nos princípios que sustentam o serviço público: impessoalidade, legalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O que a prática mostra, no entanto, é que muitas estruturas de comunicação transformam a relação com a imprensa em um jogo de preferências. E aqui não se discute o critério financeiro, que deve — e precisa — ser regulamentado, auditado e aplicado de forma proporcional à audiência, ao alcance e aos indicadores técnicos dos veículos, como determinam os Tribunais de Contas.
O problema está além do pagamento por mídia. Está na gestão da informação. No acesso. Naquilo que deveria ser o básico: responder a todos os veículos de maneira igualitária, fornecer dados, esclarecer fatos e cumprir o papel de ponte entre governo e sociedade.
Quando uma gestão escolhe seu “veículo favorito” e, de forma sistemática, ignora outros — seja não respondendo, seja bloqueando o acesso, seja limitando a circulação de informações — o que se estabelece é uma quebra de confiança. Mais do que isso: é um erro de gestão. Um erro grave.
A comunicação pública não é uma extensão do marketing pessoal do prefeito, do governador ou do presidente. Ela não pode ser uma extensão da vaidade de quem ocupa a cadeira da Secretaria de Comunicação. Comunicação pública é política de Estado, não de governo. E muito menos de pessoa.
Natural que existam, em determinados momentos, estratégias específicas de divulgação. Isso faz parte. Um anúncio econômico pode priorizar um veículo especializado. Uma pauta social pode ser dirigida inicialmente a quem cobre aquele tema. Isso é planejamento. Isso é técnica.
O que não é aceitável — e infelizmente é recorrente — é o uso da estrutura pública para alimentar favoritismos, recompensar amigos e punir críticos. É quando se observa que o problema não está no orçamento, mas no ego.
E o efeito é duplo: prejudica a própria gestão, que se isola, se fecha, e perde a oportunidade de comunicar seus atos de forma ampla; e prejudica, sobretudo, o cidadão, que deixa de ter acesso à informação completa, plural e transparente — princípio basilar de qualquer democracia.
Uma gestão pública que não sabe lidar com o contraditório, com a diversidade de opiniões e com a pluralidade da imprensa revela, na verdade, sua própria fraqueza institucional. Quem só responde aos aliados e silencia diante dos críticos não pratica comunicação. Pratica censura velada.
O exercício da comunicação pública exige maturidade. Exige preparo. E, sobretudo, exige a capacidade de entender que não se trata de projeto pessoal. Trata-se de servir. E servir ao interesse público.
Se há algo que deveria ser inegociável, é isso.
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