Brenno Ayres: "Não podemos ficar para trás, nem mesmo desacreditarmos de que continuaremos exportando para o país"

Brenno Ayres/Opinião

Atualmente, o coronavírus, um vírus que causa infecção respiratória em seres humanos e animais, podendo levá-los à morte, tem mexido com os noticiários mundiais. A avalanche de informações a respeito da propagação do vírus, assim como os dados alarmantes de mortes, nos dá conta de que a situação, à primeira vista, é bem mais grave do que poderíamos imaginar. Porém, é necessário enxergamos além e raciocinarmos de que forma isso mexe com a nossa economia e com a economia chinesa.

Chamo à seguinte reflexão: de que forma a superexposição de uma doença pode afetar o mercado de alimentos na China? Em um mundo em que nada acontece por acaso, os shows midiáticos que o digam, quem pode estar se beneficiando desse momento?

A minha intenção não é subestimar os efeitos danosos que uma doença pode causar em um país, podendo gerar uma pandemia e dizimar milhares de pessoas, mas de convidá-los a pensar estrategicamente e chegarmos à conclusão de que tem muita gente ganhando dinheiro em cima dessa situação.

O último balanço oficial divulgado pelo governo chinês foi de 361 vítimas fatais na China e uma nas Filipinas em decorrência do coronavírus, o que, de acordo com o país, já causou mais mortes do que a Síndrome Respiratória Aguda (Sars) que, entre 2002 e 2003, matou 349 pessoas. Um susto para a população mundial, apesar dos pesquisadores já anunciarem a possibilidade de cura para o coronavírus.

Será que deixaremos de exportar carne para o nosso maior comprador? Por que, sempre que os chineses enfrentam uma crise de abastecimento, anunciam um novo surto de uma doença causada por um vírus? Seria muito simples e inocente afirmarmos ser uma teoria da conspiração se os dados não mostrassem o contrário, visto que essa não é a primeira vez que a China anuncia um surto de uma doença, mobiliza e amedronta todo o mundo, e a sua economia se mantém estável ou em crescimento. Nunca em queda. Vamos aos dados.

No ano de 2004 a China anunciou o surto da gripe aviária. Antes disso, em 2003, o seu Produto Interno Bruno (PIB), que era de 8,0%, subiu para 9,1% no ano do anúncio da gripe aviária, se manteve com o mesmo percentual em 2005 e apresentou aumento de 10,2% em 2006 e de 11,9% em 2007.

Em 2009, um novo anúncio: o da gripe suína ocasionada pelo vírus influenza. No ano de 2008 o PIB que era de 9,0% saltou para 9,1% no ano do anúncio da gripe suína, chegando em 2010 com a marca surpreendente de 10,3%.

Em 2017, o anúncio da peste suína africana. A doença matou suínos no país e reduziu, bruscamente, o consumo de farelo. Nesse ano, o PIB era de 6,9%. Em 2018 se manteve em 6,9 %. Coincidência ou não, esse também foi o ano em que a China travou uma guerra comercial com os Estados Unidos da América (EUA) e retirou um dos seus únicos fornecedores de soja. Em 2019, já não foi mais surpresa: o PIB também se manteve estável, com 6,9 %.

Todas essas projeções nos levam à conclusão de que, mesmo fazendo constantes alarmes com surtos de doenças em decorrência de vírus, a China não deixou de comprar, mas usou a jogada de mestre para pressionar os mercados a desvalorizarem os preços dos seus produtos, controlar a inflação e manter o abastecimento de alimentos no país.

Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), as exportações bovinas registraram recorde de faturamento no ano de 2019, chegando à marca de 1,847 milhão de toneladas. Neste ano, os maiores frigoríficos do Brasil , JBS e BRF, já avaliam que a disseminação do coronavírus pode aumentar as exportações para a China, uma vez que o país ficará mais atento à segurança alimentar. Não podemos negar que o Brasil ainda é bem visto quando se trata do bom manejo sanitário da carne.

Com isso, os chineses têm feito investimentos bilionários em proteína animal nas Américas, uma vez que ainda operam com carnes de animais in natura, vendidas diretamente ao consumidor e sem qualquer controle de doenças, deixando o produto sujeito à propagação de vírus e de bactérias. Assim, vemos que é também estratégia da China frear o consumo de carnes frescas e optar por carne congelada, refrigerada, e fiscalizada.

Brilhantemente, as cartas estão sendo jogadas e não podemos ficar para trás. Conforme as consultorias de mercado, os preços para o boi gordo devem melhorar a partir do próximo mês, visto que janeiro é o pior mês de consumo devido às festas comemorativas de fim e de início de ano. Só no mercado da carne com osso, o mês registrou queda de 12,6%. Até o dia 30 de janeiro, a carne com osso estava cotada em R$ 11,77. Porém, em fevereiro, já iniciou em R$ 13,44. Já a arroba do boi, de acordo com a Scot Consultoria, em fevereiro está cotada para R$ 193,00 bruto, R$ 192,50 com o desconto do Senar e em R$ 190,00 livre de impostos (Senar + Funrural), considerando o preço à vista. A consultoria aponta, ainda, que existem negócios até mesmo R$5,00/@ acima da referência e que diante de uma pesquisa envolvendo 32 praças, a cotação do boi subiu em dezenove, o que representa uma média de aumento de 0,8% na comparação dia a dia. Em março está cotada R$ 196,70; abril, R$ 196,25 e maio em R$ 197,00. Diante disso, podemos ver e crer que essa leve alta demonstra que podemos ter grandes expectativas de que o mercado ganhe força ao longo do ano.

De um lado, vemos um cenário que demanda bastante atenção: o da saúde pública. De outro, a atenção desviada da crise de abastecimento na China, autoridades se beneficiando do momento para derrubar o preço dos alimentos no mundo e o mercado financeiro se aproveitando de maneira ágil para faturar. Mais uma vez, repito: não podemos ficar para trás, nem mesmo desacreditarmos de que continuaremos exportando para o país e abaixarmos os preços da nossa produção cedendo à estratégia chinesa. Devemos, sim, também traçarmos estratégias de comercialização e apostamos na nossa força diante dos mercados. Muita água ainda vai rolar nessa história toda. Avante!

 

Brenno Ayres

É produtor rural e advogado

brennoayres@bol.com.br

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