Os temporais que atingem o Rio Grande do Sul já deixaram 75 mortos confirmados, 6 óbitos em investigação, 103 desaparecidos e 155 pessoas feridas até este domingo (5). A chuva, que começou em 27 de abril, ganhou força no dia 29.
Cronologia
Os impactos atingiram diversas regiões do Rio Grande do Sul, diferentemente de 2023, quando os temporais foram em regiões isoladas. As áreas mais afetadas são os vales dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos, Gravataí, além do Guaíba, em Porto Alegre.
O primeiro temporal ocorreu dia 27 de abril. Antes do início da tragédia, alguns municípios do Vale do Rio Pardo registraram impactos provocados pela chuva e pelo granizo. Santa Cruz do Sul foi uma das cidades mais afetadas.
No dia seguinte, dia 28, a Defesa Civil chegou a registrar impactos em 15 municípios após o temporal do dia anterior. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta laranja com risco de tempestade para toda a metade sul do estado.
O alerta vermelho veio na segunda, 29 de abril. Uma casa pegou fogo, em Taquara, após ser atingida por um raio. Ninguém se feriu.
As primeiras mortes foram registradas na terça, 30 de abril. Dois homens que estavam dentro de um carro morreram após o veículo ter sido arrastado pela água em Paverama. No mesmo dia, o número de vítimas chegou a oito.
Estradas foram bloqueadas em diversas regiões. A força da água arrastou um trecho da BR-290 em Eldorado do Sul. Uma ponte foi levada pela água, em Santa Teresa, durante uma gravação da prefeita alertando sobre o temporal.
No dia primeiro, uma ponte também foi destruída em Santa Maria. A queda ocorreu no km 228 da RSC-287. O número de mortes chegou a 11. Uma das vítimas morreu após um deslizamento em Salvador do Sul.
Um vídeo mostra o momento em que uma mulher é arrastada pela correnteza do rio, em Candelária. Ela foi encontrada viva e falou sobre o pesadelo que viveu.
A ponte que ficava sobre o Rio Pardinho, em Rio Pardo, foi levada pela força da água.
Parte de uma casa foi levada pela força das águas de uma enchente em Putinga. A parte construída em madeira se desprende do restante do imóvel, construído com tijolos.
Um homem que ficou 15 horas sobre o carro foi resgatado por quatro amigos entre Cachoeira do Sul e Rio Pardo.
No mesmo dia, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), admitiu a dificuldade de resgatar todas as pessoas afetadas. “Nós não teremos capacidade de fazer todos os resgates”, disse.
No final do dia, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu uma “orientação expressa” para que moradores do Vale do Taquari deixassem áreas de risco.
Na última quinta, 2 de maio, o estado terminou o dia registrando 32 mortes, entre a contagem oficial da Defesa Civil e óbitos informados por outras autoridades. O volume de chuva que caiu nos últimos dias equivalia a três vezes a média para esta época do ano. O Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública.
O presidente Lula (PT) e o governador Eduardo Leite (PSDB) chegaram a discutir sobre as ações para enfrentar as cheias no Rio Grande do Sul. Lula disse que não faltará recurso e citou “um comando conjunto”.
Na sexta, 3, o dia terminou com a contagem de 39 mortes no estado. Os efeitos do temporal começaram a ser sentidos, com maior gravidade, em Porto Alegre. Durante a manhã, autoridades bloquearam o trânsito sobre as duas pontes do Guaíba em razão da alta do Rio Jacuí e “avarias aparentes”, após duas embarcações colidirem contra a estrutura da ponte nova.
O nível do Guaíba passou de 4,6 metros. As águas atingiram a Rodoviária, ruas do Centro Histórico, os centros de treinamento de Internacional e Grêmio e outros pontos. No fim do dia, o nível do Guaíba chegou a 4,77 metros, ultrapassando o recorde de 1941.
A Defesa Civil estadual emitiu alerta e determinou a evacuação de comunidades em sete cidades após o rompimento parcial da barragem 14 de Julho. Ao todo, quatro barragens apresentavam risco de rompimento.
Equipes de resgate iniciaram as buscas por 34 pessoas que ficaram presas em um deslizamento em um trecho que liga Veranópolis a Bento Gonçalves.
