Recuperação judicial preserva empregos e sustenta comunidades

A recuperação judicial não é apenas uma saída para empresas em crise financeira; ela é uma ferramenta jurídica estratégica que ajuda a preservar empregos e sustentar a economia local e nacional. Instituída pela Lei nº 11.101/2005, a recuperação judicial permite que empresas reorganizem suas finanças, renegociem dívidas e continuem operando, evitando falências e o consequente impacto negativo em suas cadeias produtivas.

Em tempos de instabilidade econômica, essa alternativa se destaca como um dos principais mecanismos para mitigar o desemprego e proteger comunidades. Dados da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ) mostram que, entre 2018 e 2023, mais de 1,7 milhão de postos de trabalho foram preservados por empresas que recorreram à recuperação judicial no Brasil.

Como funciona a recuperação judicial

A recuperação judicial é um processo que permite às empresas em dificuldades financeiras apresentar um plano de reestruturação a seus credores. Durante o período de negociação, as operações continuam, garantindo a manutenção dos empregos e da produção. Segundo a advogada e administradora judicial Jéssica Farias, esse modelo vai além da recuperação econômica:

“A recuperação judicial protege o maior ativo das empresas — os trabalhadores. Além disso, evita o colapso de comunidades inteiras ao manter o fluxo de renda local. Trata-se de uma solução que beneficia a sociedade como um todo”, ressalta a especialista.

Impacto direto na preservação de empregos

Jéssica Farias, advogada e administradora judicial, destaca o impacto social da recuperação judicial na preservação de emprego
Jéssica Farias, advogada e administradora judicial, destaca o impacto social da recuperação judicial na preservação de emprego

O principal benefício da recuperação judicial é a manutenção de empregos diretos e indiretos. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) estima que cada emprego preservado em uma empresa em recuperação judicial garante a estabilidade econômica de até quatro pessoas na mesma família. Setores como o varejo, a indústria e os serviços têm se beneficiado amplamente desse mecanismo, evitando cortes massivos de pessoal.

No caso de uma grande varejista brasileira que passou por recuperação judicial em 2021, mais de 40 mil postos de trabalho diretos foram mantidos. Além disso, fornecedores e distribuidores também puderam continuar suas atividades, evitando o efeito cascata de falências na cadeia produtiva.

O papel das comunidades locais

Empresas que entram em recuperação judicial frequentemente são âncoras econômicas em suas regiões. Quando permanecem ativas, garantem não apenas empregos diretos, mas também movimentam o comércio e os serviços locais. “A continuidade dessas empresas evita a desarticulação social e econômica das comunidades em que estão inseridas,”explica Farias.

Um exemplo positivo ocorreu em uma cidade do interior paulista, onde uma indústria de médio porte, ao optar pela recuperação judicial, conseguiu evitar o fechamento. A manutenção da operação impediu que cerca de 15% da economia local fosse afetada.

Desafios e estratégias para o sucesso

Embora seja uma ferramenta poderosa, a recuperação judicial exige planejamento estratégico e comunicação transparente. As empresas devem equilibrar a necessidade de ajustes financeiros com o fortalecimento do vínculo com colaboradores e parceiros.

Entre as práticas recomendadas estão:

  • Gestão de pessoas: Oferecer suporte psicológico e treinamento aos trabalhadores durante o processo.
  • Transparência: Manter a comunicação aberta sobre os planos e desafios da empresa.
  • Parcerias: Trabalhar com credores e fornecedores para encontrar soluções colaborativas.

Além dos números: um impacto social relevante

Para além dos resultados financeiros, a recuperação judicial desempenha um papel fundamental na preservação do tecido social. Ela impede que famílias percam sua principal fonte de renda e protege pequenos negócios que dependem de grandes empresas para sobreviver.

“Salvar uma empresa não é apenas salvar uma entidade econômica, mas garantir o sustento de milhares de famílias e a estabilidade de comunidades inteiras,” conclui Farias.

O futuro da recuperação judicial no Brasil

Com a previsão de crescimento econômico moderado nos próximos anos, especialistas apontam que a recuperação judicial continuará sendo uma ferramenta essencial para enfrentar crises empresariais. Políticas públicas voltadas para melhorar o acesso ao crédito e o fortalecimento do sistema de saneamento financeiro podem ampliar ainda mais o impacto positivo dessa alternativa.

Em um país com desafios socioeconômicos persistentes, a recuperação judicial é mais do que uma solução jurídica. É um pilar estratégico para a manutenção de empregos, o fortalecimento das comunidades e o equilíbrio da economia.

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