O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou nesta quinta-feira (21) que o conflito na Ucrânia adquiriu características de uma guerra “mundial” e alertou que o Kremlin pode tomar medidas contra as potências ocidentais que fornecem armamentos à Ucrânia. Em um discurso televisionado, o líder russo afirmou que o uso de armas ocidentais por Kiev para atacar o território russo marca uma nova etapa no conflito, que ele caracterizou como uma “escalada perigosa”.
Putin destacou dois ataques recentes realizados pela Ucrânia contra o território russo, utilizando mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido. “Desde o momento em que essas armas foram usadas contra a Rússia, e como tínhamos advertido, o conflito provocado pelo Ocidente na Ucrânia adquiriu elementos de caráter mundial”, declarou o presidente russo.
Além disso, o líder do Kremlin mencionou o lançamento de um novo míssil balístico hipersônico, conhecido como “Oreshnik”, em sua configuração desnuclearizada, em resposta aos ataques ucranianos. Segundo Putin, o alvo do disparo foi um complexo militar-industrial na Ucrânia.
Ameaça à estabilidade global
Especialistas em geopolítica apontam que as declarações de Putin representam uma tentativa de pressionar o Ocidente a reconsiderar seu apoio militar a Kiev. Para o analista internacional Alexander Petrov, professor da Universidade Estatal de Moscou, o discurso de Putin é um recado direto aos Estados Unidos e seus aliados. “A Rússia está sinalizando que a continuidade do fornecimento de armamentos pode transformar a guerra na Ucrânia em um conflito direto entre potências nucleares. Isso é algo que ninguém, incluindo Moscou, deseja, mas as tensões estão em um ponto crítico”, avalia.
Por outro lado, o especialista em segurança internacional James Callahan, da Universidade de Georgetown, interpreta as declarações de Putin como uma tentativa de reafirmar sua posição diante de uma situação militar desafiadora. “A Ucrânia, com o apoio do Ocidente, conseguiu realizar operações significativas, incluindo ataques ao território russo. Putin precisa mostrar força para sua base doméstica e para seus aliados, enquanto tenta intimidar a coalizão ocidental”, argumenta Callahan.
Já a analista política ucraniana Yulia Kravchenko vê o discurso de Putin como uma estratégia de desviar o foco das dificuldades enfrentadas pela Rússia no campo de batalha. “A Rússia perdeu terreno significativo desde o início da contraofensiva ucraniana. Ao falar de uma guerra mundial, Putin tenta transformar um fracasso estratégico em uma questão de sobrevivência nacional, mobilizando o apoio interno e pressionando aliados hesitantes”, explica.
Reações internacionais
Os Estados Unidos reagiram prontamente às declarações de Putin, acusando o Kremlin de “irresponsabilidade retórica”. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que a escalada no conflito é resultado das ações da Rússia. “Desde o início, deixamos claro que a Rússia é a responsável por cada passo rumo à escalada. O apoio à Ucrânia continuará enquanto for necessário”, disse Jean-Pierre.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, também se manifestou, classificando o disparo do míssil russo como um “ato de desespero”. Em uma publicação nas redes sociais, Zelensky afirmou: “A comunidade internacional não pode se calar diante de ações que ameaçam a paz global. A Ucrânia continuará lutando por sua soberania.”
Escalada ou dissuasão?
A decisão de Putin de lançar um míssil hipersônico e suas ameaças ao Ocidente levantam questionamentos sobre até onde a Rússia está disposta a ir para evitar uma derrota estratégica na Ucrânia. Alexander Petrov acredita que o uso de armas hipersônicas é uma tentativa de dissuadir os Estados Unidos e a Europa de intensificarem o apoio militar à Ucrânia. “Essas armas são um lembrete de que a Rússia possui capacidades que podem mudar o equilíbrio estratégico, mesmo sem recorrer ao arsenal nuclear”, afirma.
Por outro lado, James Callahan ressalta que o Ocidente não deve recuar diante das ameaças russas. “Ceder às pressões de Putin seria um erro estratégico. A Ucrânia está demonstrando capacidade de avançar, e os aliados ocidentais precisam manter o apoio militar e econômico para garantir o sucesso dessa contraofensiva.”
Yulia Kravchenko acrescenta que a Ucrânia vê as declarações de Putin como uma demonstração de fraqueza. “Quanto mais agressiva a retórica de Moscou, mais clara se torna a dificuldade enfrentada pela Rússia no campo de batalha. É essencial que a Ucrânia e seus aliados mantenham o foco na recuperação territorial e na pressão econômica sobre o Kremlin.”
Impacto global da fala de Putin
A escalada do conflito na Ucrânia não apenas intensifica as tensões entre as potências, mas também agrava a insegurança global em diversas áreas, como economia, energia e segurança alimentar. Para Clara Tavares, especialista em economia internacional, os choques causados pela guerra já afetam mercados globais. “O prolongamento do conflito pode levar a um aumento nos preços do petróleo e do gás, além de agravar as crises alimentares em regiões que dependem de exportações de grãos da Ucrânia e da Rússia”, afirma.
Por sua vez, o especialista em energia Sergei Karpov alerta que a retórica agressiva de Putin pode impactar diretamente o fornecimento de gás natural para a Europa. “Apesar de o continente ter diversificado suas fontes, a dependência de alguns países da energia russa ainda é significativa. Qualquer interrupção no fornecimento poderia reacender uma crise energética.”
Enquanto isso, líderes globais continuam pedindo diálogo. O secretário-geral da ONU, António Guterres, reiterou a necessidade de negociações de paz e alertou para os riscos de uma escalada nuclear. “A humanidade não pode se dar ao luxo de enfrentar mais um conflito global. Precisamos de um cessar-fogo imediato e de soluções diplomáticas”, declarou.
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