Mesmo com as pesquisas sendo registradas no Tribunal Superior Eleitoral, com informes de metodologia, estatístico responsável e todos os pré-requisitos cumpridos, ainda vemos publicadas coisas muito esquisitas durante o período da campanha eleitoral. Tem pesquisa que coloca o candidato X com 70% ou 80% da preferência do eleitorado numa determinada cidade e depois o sujeito vai e perde a eleição.
Tem estado em que vários institutos de pesquisa partilham do mesmo estatístico (profissional formado em Estatística) para publicar suas pesquisas. Até não existiria problema nisso, se os resultados entre as pesquisas e a realidade não fossem tão díspares.
Até tem uma cidade ou outra que o prefeito realmente tem lá os seus 50% ou 60% porque tem um trabalho efetivo e que agrada a comunidade, mas a turma do contra tá sempre lá, pra marcar o voto contra no dia da eleição, sem contar os votos brancos e nulos ou aqueles que nem comparecem em protesto.
E essa mania que os políticos (e algumas assessorias) têm de se achar a última coca-cola do deserto é que faz com que eles percam eleições. Muitas vezes o cara quer economizar no dinheiro da campanha e não leva em consideração fazer uma pesquisa verdadeira, ou mesmo contratar pessoas especialistas em campanha para colocar o pé do candidato e sua trupe no chão.
As pesquisas que colocam o nome do candidato muito pra cima podem fazer com que a chamada militância relaxe e entre no clima do “Já Ganhou”. Não pode existir nada pior que isso!
Vou citar aqui dois casos: o primeiro é do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, hoje presidente nacional do PSDB, em sua primeira campanha, contra o então lendário Íris Rezende Machado, no então PMDB, em 1998. O segundo caso é do atual senador e líder do governo Jaques Wagner (PT) em sua campanha para governador em 2006 contra o então governador Paulo Souto (PFL), que tentava a reeleição.
No primeiro caso, Íris Rezende, então senador por Goiás, tinha sido ministro da Justiça no governo FHC e iria para sua terceira tentativa de governar o Estado e praticamente não tinha opositores. Falava-se que Íris Rezende conquistaria com facilidade o terceiro mandato de governador de Goiás. E nessa esteira de quase certeza dos partidários de Íris surge o nome de Marconi Perillo, então deputado federal quase numa bravata para enfrentar o então poderoso ex-governador, ex-ministro da Justiça e então exercendo mandato de senador.
Para resumir a história, a campanha começa com Íris Rezende ostentando quase 70% nas pesquisas eleitorais do início da campanha e Marconi Perillo lá com meros pouco mais de 6%. No primeiro turno Marconi já terminou o primeiro turno na frente do adversário, com mais de 32 mil votos de frente. No Segundo Turno, Marconi terminou o pleito com 1.157.988 votos, contra 1.015.340 de Iris.
Já na Bahia, em 2006, em determinado momento nem a equipe de campanha de Jaques Wagner (PT) acreditava que ganharia de Paulo Souto (PFL) e toda a máquina estatal, além da força da família de Antônio Carlos Magalhães. Até as pesquisas internas apontavam vitória do adversário, quando Jaques Wagner reuniu a equipe e pediu que suspendessem todos as pesquisas programadas e que todos os militantes e profissionais da campanha não levassem em consideração nenhuma pesquisa. O petista pediu ainda que todos arregaçassem as mangas e fossem para as ruas para o chamado corpo-a-corpo com o eleitor.
E assim foi feito, os profissionais pegaram firme na campanha, nas produções para a TV e a militância foi para as ruas em todas as cidades da Bahia. O resultado final foi que Jaques Wagner foi eleito governador da Bahia, depois de décadas de dominação dos carlistas. E descobriu-se que os eleitores falavam uma coisa nas pesquisas e depois fizeram outra nas urnas, uma revolta silenciosa.
No mais, sabe-se que pesquisa avalia um momento da campanha e depois daquele momento, tudo pode mudar.
Então, se a campanha pode ter a pesquisa, é bom, mas precisa saber fazer bom uso das informações que ela traz.
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