A segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro, entre a noite de segunda-feira (3) e a madrugada de terça-feira (4), teve a ancestralidade africana como um dos principais temas. Três das quatro escolas – Unidos da Tijuca, Beija-Flor e Salgueiro – destacaram a cultura afro-brasileira em seus enredos.
A Unidos de Vila Isabel, que encerrou os desfiles, apostou em uma temática de assombrações e diversão.
Unidos da Tijuca: Logun-Edé na Sapucaí
Poucos minutos após as 22h, a Unidos da Tijuca abriu os desfiles exaltando Logun-Edé, orixá cultuado nas religiões de matriz africana. O enredo “Logun-Edé – Santo Menino que o Velho Respeita” trouxe a trajetória da divindade, filho de Oxum e Oxóssi, e reverenciou a juventude periférica.
O desfile contou com uma comissão de frente coreografada por Bruna Lopes, que destacou a importância da ancestralidade na Sapucaí. O abre-alas retratava a gestação sagrada de Logun-Edé, enquanto o último carro representava o morro do Borel, bairro de origem da escola, com elementos do afro funk e do grafite.
A porta-bandeira Lucinha Nobre classificou o desfile como uma aula sobre africanidade e respeito às tradições.
Beija-Flor: despedida e tradição
A Beija-Flor entrou na avenida exaltando Xangô e homenageando Laíla, lendário diretor de carnaval da escola. Com o enredo “Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas”, a azul e branca de Nilópolis prestou tributo a um de seus maiores nomes, falecido em 2021.
Um dos momentos mais emocionantes foi a despedida do intérprete Neguinho da Beija-Flor, após 50 anos como a voz oficial da escola. A escola também reeditou um dos momentos mais icônicos do carnaval: o Cristo Preto, alegoria que marcou o desfile de 1989.
A porta-bandeira Selminha Sorriso ressaltou a importância de Laíla na valorização dos enredos afro-brasileiros:
“Ele brigou para trazermos essa temática para a Sapucaí, que é o nosso quilombo”.
Salgueiro: corpo fechado e proteção espiritual
Já na madrugada de terça-feira, o Salgueiro trouxe o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, abordando a busca pela proteção espiritual. A comissão de frente simbolizava o fechamento espiritual da escola, e o desfile fez referências à influência de povos mandingas e muçulmanos na Bahia.
A escola defumou a Sapucaí com ervas, reforçando a atmosfera mística. O diretor de carnaval, Wilsinho Alves, afirmou que o Salgueiro fez um desfile forte e técnico, contrariando previsões de que enfrentaria dificuldades.
Vila Isabel: assombração e diversão
Última a desfilar, a Vila Isabel apostou em um enredo irreverente: “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”. Desenvolvido por Paulo Barros, o desfile apresentou um trem fantasma carnavalesco, repleto de figuras assustadoras e elementos lúdicos.
Martinho da Vila, um dos grandes baluartes da escola, desfilou no carro abre-alas e se emocionou ao cruzar a Sapucaí. O ator José Loreto interpretou o diabo na comissão de frente e destacou o caráter cômico da apresentação:
“O tema é esse, embarque nessa emoção aqui, bota os demônios para fora, esses do carnaval, esses fantasiosos, esses que brincam”.
A escola trouxe personagens inspirados no cinema e na literatura infantil para transformar o medo em diversão.
Disputa acirrada e expectativas para a apuração
O carnaval de 2025 trouxe uma novidade: os desfiles do Grupo Especial passaram a ser divididos em três noites. No domingo (2), desfilaram Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Unidos do Viradouro e Mangueira.
Na última noite, nesta terça-feira (4), será a vez de Mocidade Independente, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Portela.
A campeã do carnaval será anunciada na apuração de quarta-feira de cinzas (5), quando também será conhecida a escola rebaixada para a Série Ouro.
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