Emilia Pérez é uma obra que fascina tanto quanto frustra. É um filme ambicioso, que busca combinar um musical, um drama criminal e uma reflexão sobre temas complexos como a violência dos cartéis mexicanos e a experiência trans. No entanto, essa mistura de elementos, ao invés de criar algo memorável, resulta em um projeto que parece disperso e desconectado de suas intenções mais profundas.
A premissa, que em teoria poderia abraçar o absurdo e a teatralidade, é conduzida de maneira desconcertantemente séria. A escolha de um estilo visual e narrativo mais próximo de um thriller sombrio acaba diluindo o impacto que um tom mais exagerado ou estilizado poderia oferecer. Isso faz com que as poucas cenas em que o filme tenta ousar — especialmente nas coreografias e cortes mais dinâmicos — soem deslocadas e insuficientes.
Embora Zoe Saldaña se destaque com um desempenho genuíno ainda é bem medíocre, o restante do elenco, assim como o próprio filme, parece lutar para encontrar equilíbrio. As músicas, elemento central de qualquer musical, são pouco marcantes, o que só agrava a dificuldade do filme em manter o público envolvido.
Talvez o maior problema de Emilia Pérez seja a superficialidade com que aborda temas tão importantes. Ao se apoiar em estereótipos e simplificações, o filme acaba perdendo a chance de oferecer uma visão mais profunda ou transformadora sobre suas questões centrais. O que poderia ser um marco de representatividade e inovação acaba sendo mais um exemplo de uma obra que morde mais do que consegue mastigar.
No fim das contas, é difícil não admirar a audácia do projeto, mas o excesso de ambição e a falta de coesão tornam Emilia Pérez um filme tão frustrante quanto esquecível.
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