Na manhã desta segunda-feira (4), o Brasil se despediu do cantor Agnaldo Rayol, que morreu aos 86 anos após sofrer uma queda em seu apartamento, em São Paulo. A fatalidade com o artista chama a atenção para um problema frequente entre a população idosa: as quedas em ambiente doméstico, que têm se tornado uma das principais causas de hospitalização de pessoas acima de 60 anos. A Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico (SBTO) reforça o alerta para os riscos das quedas entre idosos, especialmente em casa, onde a maior parte desses acidentes ocorre.
Dados alarmantes sobre quedas em idosos no Brasil
Segundo dados do DATASUS, apenas nos dois primeiros meses de 2024 foram registrados 17.136 atendimentos hospitalares e 9.658 atendimentos ambulatoriais relacionados a quedas de idosos. Isso equivale a uma média de 285 atendimentos diários no SUS, uma estatística alarmante que coloca em evidência a necessidade de prevenção e cuidados contínuos. Esses números, ainda que expressivos, não surpreendem especialistas, pois refletem um problema que se intensifica com o envelhecimento da população e a falta de preparação de muitos ambientes domésticos para as necessidades dos idosos.
Em 2023, as estatísticas foram ainda mais impressionantes, com 106.401 atendimentos hospitalares e 45.684 atendimentos ambulatoriais registrados por quedas entre idosos. Marcelo Tadeu Caiero, presidente da SBTO, alerta que diversos fatores aumentam o risco de quedas na terceira idade, incluindo perda de força muscular, problemas de visão e audição, doenças neurológicas e efeitos colaterais de certos medicamentos. “As quedas não são apenas acidentes; são eventos traumáticos que podem deixar sequelas permanentes e até resultar em mortes, como no caso de Agnaldo Rayol,” enfatiza Caiero.
Riscos de fraturas e recuperação complicada
As consequências das quedas são particularmente severas entre os idosos, cujos ossos tendem a ser mais frágeis devido à osteoporose e outras condições que enfraquecem o sistema esquelético. Fraturas em regiões como fêmur, coluna e bacia são comuns e muitas vezes exigem cirurgias e longos períodos de imobilização. Esses procedimentos são complicados pela condição física dos pacientes idosos, que frequentemente apresentam menor capacidade de cicatrização e recuperação. “A recuperação é mais lenta e delicada em idosos, e uma fratura pode limitar permanentemente a mobilidade e independência de uma pessoa,” explica o ortopedista.
Além disso, a fraqueza muscular inerente à idade avançada agrava o quadro. A perda de força muscular reduz a capacidade de suportar o impacto de uma queda e dificulta o processo de reabilitação. Como resultado, muitos idosos que sofrem fraturas, especialmente no fêmur, enfrentam dificuldades para retomar a mobilidade completa, o que frequentemente leva a uma piora geral da saúde, com aumento no risco de desenvolver problemas de saúde adicionais, como infecções e doenças cardiovasculares.
Prevenção: uma abordagem multidisciplinar
Para reduzir a incidência de quedas, a SBTO recomenda uma abordagem preventiva que envolve profissionais de saúde, cuidadores e familiares. O primeiro passo é uma avaliação clínica regular para identificar condições de saúde que possam aumentar o risco de quedas. “É essencial que os idosos façam check-ups frequentes para monitorar fatores como pressão arterial, visão, audição e condições musculoesqueléticas,” sugere Caiero. Além disso, uma revisão dos medicamentos em uso é fundamental, pois alguns fármacos podem causar tonturas e fraqueza, aumentando o risco de quedas.
Além do acompanhamento médico, a prática de atividades físicas específicas é um dos pilares da prevenção. Exercícios voltados para o fortalecimento muscular, equilíbrio e flexibilidade são essenciais. Programas de exercícios, como alongamento, musculação leve e caminhadas, ajudam a melhorar a força muscular e o equilíbrio, reduzindo significativamente o risco de quedas. “Exercícios físicos devem ser adaptados para a idade e condições de cada idoso, mas são fundamentais para prevenir quedas e manter a saúde geral,” recomenda o ortopedista.
Alimentação balanceada e saúde óssea
A alimentação também desempenha um papel crucial na prevenção de quedas. Uma dieta rica em cálcio, vitamina D e proteínas ajuda a manter a saúde dos ossos e dos músculos. Esses nutrientes são fundamentais para evitar a osteoporose, uma das principais causas de fragilidade óssea em idosos. “Uma alimentação adequada, combinada com a prática regular de exercícios, é uma das melhores estratégias para manter os ossos e músculos fortes e prevenir quedas,” afirma Caiero. A ingestão de suplementos pode ser recomendada em casos onde a dieta não supre as necessidades do organismo.
