Filho do ex-presidente reforça sinal de continuidade do trumpismo, enquanto especialistas avaliam impactos na democracia e na geopolítica mundial
Donald Trump Jr., filho mais velho do ex-presidente Donald Trump, admitiu publicamente que considera se candidatar à presidência dos Estados Unidos. A declaração reacende o debate sobre a continuidade da influência da família Trump na política americana e as possíveis repercussões desse movimento para a democracia dos EUA e para a política internacional.
A sinalização foi feita durante uma entrevista a um podcast conservador nos Estados Unidos. Na ocasião, Trump Jr. afirmou que “não descarta” a possibilidade de disputar a Casa Branca, caso perceba que sua candidatura seja uma demanda do eleitorado conservador.
A fala surge em um momento em que seu pai, Donald Trump, lidera as pesquisas entre os republicanos, mesmo enfrentando dezenas de processos na Justiça — incluindo acusações criminais sem precedentes contra um ex-presidente americano.
A força do trumpismo como movimento político
Desde 2016, o fenômeno Trump deixou de ser apenas um episódio político isolado para se tornar um movimento ideológico com forte apelo entre conservadores e populistas dos Estados Unidos e de outros países. A possível candidatura de Trump Jr. indica não só uma tentativa de manutenção desse legado, como também a consolidação de dinastias políticas, fenômeno até então mais associado aos Bush e aos Kennedy.
Análise dos especialistas
De acordo com o cientista político americano Bruce Cain, professor da Universidade de Stanford, a declaração de Trump Jr. não é apenas retórica eleitoral. “Ele está testando a reação do público e do Partido Republicano. Se perceber que há espaço, pode avançar”, afirma.
A pesquisadora em relações internacionais Carla Campos, aponta que, caso se confirme, a candidatura de Donald Trump Jr. tem potencial de intensificar as tensões internas dos EUA. “O trumpismo é marcado pela desinformação, pelo ataque às instituições e pelo discurso de ódio. A perpetuação desse modelo compromete os pilares democráticos não só dos EUA, mas influencia democracias no mundo todo”, analisa.
Impacto internacional
Para analistas da política externa, uma candidatura de Donald Trump Jr. reforçaria o isolamento dos EUA no cenário internacional, tendência já observada durante a gestão de seu pai (2017-2021). Naquele período, os Estados Unidos abandonaram acordos como o Acordo de Paris sobre o clima, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e tensionaram alianças históricas com a União Europeia e a Otan.
“O trumpismo não é apenas um fenômeno doméstico. Ele tem repercussões no mundo inteiro, sobretudo na relação dos EUA com China, Rússia e América Latina. A volta de um Trump à presidência colocaria novamente em xeque os compromissos multilaterais dos Estados Unidos”, destaca o pesquisador do Wilson Center, James Hollifield.
Cenário eleitoral e riscos democráticos
Atualmente, Donald Trump lidera as intenções de voto no Partido Republicano, com mais de 60% das preferências, segundo levantamento recente da Quinnipiac University. Já nomes como Ron DeSantis, ex-governador da Flórida, perderam força após tentativas de se posicionar como alternativa ao trumpismo.
Para o professor de direito constitucional da Universidade de Harvard, Laurence Tribe, a possibilidade de mais um Trump na corrida presidencial deve ser analisada sob a ótica dos riscos democráticos. “O trumpismo se apoia na descredibilização das instituições. Essa retórica já levou à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. O risco é real e crescente.”
Reflexos no Brasil e na América Latina
No Brasil e em outros países da América Latina, onde movimentos de direita populista ganharam força nos últimos anos, a continuidade da influência da família Trump pode reativar pautas conservadoras, negacionistas e anti-globalistas. “É o efeito dominó da política externa americana sobre democracias frágeis”, conclui Carla Campos.
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