Com autorização do Ibama, obra resolve gargalo logístico que há décadas limita a navegação no Rio Tocantins. Hidrovia deve reduzir custos, impulsionar o agronegócio e gerar transformação econômica na região norte do Brasil
Após mais de duas décadas de entraves ambientais, burocráticos e políticos, o governo federal, por meio do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), concedeu nesta segunda-feira (26) a Licença de Instalação (LI) nº 1518/2025 para a execução da obra de derrocamento do Pedral do Lourenço, no Rio Tocantins.
A autorização, concedida ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), destrava uma das obras mais aguardadas da logística nacional. O projeto é considerado fundamental para a implantação definitiva da Hidrovia Tocantins-Araguaia, que conecta o Centro-Oeste ao Oceano Atlântico, integrando transporte rodoviário, ferroviário e aquaviário.
O que é o Pedral do Lourenço?
Localizado no trecho entre Santa Terezinha do Tauiri e a Ilha do Bogéa, no Pará, o Pedral do Lourenço é uma formação rochosa que impede a navegação em períodos de estiagem, tornando o Rio Tocantins não navegável durante até cinco meses ao ano. A obra prevê o derrocamento de 35 km desse trecho, além de serviços de dragagem e infraestrutura de apoio.
Sem a intervenção, a hidrovia Tocantins-Araguaia operava de forma intermitente, inviabilizando sua consolidação como corredor logístico estratégico.
Especialista classifica obra como ‘divisor de águas’ na logística brasileira
De acordo com o engenheiro civil e consultor em infraestrutura logística José Ricardo Ferreira, a liberação da licença representa um marco. “Estamos falando de uma das maiores intervenções de engenharia fluvial da história recente do país. O impacto não se limita ao Tocantins. É um divisor de águas para o agronegócio do Centro-Oeste, para a indústria do Norte e para a economia nacional como um todo”, analisa.
Segundo ele, a hidrovia permitirá que a produção agrícola do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e do Centro-Oeste tenha uma nova rota de escoamento, reduzindo custos logísticos em até 30%. “Isso significa aumento de competitividade, atração de indústrias e geração de empregos em larga escala. É uma transformação econômica de proporções nacionais”, afirma.
Impacto econômico e geopolítico para o Brasil
O vice-governador do Tocantins, Laurez Moreira, destacou que a emissão da licença não é apenas uma vitória local, mas uma conquista de interesse nacional. “A hidrovia Tocantins-Araguaia será uma nova espinha dorsal logística do país, conectando o interior ao litoral, dinamizando portos, ferrovias e, principalmente, fortalecendo o nosso agronegócio, que hoje responde por mais de 25% do PIB brasileiro”, afirmou.
Além de integrar a região ao sistema logístico nacional, o projeto tem potencial para transformar o Porto de Praia Norte, no Tocantins, em um dos principais hubs de carga do Norte do país, com acesso tanto ao mercado interno quanto às exportações via portos do Atlântico e da região Norte.
A CEO do Porto Praia Norte S/A, Sandra Kramer, reforça que o impacto será sentido já nos primeiros anos de operação plena. “A navegação durante os 12 meses do ano permitirá não só o escoamento de grãos, mas também a entrada de insumos industriais, fertilizantes e combustíveis. Isso cria um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico, com atração de indústrias para o Tocantins e para toda a região do Bico do Papagaio”, afirma.
Números que dimensionam o impacto
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💰 Redução de até 30% nos custos logísticos para o agronegócio
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🚢 Aumento da capacidade de escoamento em mais de 6 milhões de toneladas/ano
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🌾 Benefício direto à produção de grãos do Matopiba e Centro-Oeste
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🔗 Integração com a Ferrovia Norte-Sul, rodovias federais e portos fluviais e marítimos
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🏗️ Previsão de 24 a 30 meses de obra, com geração de milhares de empregos diretos e indiretos
Brasil ganha nova rota estratégica
O consultor José Ricardo Ferreira ressalta que a hidrovia Tocantins-Araguaia não é apenas uma solução regional. “Ela conecta diretamente o Polo Industrial de Manaus, via rios da Amazônia, ao Centro-Oeste, e ao mesmo tempo se conecta à Ferrovia Norte-Sul, chegando aos portos do Sudeste e do Nordeste. Isso posiciona o Brasil de forma mais competitiva no cenário global, reduzindo a dependência de rotas rodoviárias caras e menos sustentáveis”, detalha.
Próximos passos
A partir da emissão da Licença de Instalação, o DNIT inicia imediatamente os procedimentos de mobilização de equipamentos, montagem dos canteiros, aquisição de insumos e início das atividades de derrocamento e dragagem. A obra inclui a instalação de paiol de explosivos, áreas industriais e sistemas de controle ambiental rigorosos, conforme exigências do Ibama.
A previsão é que a obra esteja concluída até 2027, permitindo, enfim, a operação plena da hidrovia durante todos os meses do ano.
Transformação econômica em curso
O vice-governador Laurez Moreira finaliza: “Esse é um dos momentos mais importantes da história logística do Tocantins. Vamos sair da condição de dependentes do modal rodoviário para nos tornarmos protagonistas em uma nova matriz logística nacional, mais eficiente, sustentável e competitiva”.
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