Cresce o número de casos de HIV e Aids no Tocantins: Estado enfrenta desafio na prevenção

O Brasil registrou um caso sem precedentes: seis pacientes no Rio de Janeiro receberam órgãos transplantados infectados pelo HIV, o vírus da AIDs, uma situação inédita no país. A descoberta, confirmada pelas autoridades de saúde, acendeu um alerta sobre os protocolos de segurança em doações de órgãos, até então considerados rigorosos. De acordo com a infectologista Lígia Câmera Pierrotti, coordenadora da Comissão de Infecção em Transplante da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o caso revelou uma falha inesperada no rastreamento de infecções como o HIV em doadores.

Segundo Pierrotti, a triagem de doadores no Brasil segue normas rigorosas estabelecidas pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Todos os órgãos doados passam por testes de sorologia para detecção de infecções como HIV, hepatites B e C, HTLV e outras doenças. Além disso, a triagem leva em consideração o contexto geográfico de cada doador. No Brasil, por exemplo, a doença de Chagas é investigada, enquanto nos Estados Unidos e na Europa, ela não faz parte dos protocolos.

O procedimento de triagem é minucioso. Inclui exames laboratoriais com amostras de sangue para identificar infecções, entrevistas com os doadores ou suas famílias, e exames físicos. O Ministério da Saúde define os critérios mínimos para esses testes, com base na Portaria nº 2.600, de 2009, que regulamenta a triagem de doadores e o funcionamento dos bancos de tecidos humanos. Segundo Pierrotti, “os mesmos testes de rastreamento de doenças são realizados tanto no doador quanto no receptor”, garantindo a segurança de ambos.

No caso do Rio de Janeiro, a contraprova com material de um dos doadores identificou a presença do HIV. Imediatamente, as autoridades de saúde rastrearam os receptores, confirmando que todos eles também testaram positivo para o vírus. Em resposta, o Ministério da Saúde solicitou a interdição cautelar do laboratório envolvido e ordenou a retestagem de todos os doadores, reforçando os procedimentos já rigorosos. “O esforço agora é reduzir ainda mais as chances de transmissão de infecções como HIV ou Hepatite C”, afirmou a pasta em nota oficial.

Aumento de casos de HIV e Aids no Tocantins e no Brasil

Enquanto o caso dos transplantes infectados pelo HIV gera debate, o Tocantins enfrenta outra crise na saúde: o aumento dos casos de HIV e Aids. Em 2023, o estado registrou 92 novos casos de Aids e 338 de HIV. No primeiro semestre, foram identificados 138 novos casos de HIV e 33 de Aids. Esses números são preocupantes, uma vez que refletem um aumento considerável em relação a anos anteriores.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) tem atuado com campanhas de conscientização e prevenção, promovendo a distribuição de preservativos e a realização de testes rápidos para detecção do HIV. A maior parte das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no estado, incluindo o HIV, está relacionada a relações sexuais sem proteção. As ISTs podem ter graves consequências para a saúde, como lesões nos órgãos genitais, infertilidade, problemas neurológicos e cardiovasculares, além de câncer e morte.

Mortalidade em Aumento  da Aids no Tocantins

Os números de mortalidade relacionados ao HIV e Aids no Tocantins também são preocupantes. Nos últimos dez anos, o coeficiente de mortalidade por Aids no estado aumentou em 47,5%, passando de 2,6 para 3,8 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2022, o Tocantins registrou 72 mortes relacionadas ao HIV ou Aids, quase o dobro dos 37 óbitos registrados em 2012. A capital, Palmas, apresentou uma taxa de 5,6 mortes por 100 mil habitantes, um número superior à média nacional.

Além disso, o Tocantins também enfrenta um desafio relacionado à detecção de casos em gestantes. A taxa de gestantes infectadas pelo HIV em Palmas é de 1,9 casos por mil nascidos vivos, o que exige atenção especial das autoridades de saúde para evitar a transmissão vertical (de mãe para filho) do vírus. O diagnóstico precoce nas gestantes é essencial para implementar medidas preventivas e reduzir o risco de contaminação dos bebês.

Cenário nacional: queda de mortalidade, mas disparidade racial persiste

No Brasil, o número de mortes por Aids apresentou queda nos últimos dez anos, passando de 5,5 para 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2022, o Ministério da Saúde registrou 10.994 óbitos relacionados ao HIV ou à Aids, o que representa uma redução de 8,5% em comparação a 2012. No entanto, apesar da queda geral, a mortalidade entre pessoas negras permanece elevada. Em 2022, 61,7% das mortes ocorreram entre pessoas negras, sendo 47% entre pardos e 14,7% entre pretos.

Essa disparidade reflete a necessidade de políticas públicas mais inclusivas e de um olhar atento aos determinantes sociais da saúde. Desde 2015, mais da metade dos casos de HIV no Brasil tem sido registrada entre pessoas pretas e pardas, um dado que reforça o impacto das desigualdades raciais no acesso a serviços de saúde.

Para enfrentar esses desafios, o governo federal implementou uma série de medidas. Em 2023, o Ministério da Saúde investiu R$ 27 milhões na compra de quatro milhões de unidades de testes rápidos para detecção de sífilis e HIV, visando ampliar o rastreamento de infecções. Outra novidade foi a simplificação do tratamento para pessoas vivendo com HIV, que agora podem ingerir um único comprimido diário, ao invés de dois, facilitando a adesão ao tratamento e reduzindo os efeitos colaterais.

Prevenção e controle da AIDS:  um desafio contínuo

O aumento de casos de HIV e Aids no Tocantins, somado ao caso dos transplantes infectados no Rio de Janeiro, evidencia a complexidade do combate ao HIV no Brasil. Apesar dos avanços significativos na prevenção e tratamento, os desafios permanecem. O Ministério da Saúde tem reforçado suas campanhas de conscientização, como a “Dezembro Vermelho”, e o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), um método que previne a infecção pelo HIV ao ser tomado antes de relações sexuais.

Ainda assim, o número de novos casos e o aumento da mortalidade em determinadas regiões e populações vulneráveis indicam que é necessário continuar investindo em políticas públicas de saúde que garantam acesso ao diagnóstico, tratamento e educação sobre ISTs. O Brasil possui um dos maiores sistemas de transplantes do mundo, com uma reputação reconhecida internacionalmente, e um sistema de saúde robusto para o tratamento de HIV e Aids. O desafio agora é aprimorar ainda mais essas estruturas para evitar novos incidentes e combater o aumento de infecções.

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