Adaptações no ambiente doméstico
O ambiente doméstico representa um dos maiores riscos para os idosos, uma vez que muitas residências não são adaptadas às necessidades de mobilidade e segurança dessa faixa etária. Tapetes soltos, móveis desnecessários, iluminação inadequada e ausência de barras de apoio em banheiros são alguns dos fatores que aumentam o risco de acidentes em casa. Caiero destaca que pequenas adaptações podem fazer uma grande diferença na prevenção de quedas. “É importante que o idoso e sua família façam um levantamento de todos os potenciais obstáculos e realizem as mudanças necessárias para garantir um ambiente seguro.”
Algumas adaptações recomendadas incluem:
- Instalação de barras de apoio: especialmente em banheiros e corredores, onde o risco de escorregar é maior.
- Iluminação adequada: garantir que todos os cômodos e corredores tenham luz suficiente, e manter uma luz noturna no quarto para o caso de o idoso precisar se levantar durante a noite.
- Remoção de tapetes soltos: substituí-los por carpetes antiderrapantes ou fixá-los firmemente no chão.
- Evitar móveis baixos ou pontiagudos: móveis com quinas afiadas aumentam o risco de ferimentos em caso de quedas.
- Organização dos objetos pessoais: garantir que itens de uso diário estejam ao alcance, evitando que o idoso precise subir em bancos ou escadas.
Além dessas adaptações, o uso de sapatos com solado antiderrapante e roupas ajustadas ao corpo, que não se prendam facilmente, pode ajudar a evitar quedas.
Recomendações de segurança para idosos e familiares
Para reforçar a segurança dos idosos, a SBTO sugere medidas práticas que podem ser incorporadas no dia a dia e adotadas tanto pelos próprios idosos quanto pelos familiares. Entre as principais recomendações estão:
- Evitar superfícies escorregadias: em caso de piso molhado, é preferível esperar secar ou pedir ajuda para transitar pela área.
- Manter uma luz acesa à noite: para que, caso o idoso se levante, ele possa enxergar o ambiente com clareza.
- Ajustar calçados: sapatos confortáveis e com solado antiderrapante são essenciais para garantir a estabilidade ao caminhar.
- Utilizar equipamentos de apoio: bengalas, muletas e andadores podem ajudar a equilibrar e prevenir quedas.
- Manter o telefone acessível: colocar um telefone em local de fácil acesso é importante para que o idoso possa pedir ajuda rapidamente, se necessário.
- Utilizar faixas de pedestres e esperar que o transporte público pare: cuidados fora de casa também são essenciais para evitar quedas.
Apoio da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico
A Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (SBTO) desempenha um papel crucial no desenvolvimento de estudos e na promoção de práticas para a prevenção de quedas e tratamento de traumas ortopédicos. Fundada em 1997, a SBTO é composta por médicos especializados que buscam aperfeiçoar as técnicas de prevenção e recuperação de pacientes idosos. Com programas de conscientização, pesquisas científicas e eventos voltados para a capacitação de profissionais de saúde, a sociedade colabora ativamente para diminuir os índices de quedas e aprimorar o atendimento aos pacientes com traumas.
Conscientização e importância da prevenção
O caso de Agnaldo Rayol reforça a importância de conscientizar a população sobre os riscos das quedas e sobre os cuidados preventivos que devem ser adotados para proteger os idosos. A SBTO alerta que, com o envelhecimento da população brasileira, a incidência de quedas deve continuar crescendo, o que torna a prevenção um aspecto essencial da saúde pública. Caiero ressalta que medidas simples podem salvar vidas e melhorar a qualidade de vida dos idosos, tornando-os menos vulneráveis a acidentes e traumas.
A conscientização sobre o tema também deve ser promovida entre cuidadores e familiares, que têm um papel importante em proporcionar um ambiente seguro e supervisionar as atividades dos idosos. “Ao adotar práticas preventivas e realizar adaptações no ambiente doméstico, é possível reduzir significativamente o risco de quedas e proporcionar uma vida mais segura e saudável aos nossos idosos,” conclui Caiero.
Conclusão: promovendo uma vida segura e saudável para os idosos
A prevenção de quedas entre idosos vai além de adaptações no ambiente doméstico; é uma questão de saúde pública que envolve múltiplos aspectos, desde a promoção de atividades físicas até o acompanhamento médico regular. Com dados alarmantes que apontam para uma média de 285 atendimentos diários por quedas entre idosos, o SUS reforça a importância de políticas de prevenção e conscientização. A Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico se coloca como uma entidade de referência, orientando profissionais de saúde e familiares a adotarem medidas que possam evitar acidentes e proporcionar maior qualidade de vida aos idosos.
O caso de Agnaldo Rayol serve como um lembrete da vulnerabilidade dos idosos e da necessidade de cuidados contínuos. A prevenção é a melhor estratégia para enfrentar os desafios do envelhecimento e garantir uma vida ativa e segura para a população idosa, que cresce a cada ano no Brasil.
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