O protagonismo na abolição foi do próprio movimento negro, que também teve adesão de uma minoria de pessoas branca

Katiane da Silva Santos

Para além do discurso dominante, a data da Abolição da Escravatura ainda precisa ser mais politizada, apesar de que atualmente já não são bem aceitas suas comemorações pela comunidade negra brasileira, pois, a principal memória que marcou a História do Brasil foi a Lei Áurea – adjetivo que faz articulação com a princesa branca Isabel (1846-1921). A referida lei nº 3.353 de 13 de Maio de 1888, traz no “Art. 1º, É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Art. 2º, Revogam-se as disposições em contrário”, chegou tardia demais para o grande atraso social em que o país emergia, além de não ter criado medidas de inclusão social e emancipação econômica dos negros ex-escravizados, e carregamos o vergonhoso título de ser o último país ocidental a abolir a escravidão.  

O verdadeiro protagonismo na abolição da escravatura foi do próprio movimento negro, que também teve adesão de uma minoria de pessoas brancas, os oprimidos resistiram com pressões sociais pela libertação. Mas o que ecoou na história do país foi o discurso da elite branca, sendo silenciadas as vozes dos que realmente lutaram pela causa, assim citamos os nomes de algumas mulheres que marcam a luta deste processo: Dandara, Mariana Crioula, Eva Maria do Bonsucesso, Rainha Tereza do Quariterê, Tia Ciata, Acotirene, Zeferina, Adelina Charuteira, Luiza Mahin, Maria Firmina dos Reis, Tereza de Benguela, Anastácia, Tia Simoa, Maria Felipa de Oliveira, Esperança Garcia, Aqualtune, Maria Aranha, Ná Agontimé, Zacimba Gaba, Francisca, Maria Felipa de Oliveira, estes são apenas alguns nomes de mulheres negras que desprovidas de posições de poder, mas que dedicaram a vida na luta pela abolição e contra o racismo. Aqui no Tocantins, se destaca como personalidade, a Dona Juscelina, neta de escravos, viveu em Nova Iorque (MA) a alegria ainda latente da libertação da escravatura na comunidade negra maranhense, de lá trouxe o Festejo da Abolição e se esforça para passar à nova geração em Muricilândia (TO) a tradição que chama de “surto de alegria”, que foi o que sentiram os escravizados ao serem libertos, sendo esta manifestação cultural uma memória do cárcere.

Apesar de que esta data não há muito que se comemorar, a matriarca quilombola Dona Juscelina alerta de que “É preciso lembrar, para não esquecer”. Assim, em razão da Pandemia da Covid-19 e as recomendações de afastamento social, o “47º Festejo da Abolição” foi cancelado. Porém, a Associação da Comunidade Quilombola Dona Juscelina, utilizando-se de “novas estratégias de resistência”, convidam para a participação de uma live que será transmitida pela plataforma digital “Instagran” – na página @afrikanidade, em que haverá uma mensagem de Dona Juscelina que acontecerá às 19h para trazer um pouco dessa história vivida por ela e seus ancestrais.

Autora: Katiane da Silva Santos (Mestra em Estudos Interdisciplinares de Cultura e Território pela Universidade Federal do Tocantins e Professora da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino – U.E: Colégio Militar do Estado do Tocantins – CAIC - Jorge Humberto Camargo, Araguaína).

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