A inflação no Brasil iniciou o segundo semestre em ritmo de desaceleração, segundo dados do Boletim Focus, divulgados pelo Banco Central. A projeção para o IPCA em 2025 caiu para a faixa entre 5,20% e 5,46%, aproximando-se da meta, mas ainda acima do limite superior de 4,5% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional. Em maio, o índice acumulado em 12 meses registrou alta de 5,32%, inferior aos 5,53% registrados em abril.
A trajetória de queda tem sido atribuída à combinação de fatores internos e externos: recuo nos preços dos alimentos, combustíveis e energia, além da valorização recente do real frente ao dólar. O IPCA-15 de junho confirmou o movimento, com variação de 5,3% em 12 meses.
Apesar do cenário mais ameno, o Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15%, o maior nível desde 2006. A autoridade monetária afirmou que há espaço para cortes futuros, mas a tendência é de uma “pausa prolongada”, com eventuais reduções apenas no final de 2025 ou início de 2026.
Especialistas apontam efeito limitado no curto prazo
Para o economista Pedro Almeida, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), a desaceleração da inflação reflete a eficácia parcial do ciclo de aperto monetário iniciado em 2023, mas os efeitos no consumo ainda são tímidos.
“O grupo alimentação teve recuo expressivo nos últimos meses, impulsionado pela boa safra de hortifrúti e pela queda nos combustíveis. Mas o impacto para o consumidor é desigual. A conta de luz, por exemplo, caiu nos últimos dois meses, mas ainda não houve uma percepção clara de alívio no bolso”, explica.
Entre os fatores que ajudaram a frear o avanço inflacionário, Almeida destaca a estabilidade no preço do petróleo, o controle temporário de reajustes em serviços regulados — como planos de saúde — e a contenção da demanda, provocada pelos juros elevados.
Preços locais: combustível, feira e energia
Em Goiânia e cidades vizinhas, a percepção dos consumidores varia. Os postos de combustíveis registraram queda nos preços da gasolina e do diesel, em média de 2% no mês de junho, embora os valores ainda estejam cerca de 5% acima do patamar de dezembro de 2024.
Nas feiras livres, a batata, o tomate e o pepino apresentaram leve recuo, reflexo da safra favorável e do escoamento eficiente da produção. Já os produtos industrializados, como arroz, óleo e café, permanecem em patamar elevado.
Na conta de energia elétrica, a predominância da bandeira verde desde abril e a melhora dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas trouxeram alívio temporário, mas especialistas alertam que reajustes contratuais futuros ainda podem pressionar a inflação.
Boi gordo no Tocantins: estabilidade com viés de alta
Enquanto a inflação cede, o mercado da pecuária no Tocantins se mantém firme. A arroba do boi gordo segue cotada entre R$ 285 e R$ 295, com média líquida em R$ 290,50. A estabilidade nos preços é sustentada pela combinação de oferta restrita e demanda aquecida, especialmente para exportação.
As escalas de abate permanecem confortáveis para os frigoríficos, mas sem sobra de animais, o que limita quedas bruscas. O período seco no estado favorece o confinamento, mas o custo da ração e o preço da reposição continuam elevados, pressionando as margens do pecuarista.
Mesmo com a inflação em desaceleração, o preço da carne bovina no varejo não tem seguido a mesma tendência. Em mercados e açougues do estado, o contrafilé e o acém mantiveram o mesmo valor médio de maio, com leve variação positiva em cortes de segunda.
Consumo, confiança e reorganização
O cenário atual exige cautela. Pequenos comerciantes e consumidores ainda sentem os efeitos do aperto monetário. Em mercados populares da capital, feirantes relatam que o consumo caiu nos últimos meses, mesmo com a leve retração nos preços. “O cliente olha, pergunta, mas leva menos. A gente vê que o dinheiro está curto”, relata o comerciante Benedito Silva, 58 anos.
A tendência, segundo os analistas, é de um segundo semestre de adaptação. Caso a inflação siga em queda e os juros comecem a ceder em 2026, o consumo pode reagir. Até lá, o desafio é reorganizar o orçamento familiar, reavaliar hábitos e buscar alternativas mais econômicas.
No campo, a pecuária segue resiliente. O Tocantins, que já é referência em genética e produtividade, mantém firme a posição no mercado nacional mesmo em um momento de transição econômica. A sustentação do preço da arroba, no entanto, depende da manutenção da demanda externa e da cautela nos custos de produção.
Caminhos para o consumidor
Para o consumidor final, o momento é de atenção aos sinais de recuperação e ajuste dos gastos. Economistas recomendam mapear os principais itens de impacto no orçamento — energia, alimentos e transporte — e acompanhar a evolução dos preços. O desafio continua sendo encontrar equilíbrio entre renda, consumo e planejamento em um cenário ainda incerto.
Link para compartilhar: