O cenário global foi impactado nesta semana por dois acontecimentos de grande repercussão: o agravamento da crise democrática na Venezuela, com a exclusão de opositores do processo eleitoral, e o novo relatório da ONU, que alerta para o aumento de deslocamentos ambientais provocados pelas mudanças climáticas. Os dois temas revelam fragilidades nas estruturas democráticas e nos sistemas de proteção ambiental e humanitária no planeta.
Venezuela: opositores são impedidos de registrar candidatura
A corrida presidencial na Venezuela sofreu novo abalo com a confirmação de que os principais nomes da oposição não conseguiram registrar suas candidaturas. A Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão que reúne forças contrárias ao governo de Nicolás Maduro, denunciou que o sistema eletrônico do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) apresentou falhas deliberadas, impedindo o registro da candidata Corina Yoris — indicada por María Corina Machado, inabilitada desde 2023.
Organizações como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional classificaram o episódio como mais um reflexo do autoritarismo eleitoral vigente no país. Estados Unidos, União Europeia e Brasil emitiram notas exigindo garantias mínimas de lisura e participação plural nas eleições, marcadas para 28 de julho de 2025.
“Estamos diante de uma simulação democrática. O governo mantém o controle do sistema eleitoral e impede qualquer possibilidade real de alternância de poder”, afirmou o cientista político venezuelano Luis Vicente León, em entrevista à rede NTN24.
A exclusão da oposição levanta dúvidas sobre o futuro do acordo de Barbados, firmado em 2023, que previa garantias democráticas em troca da flexibilização de sanções econômicas. A não realização de eleições livres pode resultar na retomada de bloqueios internacionais e no agravamento do isolamento diplomático de Caracas.
ONU alerta para aumento de deslocamentos ambientais
Em relatório divulgado nesta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para o crescimento acelerado dos deslocamentos ambientais no planeta, resultado direto das mudanças climáticas. Segundo o documento da Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 33 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas em 2023 devido a enchentes, secas, incêndios florestais e tempestades extremas.
O relatório destaca que os países do Sul Global são os mais afetados, com destaque para regiões da Ásia, África e América Latina. Entre os casos mais críticos estão o Paquistão, com milhões de desabrigados após inundações históricas, e a região amazônica, que sofre com secas prolongadas e queimadas.
“Os deslocamentos ambientais já não são um fenômeno do futuro. Eles estão ocorrendo agora e exigem políticas públicas urgentes, inclusive nos países em desenvolvimento”, afirmou Amy Pope, diretora da OIM.
Impacto no Brasil: migração climática pode aumentar
No Brasil, os impactos já são perceptíveis. Especialistas apontam para o avanço do mar em cidades do litoral nordestino, além da ameaça de desertificação no Semiárido. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que áreas da Caatinga e do Cerrado podem perder até 30% da vegetação nativa até 2050, caso o ritmo atual de aquecimento global não seja freado.
O climatologista Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências, afirma que o Brasil precisa se preparar para lidar com migrações internas e impactos socioeconômicos severos nos próximos anos:
“A crise climática vai forçar deslocamentos massivos dentro do território nacional. Precisamos antecipar políticas de adaptação urbana, abastecimento hídrico e segurança alimentar para as populações mais vulneráveis.”
Autoritarismo e clima: uma combinação perigosa
A cientista política Letícia Ramos, do Instituto Sul-Americano de Governança, alerta para a correlação entre regimes autoritários e degradação ambiental:
“Governos que controlam instituições democráticas tendem a negligenciar o meio ambiente e os direitos humanos. A Venezuela é um exemplo de como crises políticas e ambientais se combinam para gerar instabilidade regional.”
Democracia, clima e deslocamentos em foco
As eleições venezuelanas e o alerta da ONU sobre os deslocamentos ambientais demonstram que a agenda internacional de 2025 será marcada por tensões entre sustentabilidade, direitos humanos e governança democrática. A interdependência entre política, clima e migração impõe aos países uma nova responsabilidade coletiva, que exige atuação coordenada e baseada em evidências científicas e no respeito à dignidade humana.
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