A Polícia Federal (PF) apontou o general da reserva Walter Braga Netto como o principal arquiteto do plano golpista que visava manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas eleições presidenciais de 2022. Embora Bolsonaro tenha sido identificado como o comandante e principal beneficiário da tentativa frustrada, as investigações indicam que a concepção, planejamento e execução do golpe estiveram sob a liderança de Braga Netto.
Um plano para subverter a democracia
A investigação revelou que, em 12 de novembro de 2022, Braga Netto sediou uma reunião em sua residência, onde se discutiu um plano radical: o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A estratégia tinha como objetivo impedir a posse dos eleitos e criar um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, no qual Braga Netto teria papel central, concentrando poder absoluto no período pós-golpe.
Os documentos apresentados pela PF ao Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que o general utilizou sua influência dentro das Forças Armadas para atrair adesões ao plano golpista. Ele teria oferecido respaldo e credibilidade ao esquema, garantindo que a ação teria apoio militar suficiente para ser executada. Entre os 37 indiciados pela PF, 25 são membros das Forças Armadas, incluindo os ex-comandantes do Exército, Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, e da Marinha, Almir Garnier Santos.
O papel das Forças Armadas na trama
A presença de oficiais de alta patente no centro da conspiração é uma das descobertas mais alarmantes da investigação. Especialistas apontam que essa participação compromete a confiança nas Forças Armadas e na estabilidade democrática do país. “A infiltração de elementos golpistas nas Forças Armadas representa um risco sem precedentes para a democracia brasileira. Esse caso expõe como a politização excessiva pode minar as instituições”, alerta Ricardo Silva, analista político especializado em segurança nacional.
Segundo os investigadores, Braga Netto não apenas desempenhou o papel de estrategista, mas também operou como elo entre os setores civis e militares envolvidos na conspiração. Ele é descrito como “a cabeça pensante” da trama, responsável por organizar as ações e criar um ambiente propício para a adesão de outros agentes.
Entenda o caso: passo a passo da conspiração
- Derrota de Bolsonaro nas urnas: A derrota nas eleições de 2022 foi o gatilho para que Bolsonaro e seus aliados radicais buscassem uma maneira de reverter o resultado e impedir a posse de Lula e Alckmin.
- A reunião em novembro: Em 12 de novembro de 2022, Braga Netto organizou uma reunião em sua residência, onde se discutiu a execução de ações extremas, incluindo o assassinato das principais lideranças eleitas e de figuras do Judiciário.
- O “Gabinete de Gestão da Crise”: Após os assassinatos, seria instaurado um gabinete de crise, liderado por Braga Netto, para justificar e controlar o período de exceção, consolidando a permanência de Bolsonaro no poder.
- Respaldo militar: Braga Netto mobilizou sua influência no meio militar para obter apoio ao plano. A adesão de ex-comandantes do Exército e da Marinha evidencia a tentativa de legitimar a ação.
- Fracasso e desmantelamento: A conspiração não avançou devido a contratempos na execução e à vigilância das autoridades, que, com base em informações de inteligência, desarticularam o plano.
Impacto nas instituições e investigações em curso
A descoberta da trama reforça os desafios enfrentados pela democracia brasileira no período pós-eleitoral. Para o cientista político Gustavo Almeida, a tentativa de golpe foi “uma das mais graves ameaças à democracia desde a redemocratização”. Ele ressalta que, embora o golpe tenha fracassado, o episódio evidencia a necessidade de fortalecer os mecanismos de controle sobre as instituições.
“A impunidade não pode ser uma opção. É essencial que os responsáveis, incluindo figuras de alta patente, sejam devidamente punidos para que episódios como esse não voltem a ocorrer”, afirma Almeida.
A PF prossegue com as investigações, buscando identificar a extensão da conspiração e outros envolvidos. Segundo fontes ligadas à investigação, novos depoimentos e análises de materiais apreendidos podem ampliar a rede de responsabilização.
Reflexos e o futuro da democracia
A revelação do envolvimento de altos oficiais militares em uma tentativa golpista reacende o debate sobre o papel das Forças Armadas na política brasileira. Para Carla Ribeiro, especialista em direito constitucional, o caso Braga Netto evidencia a urgência de redefinir os limites da atuação militar no cenário político. “É fundamental que as Forças Armadas sejam desvinculadas de qualquer influência partidária. Isso é indispensável para preservar a neutralidade e a confiança da sociedade nessas instituições”, argumenta Ribeiro.
Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal acompanha de perto os desdobramentos das investigações, reforçando o compromisso com a aplicação da justiça. O caso Braga Netto se torna um marco no enfrentamento das ameaças golpistas no Brasil, sinalizando que tentativas de subverter a democracia não serão toleradas.
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