Uma análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) revelou um aumento de 64% nos incêndios em florestas públicas não destinadas da Amazônia em 2024, em comparação com 2023. As áreas queimadas somaram 2.460.082 hectares no ano passado, contra 1.498.320 hectares em 2023. Apesar disso, o desmatamento nessas áreas apresentou queda de 20%, caindo de 136.602 hectares em 2023 para 109.411 hectares em 2024.
Setembro foi o mês mais crítico, registrando o maior número de queimadas desde 2019: 756,3 mil hectares foram destruídos pelo fogo, segundo o Monitor do Fogo, ferramenta do IPAM em parceria com a rede MapBiomas.
Grilagem e Impactos no Meio Ambiente
O aumento dos incêndios em florestas públicas não destinadas reflete um problema mais amplo de ocupação ilegal. Segundo Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM, grilagem é a principal causa da destruição. “O fogo e o desmatamento estão diretamente ligados à ocupação ilegal de terras públicas. Essas áreas são queimadas sucessivamente após o desmatamento inicial, agravando o problema.”
De acordo com o levantamento, mais de 20 milhões de hectares dessas florestas correm o risco de serem griladas por meio de registros fraudulentos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). “Esse uso indevido do CAR é uma bomba-relógio para o futuro, pois transforma um instrumento legítimo de regularização ambiental em justificativa para posse ilegal de terras públicas”, alerta Moutinho.
Caso essa ocupação ilegal continue, o IPAM estima que a emissão de 8 bilhões de toneladas de carbono será inevitável — o equivalente a um ano de emissões globais de gases de efeito estufa. Esse cenário ameaça a biodiversidade, o equilíbrio climático, a produção de alimentos e a saúde pública.
O Que São Florestas Públicas Não Destinadas?
As florestas públicas não destinadas cobrem 56,5 milhões de hectares, área equivalente ao território da Espanha. Por lei, essas terras devem ser destinadas à conservação, uso sustentável ou demarcação como terras indígenas. No entanto, a ausência de definição facilita a exploração predatória e a grilagem.
Políticas Urgentes para Combater a Destruição
Especialistas defendem que a redução do desmatamento só será sustentável com a destinação definitiva dessas áreas. “Sem políticas claras e fiscalização rigorosa, o ciclo de destruição se perpetuará, agravando os impactos ambientais e sociais”, conclui Moutinho.
Metodologia do Estudo
A análise utilizou dados do Monitor do Fogo, cruzados com informações do sistema Deter, do INPE, e da base de florestas públicas não destinadas do IPAM. Esses dados são atualizados pelo Observatório de Florestas Públicas, coordenado pelo IPAM e pela iniciativa Amazônia de Pé.
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