O uso de drogas entre crianças e adolescentes no norte do Tocantins foi tema de uma audiência pública realizada na Câmara Municipal de Filadélfia na última segunda-feira (5). O evento contou com a participação do promotor de Justiça Pedro Jainer, titular da 14ª Promotoria de Justiça de Araguaína, que apresentou um panorama detalhado sobre os impactos físicos, mentais e sociais da dependência química na juventude.
Sob o tema “Drogas: Ilusão, Destruição e Combate – A Responsabilidade de Todos Nós”, a apresentação do promotor incluiu dados, explicações técnicas e um alerta contundente sobre o avanço silencioso do tráfico e o papel da sociedade no enfrentamento do problema.
Panorama do vício: ilusão, aprisionamento e colapso familiar
Durante sua fala, Pedro Jainer explicou os efeitos neurológicos e comportamentais das drogas, lícitas e ilícitas, detalhando os impactos como surtos psicóticos, depressão severa, danos cerebrais e perda da autonomia psíquica. Segundo ele, o ciclo da dependência frequentemente começa com a curiosidade e a experimentação, mas logo evolui para um aprisionamento compulsivo, difícil de romper sem ajuda especializada.
“A dependência química leva à desumanização, à alienação da realidade e à desestruturação completa da vida do jovem e de sua família”, afirmou.
Tráfico local e a cultura do medo
O promotor também abordou a face violenta e silenciosa do tráfico de drogas em cidades pequenas como Filadélfia. Mesmo sem ameaças explícitas, o medo se instala.
“As pessoas se sentem coagidas mesmo quando não há ameaça direta. O simples fato de todos se conhecerem, saberem onde moram, cria um ambiente de intimidação que dificulta denúncias e investigações”, explicou.
Esse contexto, segundo ele, agrava a impunidade e expande a atuação de grupos criminosos, que cooptam adolescentes “por migalhas”, colocando-os como vendedores e olheiros.
Impacto nas escolas e evasão precoce
A audiência também debateu os efeitos da presença das drogas no ambiente escolar. O promotor relatou que há casos frequentes de evasão de jovens que abandonam os estudos para consumir ou traficar, além de episódios de violência que afetam diretamente professores, funcionários e outros estudantes.
“É preciso garantir que a escola seja um ambiente protegido. Quando o medo entra na sala de aula, o futuro se apaga”, alertou.
Prevenção como política pública essencial
Ao reforçar o papel institucional do Ministério Público, Pedro Jainer destacou que o combate ao tráfico e ao uso de drogas não se resume à atuação judicial, mas exige ações conjuntas com a sociedade civil, poder público e forças de segurança.
“O MPTO está à disposição para apoiar campanhas educativas, participar da formulação de políticas públicas e atuar lado a lado com a Polícia Militar e a Polícia Civil. A repressão sozinha não resolve — a prevenção é o único caminho realmente eficaz”, concluiu.
Presença familiar, oportunidades e educação como antídotos
Encerrando sua fala, o promotor defendeu o fortalecimento da estrutura familiar e da rede de proteção social como ferramentas fundamentais para evitar que crianças e adolescentes ingressem no mundo das drogas.
“Não é só sobre combate. É sobre oportunidades, acolhimento, diálogo. Precisamos criar caminhos para que os jovens escolham a vida”, disse.
A audiência foi encerrada com a construção de uma proposta coletiva de mobilização regional, com previsão de reuniões entre escolas, conselhos tutelares, instituições religiosas e o Ministério Público nas próximas semanas.
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