A tragédia ocorrida com o desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que conecta o Maranhão ao Tocantins, deixou um rastro de dor, luto e indignação. Em um momento que exigia sensibilidade e liderança, o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), tornou-se alvo de críticas ao publicar, no Instagram, uma foto descontraída em um rancho, comendo peixe frito e sentado em uma rede. A postagem foi apagada rapidamente, mas não rápido o suficiente para evitar o print e a indignação de internautas e lideranças políticas.
O episódio revela não apenas uma falha na comunicação estratégica, mas também a desconexão de uma figura pública com o sentimento coletivo. Em situações de crise, como a vivenciada pelo Tocantins, a postura de um líder deve ser cuidadosamente alinhada à gravidade dos acontecimentos. A percepção de insensibilidade gerada por essa postagem evidencia a importância de uma reserva de imagens e um planejamento de comunicação que evite episódios desastrosos como este.
Avalanche de críticas
A publicação de Wanderlei Barbosa não passou despercebida. A prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), ironizou a postura do governador, chamando-o de “estadista solidário e empático” em tom de crítica. Nas redes sociais, internautas condenaram a atitude, interpretada como desrespeitosa diante do luto das famílias das vítimas. O vereador Carlos Amastha (PSB) foi além, classificando os discursos políticos sobre a tragédia como “shows para anestesiar a dor” e cobrando apuração de responsabilidades criminais.
Essas reações mostram como, em tempos de crise, a comunicação pública precisa ir além do simbolismo. Não bastam discursos de solidariedade ou decretos de luto oficial. A população espera ações concretas e sinais de comprometimento genuíno. No caso do governador, a mensagem transmitida foi de alheamento e desconexão, uma narrativa que dificilmente se apaga com a exclusão de um post.
O peso da comunicação estratégica
Para figuras públicas, especialmente em momentos de tragédia, cada imagem ou palavra deve ser escolhida com cuidado. A reserva de imagens é um recurso básico que permite evitar publicações inadequadas ou descontextualizadas. Em vez de exibir descontração em um rancho, o governador poderia ter divulgado imagens da visita ao local do desastre, destacando medidas adotadas para minimizar os impactos da tragédia.
Além disso, a comunicação estratégica deve priorizar a empatia genuína, conectando-se à dor das pessoas afetadas. Publicar imagens ou mensagens que transmitam a sensação de “vida normal” em meio ao caos é um erro que compromete a confiança pública. Wanderlei Barbosa, ao apagar a postagem, admitiu tacitamente o erro, mas perdeu a oportunidade de reconquistar a narrativa com uma resposta robusta e assertiva.
Liderança em tempos de crise
A crítica à comunicação do governador reflete uma cobrança maior sobre o papel de líderes em momentos críticos. Não basta estar presente fisicamente no local de um desastre; é necessário transmitir responsabilidade, empatia e comprometimento. Ao optar por uma postagem trivial e descontraída, Wanderlei Barbosa errou ao ignorar essas expectativas.
O desabamento da ponte, como apontado por Amastha, não foi apenas um acidente, mas uma tragédia anunciada. Relatos de advertências ignoradas e falhas na manutenção da estrutura reforçam a necessidade de uma postura mais firme e comprometida por parte das autoridades. Em vez de apagar críticas ou tentar minimizar o impacto do erro, o momento pede um posicionamento mais proativo.
Lições para o futuro
Este episódio reforça a necessidade de treinamento e planejamento em comunicação para figuras públicas. Em tempos de redes sociais, qualquer deslize pode se transformar em uma crise de imagem, especialmente em cenários de tragédia. A população não perdoa insensibilidade e espera que seus líderes sejam reflexos de solidariedade e ação.
Wanderlei Barbosa tem diante de si um desafio duplo: reparar sua imagem pública e responder de forma efetiva à tragédia. A reconstrução da ponte e o apoio às vítimas e suas famílias serão passos fundamentais para recuperar a confiança da população. No entanto, isso precisará ser acompanhado de uma comunicação alinhada e estratégica, que demonstre real comprometimento com o bem-estar coletivo.
Este episódio deveria servir de alerta para todos os gestores públicos. A comunicação não é apenas um detalhe, mas parte central da liderança. Em tempos de crise, ela pode definir a diferença entre o respeito e a rejeição.
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