Maior tragédia da história
No sábado, 04, aconteceu a maior tragédia da história. Com o número de 55 mortos confirmados e outros sete em investigação, a tragédia atual superou a ocorrida no Vale do Taquari, em 2023, que deixou 54 vítimas. O RS vive sua maior tragédia climática da história.
Uma explosão dentro de um posto de combustíveis na Zona Norte de Porto Alegre causou um incêndio com feridos. Presídios ficaram ilhados, e o estado precisou transferir detentos. Um buraco se abriu na Avenida Castelo Branco, no sentido Litoral/Capital. Com isso, o principal acesso a Porto Alegre ficou bloqueado. A pista cedeu após a água que passa por baixo da avenida, por uma comporta, levar parte do asfalto.
Cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, como Canoas, Eldorado do Sul e Guaíba, registraram inundações. Autoridades e voluntários trabalham, com barcos e motoaquáticas para ajudar pessoas isoladas, que esperaram por resgate em cima de imóveis e de viadutos.
Na madrugada deste domingo (5), de acordo com a medição da Prefeitura de Porto Alegre. Às 7h, o lago estava com 5,30 metros. A Defesa Civil do Rio Grande do Sul afirmou que mais 66 mortes foram confirmadas em razão dos temporais que atingem o estado, conforme boletim divulgado às 9h. Outros seis óbitos já confirmados estão sendo investigados, para verificar se têm relação com a tragédia.
Ainda pela manhã, o presidente Lula (PT), juntamente com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin sobrevoaram de helicóptero a capital gaúcha, além do município de Canoas, onde 180 mil pessoas foram atingidas pelos temporais.
Durante a tarde, os representantes fizeram uma manifestação à imprensa, se solidarizando com o episódio. Na ocasião, Lula afirmou que não haverá “impedimento da burocracia” para recuperar o estado.
Solidariedade
No domingo, o governador Wanderlei Barbosa determinou ao Corpo de Bombeiros Militar do Tocantins (CBMTO) o envio imediato de homens, cães e equipamentos para se juntarem às forças de busca e resgate das vítimas da catástrofe climática.
“Nossa corporação se desloca neste domingo para ajudar os nossos irmãos do Rio Grande do Sul. Entendemos que o estado gaúcho vive uma situação delicada, no qual as fortes chuvas estão tirando vidas e isso muito nos preocupa. Nós temos a confiança em nosso Corpo de Bombeiros, e temos a certeza que um bom trabalho será feito, pois conhecemos o potencial do nosso efetivo e sabemos que temos equipes qualificadas”, afirma o governador Wanderlei Barbosa.
O Governo do Tocantins disponibilizou uma aeronave para transportar a equipe, que no estado do sul vai operar por embarcações e também por terra. A Companhia Independente de Busca e Salvamento (Cibs), por meio da Seção de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (SBRESC), vai disponibilizar dois Binômios de busca (Bombeiro Militar+Cão), além de dois mergulhadores para ajudar nas buscas. Além disso, o Corpo de Bombeiros do Tocantins cederá um tenente como oficial de ligação para coordenação e comunicação da missão no Rio Grande do Sul.
Personalidades e instituições se mobilizam para organizar vaquinhas e enviar doações aos necessitados. O humorista Whindersson Nunes (que diz ter arrecadado R$ 3 milhões), o gamer Gaules (mais de R$ 300 mil) e o empresário Eduardo Badin (R$ 13 milhões, segundo a “CNN”) são exemplos disso.
Outras instituições também estão arrecadando. A Universidade de São Paulo (USP) está recebendo água potável e material de limpeza, como água sanitária, sabão em pó, panos de chão e desinfetante, para a população gaúcha. A campanha é feita em todos os campi até a próxima quarta-feira, quando os produtos arrecadados serão repassados à Defesa Civil de São Paulo antes de serem enviados ao Sul.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) informou que vai transferir R$ 10 milhões do saldo remanescente da extinta Conta Regional de Destinação de Prestações Pecuniárias do Judiciário mineiro para a Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Tite, técnico do Flamengo, pediu aos seguidores e torcedores do clube para contribuírem com doações. O Fundo Social de São Paulo, a Força Aérea Brasileira (FAB) e os Correios também estão ajudando.
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