A inclusão da música “Só Fé”, do cantor Grelo, no Exame de Acesso ao Ensino Superior do Tocantins (ExaTO), realizado pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), gerou uma onda de repercussões. Utilizada como tema de uma questão de interpretação textual, a canção, que viralizou por sua mistura de humor, simplicidade e poesia, abriu um debate sobre a validade de usar elementos da cultura popular em avaliações acadêmicas.
A escolha e a controvérsia
“Só Fé”, composta por Gabriel de Ângelo de Oliveira, mais conhecido como Grelo, rapidamente conquistou as redes sociais, alcançando milhões de acessos em plataformas de streaming. O refrão cativante e trechos como “Lavei meu rosto nas águas sagradas da pia” se tornaram virais e, segundo a UFT, foram escolhidos por sua relevância cultural e capacidade de engajamento.
Por outro lado, a decisão provocou críticas e questionamentos. Alunos, professores e especialistas apontaram dúvidas sobre o impacto pedagógico dessa abordagem. Larissa Souza, aluna de Letras, destacou: “A inclusão foi interessante, mas senti falta de um contexto mais profundo para a análise.”
O professor de Literatura Brasileira, Dr. Fagner Araújo, que analisou a canção em um vídeo viral no YouTube, defendeu a escolha: “É uma música com elementos literários, como metáforas e hipérboles, que enriquecem sua interpretação. Não é alta poesia, mas cumpre o papel de criar conexões.”
A visão institucional
Em comunicado, a UFT explicou que a escolha da música reflete um esforço para tornar as provas mais acessíveis e próximas da realidade dos candidatos. A pró-reitora de Graduação, Ana Paula Tavares, declarou:
“Nosso objetivo é utilizar elementos culturais que dialoguem com o universo dos estudantes, promovendo interpretações que extrapolem o texto literal e alcancem significados mais profundos.”
Embora a universidade mantenha a postura de continuar utilizando referências culturais em suas avaliações, o episódio levou à revisão dos critérios para evitar polêmicas futuras.
O fenômeno “Só Fé”
Lançada em 2024, a música “Só Fé” não só viralizou como também reforçou o papel de Grelo como um dos compositores mais talentosos da música brasileira. Conhecido por suas composições para artistas como Simone Mendes, Henrique & Juliano e Jorge & Mateus, Grelo revelou que a canção nasceu de uma brincadeira em estúdio.
“Nunca imaginei que essa música tomaria tamanha proporção. Foi um experimento, e o público abraçou a ideia,”afirmou o cantor em entrevista recente.
Além disso, Grelo proibiu o uso de sua música em campanhas políticas, reforçando que a mensagem é sobre fé e simplicidade, não sobre promessas.
Reflexões e críticas
Especialistas também entraram no debate. O professor de Filosofia da Educação, Dr. Ricardo Bastos, apontou que o sucesso da música reflete a simplicidade do cotidiano brasileiro, mas alertou sobre possíveis interpretações equivocadas:
“A mensagem pode ser vista como inspiradora ou como uma romantização da pobreza. Tudo depende de quem a interpreta e do contexto em que é usada.”
Outros, como Gustavo Andrade, candidato ao ExaTO, enxergaram a questão como inovadora: “Foi interessante ver algo tão próximo de nós. Trouxe leveza e acessibilidade à prova.”
A polêmica em torno de “Só Fé” destaca um movimento crescente de aproximar o ambiente acadêmico da cultura popular. Apesar das críticas, a iniciativa da UFT abre espaço para discussões mais amplas sobre como as instituições podem equilibrar inovação e rigor em seus métodos de avaliação.
Enquanto o debate continua, a canção permanece como um símbolo de como a arte, mesmo em sua forma mais simples, pode impactar a educação e suscitar discussões sobre cultura e sociedade.
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